No dia em que completam-se sete anos do incêndio que destruiu o segundo piso do Mercado Público de Porto Alegre, o centro de abastecimento mais antigo da cidade se prepara para mais um fechamento de portas. Nesta segunda-feira (6), as lembranças do renascimento do Mercado tiveram de ser substituídas pela organização das medidas práticas que deverão ser adotadas nos próximos 15 dias e a adequação ao novo decreto municipal que determina o fechamento do local ao público externo. A partir desta terça-feira (7), o funcionamento dos 106 estabelecimentos do complexo estará limitado ao esquema de tele-entrega, e com opção de pague e leve apenas às lojas com acesso externo.
Surpreendida pela determinação do Executivo municipal, a Associação do Comércio do Mercado Público Central (Ascomepc) lamenta o fato de a prefeitura da Capital ter incluído o centro de abastecimento no mesmo
critério estabelecido para shopping center e demais comércios, e defende que a questão poderia ter sido encaminhada de outra forma, com maior limitação da circulação de público e controle extra aos acessos, em respeito à história do local, que funciona há 150 anos.
Segundo a presidente da Ascomepc, Adriana Kauer, os permissionários do Mercado vinham cumprindo todas as exigências do município e adotando cuidados ainda maiores aos determinados, como instalação de aparelhos com dispenser de álcool gel via acionamento por pedal, controle redobrado com a higienização de toda a área, disponibilização de pias e sabonete líquido, além do monitoramento das duas entradas disponíveis (na avenida Borges de Medeiros e no Largo Glênio Peres), com vigilância de funcionários da própria prefeitura. "Por todas essas medidas tomadas, para nós é bastante pesaroso o que está acontecendo. Era uma demanda bastante grande que os permissionários vinham cumprindo para se adequar às medidas e manter os estoques sem ter de reajustar preços, por isso, é muito ruim a nossa inclusão nesse critério de fechamento", destaca a dirigente.
Adriana ressalta que dos 106 estabelecimentos do complexo, 25 são da área de alimentação, entre restaurantes, padarias, lanchonetes e a banca de sorvete, e vinham se equilibrado para manter o atendimento, mas ressalta que os clientes do Mercado Público, apesar de muito fieis, não se adequam ao sistema de delivery e take away. "Estamos trabalhando desse jeito nos últimos meses, mas nem todo mundo quer ou está habituado a essa forma de compra. Nosso público gosta de circular por aqui, o que já não vinha acontecendo, mas é lamentável termos de fechar", comenta.
De acordo com levantamento feito pela Associação, cerca de 50% das lojas e bancas irão trabalhar com tele-entrega a partir desta terça. A determinação de fechamento por duas semanas também refletirá na perda de mercadorias perecíveis dos açougues, peixarias, padarias e fruteiras, o que agravará ainda mais os prejuízos registrados nos últimos 100 dias, entre 50% e 80% de queda de faturamento geral por conta da pandemia. "A compra aqui é rápida e objetiva, ao contrário dos supermercados, e há diversos pontos de venda, o que evita formação de filas. Por isso, acredito que não precisávamos passar por esse fechamento, ainda mais por oferecermos serviços essenciais", ressalta Adriana.
Público fez fila para as compras nos estabelecimentos do Mercado Público, no sábado (4)
Segundo a prefeitura, os vigilantes do complexo foram proibidos pelo sindicato da categoria de fazer a aferição da temperatura e controle do fluxo das pessoas, o que pesou na decisão de fechar o Mercado. No entanto, a Ascomepc diz que os mesmos funcionários poderiam reforçar o controle da entrada de clientes, sem prejudicar a segurança sanitária, já que medidas de distanciamento estavam mantidas de acordo com a lei.
No sábado (4), o movimento registrado no local foi acima do esperado, e clientes apreensivos chegaram a
fazer fila para entrar e abastecer as sacolas. Grande movimentação também ocorreu ao longo desta segunda-feira, às vésperas do fechamento determinado pela prefeitura.