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Economia

- Publicada em 19 de Setembro de 2019 às 03:00

Governo altera oferta de ações do Banrisul e gera expectativa sobre rumo da operação

Comunicado sobre as mudanças está em fato relevante publicado pelo banco nesta quarta

Comunicado sobre as mudanças está em fato relevante publicado pelo banco nesta quarta


MARCELO G. RIBEIRO/JC
Patrícia Comunello
Os últimos movimentos do governo estadual para a venda do maior volume de ações do Banrisul até agora provocaram críticas e até dúvidas sobre a manutenção do negócio.
Os últimos movimentos do governo estadual para a venda do maior volume de ações do Banrisul até agora provocaram críticas e até dúvidas sobre a manutenção do negócio.
Entre as razões, estão o preço que teria sido ofertado até agora, no limite do valor patrimonial da ação, abaixo de R$ 19,00, e baixa demanda do mercado. Até a restrição da oferta, a um número limitado de investidores profissionais - com R$ 10 milhões para aplicar -, foi questionada. Por que o Estado não colocou os 96 milhões de ações com direito a voto à venda para qualquer cidadão?    
O governo trouxe um fato novo nessa quarta-feira (18), ao comunicar, por meio de fato relevante do Banrisul, que estava reduzindo a oferta de ações ordinárias e ainda adiando e um dia o fechamento da operação, prevista para esta quinta-feira.
O novo calendário prevê que o Conselho Diretor do Programa de Reforma do Estado (CODPRE), órgão do governo que decide sobre a venda, vai se reunir nesta quinta-feira (19) para encerrar o processo de apresentação de propostas de investidores e fixação do preço por ação, conforme o comunicado. Neste momento, o conselho pode inclusive definir por mudanças na oferta, incluindo cancelar, caso os preços não atendam a expectativa.
A negociação das ações será nesta sexta-feira (20), feriado no Rio Grande do Sul, mas que é dia útil na bolsa de valores, a B3, em São Paulo. A liquidação dos negócios está marcada para segunda-feira (23).
O fato relevante diz que a quantidade de papéis passou de 96.323.426 para 71.350.686, ficando facultado o teto inicial. O comunicado oficializa ao mercado a decisão do CODPRE, que foi referendada pelo governador Eduardo Leite. O conselho se reuniu na teçRa-feira (17) para dar o novo rumo à alienação.  
Especialistas de mercado que conhecem bem o banco e até quem se colocou de forma crítica sobre a venda indicam que o potencial de arrecadação ficaria menor, mas poderia dar conta do que o governo almeja. A ação ordinária está em quase R$ 24,00 na bolsa, mas tem baixa liquidez, não é parâmetro para a negociação. O valor patrimonial é de R$ 18,40 ou R$ 19,00, com dados do último balanço, defende o ex-presidente do banco, candidato ao governo em 2018 pelo partido Novo e autor da ação popular contra a alienação, Mateus Bandeira. Para ele, o melhor seria privatizar, o que obteria maior retorno.
"Está acontecendo tudo que imaginava. Primeiro era um péssimo negócio, o governo não fez estudo de avaliação econômica, e usou a justificativa do bookbuilding", elenca Bandeira. "O mercado, sabendo que o Estado quer vender por volume maior do que absorve, derruba o preço de ação", conclui o ex-candidato ao governo. Bandeira avalia que órgãos como Ministério Público Estadual (MP) e Tribunal de Contas do Estado (TCE) deveriam agir diante da possibilidade de repasse das ações por preço muito baixo. Deputados da oposição, independentes e da base, como Sebastião Melo (MDB), lançam na manhã desta quinta-feira um manifesto contra a venda. 
Uma fonte que pede para não ser identificada vê diversos problemas no processo de oferta. Um deles é o momento do mercado acionário em bolsa que não entusiasma. Além disso, o pouco tempo para fazer a operação, a falta de uma definição da estratégia da nova direção, que assumiu em julho sob o comando de Claudio Coutinho, para o banco, e de perspectivas de entrega de valorização futura podem ter pesado. Dados do balanço do segundo trimestre, como carteira de crédito e queda de spread, indicam fragilidade da operação. "O banco não se preparou para ir para a rua, e os analistas percebem isso", diz a fonte. 
Sobre ser ou não o melhor momento, o professor de Finanças e Governança na Escola de Administração da Ufrgs e da Fundação Dom Cabral Jairo Procianoy lembra o banco estuda a possibilidade de vender desde o governo anterior. "A operação não é feita de forma açodada. Se agora é o melhor momento ou depois, não vamos saber", pondera Procianoy. 
O analista-chefe da Geral Asset, Carlos Müller, acredita que a operação acabará sendo concretizada mesmo com este ambiente. "O preço dificilmente vai vir abaixo do que já receberam. O Estado está precisando de dinheiro e a quantidade que venderem deve ser suficiente para cobrir o déficit de um mês", argumenta Müller.
Bandeira questiona por que o governo vai vender para investidores restritos por baixo preço em vez de ofertar a "todos os gaúchos". A opção do Estado foi pela instrução 476 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), para oferta por esforços restritos, que limita a compra a até 75 investidores com caixa cima de R$ 10 milhões, chamados de profissionais.
O ex-presidente do banco cita que a alternativa era a instrução 400 da CVM, com oferta a investidores em geral, pessoa física ou jurídica. Procianoy afirma que não tem como garantir qual alcance renderia mais. O governo não comentou sobre a opção de oferta, alegando sigilo da operação. 
O governo lançou a nova oferta no dia 10. Na Assembleia Legislativa, movimentação com sindicatos de servidores busca garantir que recursos sejam usados para colocar em dia a folha. Por outro lado, um dos deputados da base governista protocolou uma PEC para retirar da Constituição Estadual a exigência de plebiscito para privatizar o banco.
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