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relações internacionais

- Publicada em 14 de Novembro de 2019 às 03:00

Fortalecimento do Brics passa por mais intercâmbios culturais

Nehru disse que feiras de livros bodem ser bons canais de integração do bloco

Nehru disse que feiras de livros bodem ser bons canais de integração do bloco


THIAGO COPETTI/ESPECIAL/JC
Thiago Copetti
De Brasília
De Brasília
Um documentário apresentado pela primeira vez nesta quarta-feira (13), em Brasília, sintetiza como as pessoas e a cultura, em suas diferentes formas, podem aproximar países e ajudar no desenvolvimento e na integração dos cinco países que compõem o bloco econômico denominado Brics.
Reunindo as histórias de cinco meninos e meninas do Brasil, da Rússia, da Índia, da China e da África do Sul, o documentário Crianças e Glória abriu o Fórum Sobre Intercâmbios Culturais e Pessoais do Brics e foi inspiração para diferentes debates ao longo de todo o dia.
Representando o Brasil na produção audiovisual, Tiago Arakilian retratou a trajetória de Iago Nogueira na busca por ser tornar jogador profissional de futebol. O esporte, uma das ferramentas da chamada diplomacia People-to-People e que independe de governos, foi a linha condutora de todas as narrativas do documentário. E, no processo de integração dos trabalhos dos cinco diretores da produção, Arakilian visitou a China e retrata com sua experiência a distância de visões que ainda separam bloco econômico. Talvez até mais do que as distâncias geográficas, afirma o diretor.
“Minha maior surpresa ao chegar lá foi com a modernidade da China. Apesar de toda a tecnologia que os chineses produzem, nossa visão sobre o país ainda remete a uma nação bastante agrícola e não tão prospera como ela realmente é”, avalia o cineasta, que defendeu no fórum a necessidade de continuidade de produções culturais e comerciais entre os cineastas do bloco.
A imagem distorcida não ocorre apenas quando se fala do gigante asiático, ressalta Arakilian. A imagem distorcida ou antiquada se repete na visão que a maioria das pessoas de cada um dos países do bloco têm dos outros integrantes. Acelerar o processo de integração cultural do Brics para romper essas barreiras foi o que permeou o fórum e as muitas propostas de trabalho cultural que podem ser desenvolvidas conjuntamente. Isso tudo sem esquecer do foco econômico, colaborativa e até mesmo tecnológico.
Ao mostrar como a diplomacia também é uma ação individual e não-governamental, a proposta do fórum é mostrar como as relações entre seres humanos e a aproximação cultural pode promover o desenvolvimento do bloco. As propostas apresentadas incluíram desde a intensificação turística entre os cinco países, o aumento de intercâmbio entre pesquisadores e cientistas e até a expansão das trocas literárias, entre outras.
Uma tragédia cultural brasileira vivida recentemente foi citada como exemplo de integração possível para prevenir danos ao patrimônio histórico. Vice-diretor de Administração Nacional do Patrimônio Cultural da China, Hu Bing, afirmou que a troca de experiências na gestão de museus poderia ter ajudado a evitar incêndio no Museu Nacional, no Rio de Janeiro, em 2018.
“A China tem grandes tecnologias de prevenção de incêndios e de cuidado com um imenso patrimônio histórico, reconhecido pela Unesco. Podemos nos aproximar na gestão do patrimônio cultural para evitar mais tragédias culturais como esta”, exemplificou Hu.
O representante chinês também destacou o turismo como uma ferramenta de aproximação e integração do bloco. Citou as viagens feitas mundialmente por 170 milhões de chineses todos os anos, gerando emprego e renda, em um negócio que depende fundamentalmente da boa imagem que as pessoas fazem de outras nações.
Para o presidente do Centro de Estudos do Leste Asiático da Universidade de Jawaharlal Nehru, da Índia, Srikanth Kondapalli, feiras de livros também podem ser bons canais para maior integração do bloco. A tradução de mais obras e escritores para os diferentes idiomas do bloco é tanto fator de aproximação cultural e pessoal quanto um negócio a ser explorado.
“Assim como a literatura, a temos que nos aproximar por meio da indústria audiovisual, como estamos fazendo com o documentário aqui lançado hoje”, defendeu o pesquisador indiano.
Pesquisadora do Centro de Estudos da em Ciências Humanas da África do Sul, Thandeka Dabata exemplificou como o intercâmbio agrícola, com foco em pequenos produtores rurais, também é um bom exemplo de como a integração e um canalizador de crescimento econômico. Em sua fala, destacou que após diferentes intercâmbios e vivências na China, agricultores da África do Sul passaram a adotar mais o modelo cooperativista, ampliando seus ganhos.
“Fizemos uma troca agrícola, mas sob uma perspectiva cultural. Temos 2 milhões de pequenos agricultores que hoje, com mais foco em cooperativas de trabalho, estão ajudando no desenvolvimento de suas regiões e, portanto, a economia nacional”, afirmou Thandeka.
A diversidade cultural dos cinco países que formam o Brics, que inicialmente poderia ser visto com um fator limitante, é na verdade uma das grandes riquezas do bloco, sintetizou Evandro Menezes de Carvalho, coordenador do Núcleo de Estudos Brasil-China da Fundação Getulio Vargas (FGV).
“O repertório cultural extraordinário do Brics precisa ser melhor explorado, e talvez nos aponte soluções para diferentes problemas atuais que o mundo enfrenta”, resumiu Carvalho.
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