Na semana decisiva para a quarta
venda de ações em poder do Estado no Banrisul em um ano e meio, o banco trouxe a público a informação de que será analisada a criação de um programa de Units para papéis preferenciais e ordinários. Em fato relevante divulgado no domingo (15) na área de relação com investidores do site da instituição, a diretoria oficializa a solicitação do governo, como acionista majoritário, para que o Conselho de Administração convoque uma Assembleia Geral Extraordinária para deliberar sobre a operação.
A reunião servirá para a análise e decisão sobre "facultar aos acionistas do Banrisul a formação voluntária de Units representativas de ações preferenciais classe B e ações ordinárias do Banrisul", diz o texto. O comunicado esclarece que a assembleia só deverá ser convocada após a oferta subsequente de ações (follow on), prevista para ocorrer nesta quinta-feira (18).
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A apresentação de proposta de preço e volume desejado por investidores qualificados (com capital acima de R$ 10 milhões), únicos que podem se candidatar à aquisição, sobre a oferta de 96.323.426 ações ordinárias pode ser feita até esta terça-feira (17). A expectativa é de que a venda possa render mais de R$ 2 bilhões. Tudo vai depender do preço ofertado pelo mercado. Não foi colocado limite mínimo de valor por ação.
Nesta segunda-feira, a ação BRSR3 (ordinária) fechou cotada a R$ 24,50. Se este fosse o valor para as mais de 96 milhões de ações, o Estado arrecadaria R$ 2,3 bilhões. Será a segunda alienação de ações em poder do Estado pelo governo de Eduardo Leite. A
primeira foi em abril, com oferta de 2.056.962 papéis da ação PNB (preferencial), que renderam R$ 49,5 milhões. A ação foi vendida a R$ 24,10. Nessa alienação, o governo se desfez do que tinha de PNB.
No governo de José Ivo Sartori, foram duas vendas em 2018, somando R$ 536,1 milhões entre um lote pequeno de ordinárias e lote maior de preferenciais. O Conselho Diretor do Programa de Reforma do Estado (CODPRE) aprovou a venda da maior fatia de ordinárias até agora no dia 9. O banco divulgou fato relevante sobre a medida no dia 10.
O banco diz que a criação do programa depende da autorização de órgãos competentes, por isso não tem como "assegurar que o Programa de Units será implementado". Este tipo de operação é usado por outras companhias listadas, como Santander e BTG Pactual. A combinação entre preferenciais e ordinárias busca elevar a liquidez por meio de maior negociação dos papéis na bolsa.
O analista-chefe da Geral Asset, Carlos Müller, disse que ainda não é possível analisar o impacto de um eventual programa de Units. "É difícil avaliar se é bom ou ruim", observou Müller, que considera que vai pesar na operação a proporção de preferenciais e ordinárias. "Depois disso, é possível avaliar qual é a intenção da operação", acrescenta o analista-chefe da Geral. O programa é usado para dar maior liquidez e negociabilidade às ordinárias.Müller explicou ainda que, na hora de distribuir dividendo, o acionista recebe pelo papel ordinário e pelo preferencial.
No caso do Banrisul, a ação com maior movimentação é a preferencial PNB (BRSR6), que fechou em R$ 21,39, queda de 3,21% nesta segunda. A valorização no ano é de 3,22%. A ON (BRSR3), que será ofertada pelo Estado, acumula alta de 19,3% em 2019, mas é caracteriza pela baixa liquidez. O Estado vai manter o limite de 50% mais uma ação ordinária (com direito a voto), que é o que a lei prevê para não perder o controle acionário.
Para vender maior participação ou tudo, o governo precisa do aval da população em um plebiscito e depois da aprovação na Assembleia Legislativa. Leite tem dito que não vai privatizar o banco. O deputado estadual Sérgio Turra (PP), que integra a base do governo,
protocolou uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para retirar a exigência de plebiscito para venda da instituição e teve a proposta subscrita por 24 parlamentares.