A nova portaria publicada pelo governo do Estado com regras para o setor da indústria durante a pandemia de coronavírus mostra que o setor de carnes e derivados enfrenta a tarefa de manter a produção de alimentos em um segmento que depende de grande volume de mão de obra presencial em momento de isolamento social. O desafio, que ficou latente
após a interdição da JBS, em Passo Fundo, onde 48 funcionários já foram comprovadamente contaminados, está levando à união de esforços de trabalhadores, empresas, sindicatos e poder público.
Reuniões entre entidades representativas do setor com órgãos públicos como Secretaria da Saúde e a Superintendência Regional do Trabalho do Ministério da Economia deram origem ao documento com novas normas de trabalho para a atividade.
Além do JBS, a unidade do frigorífico Minuano, em Lajeado, também enfrentou problemas neste mês, e assinou Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o Ministério Público do Trabalho (MPT), mas não chegou a ser interditado, como ocorreu com o JBS.
Um dos maiores desafios, explica o diretor-executivo da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav), Eduardo Santos, é o distanciamento entre os trabalhadores. Como o processo de produção é feito em muitas etapas, esse distanciamento elevado para dois metros levaria automaticamente à redução da produção. Situação que é agravada pelo afastamento necessário de pessoas dos grupos de risco, como idosos e gestantes, diz Santos.
“Saúde e vida em primeiro lugar, claro. Mas no Paraná foi autorizado o distanciamento até inferior a 1 metro, por exemplo, com uso ainda mais reforçado de equipamentos de segurança, como máscaras, luvas e higienização”, explica o executivo.
Por normas sanitárias já adotadas tradicionalmente, avalia Santos, o setor já atuava com regras mais rígidas do que outras atividades tradicionais, mas é impactado pelo alto volume de trabalhadores. Alguns frigoríficos no Rio Grande do Sul empregam até 3 mil pessoas, ressalta o representante da Asgav. Santos pondera também que o setor já ampliou as opções de transporte de empregados até as fábricas, limpeza de refeitórios e banheiros.
“É uma grande dificuldade, pois somos um setor essencial, que produz um alimento que chega a famílias de todas as classes e tem compromissos, com a sociedade e com seus trabalhadores também”, resume Santos.
Para Zilmar Moussalle, diretor-executivo do Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados do Estado (Sicadergs), o segmento já adotaria regras rígidas de controles, que, se seguidas à risca, minimizariam significativamente contágios desta e do outras doenças. Além de precisar preservar seus trabalhadores, diz Moussalle, os sistemas sanitários são rigorosos inclusive como uma exigência para não colocar em riscos as exportações. “Posso assegurar que temos o máximo interesse em garantir a saúde de todos os trabalhadores”, destaca Moussalle.
Presidente do Sindicato das Indústrias de Produtos Suínos (Sips), Rogério Kerber, diz que diferentes reuniões do setor com serviços públicos de saúde nos últimos dias foram focados em estabelecer linhas de comunicação mais estreitas entre as empresas e o poder público para identificar e conter rapidamente qualquer problema.
“Vamos ter análises e quantificações mais diárias de trabalhadores com sintomas, não apenas de coronavírus, mas sintomas gripais em geral. Conhecendo melhor a amplitude deste quadro podemos traçar estratégias e atenção maiores e ate ampliando estruturas de atendimento de saúde a estes funcionários”, explica Kerber.