A segunda-feira começou com uma má notícia para a economia do Rio Grande do Sul e para centenas de trabalhadores. A Duratex fechou a fábrica da marca Deca, que fabricava louças para banheiros, situada em São Leopoldo, no Vale dos Sinos, demitindo quase 500 pessoas.
Os 480 empregados ficaram sabendo das demissões ao chegarem para trabalhar no começo da manhã desta segunda. Eles foram recepcionados pelo comunicado de que teriam de fazer a rescisão dos contratos. Em nota, a Duratex informou que "não tem como precisar o número exato de desligamentos, porque parte dos colaboradores poderá ser aproveitada em outras operações”.
Trabalhavam na fábrica funcionários com mais de 25 e 30 anos de serviço. A unidade tem mais de 40 anos de atividade na cidade e era uma das maiores no setor no Rio Grande do Sul. A medida reforça a condição adversa no mercado de trabalho. Em maio, último dado oficial disponível do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) , o
Rio Grande do Sul liderou as dispensas com carteira assinada.
Era ainda noite quando os empregados chegaram à unidade e encontraram os portões fechados. A decisão da companhia de capital aberto, que faz parte da holding Itaúsa Investimentos (controladora do Banco Itaú), não era esperada, diz o secretário-geral do Sindicato dos Trabalhadores da Indústrias de Vidros de Porto Alegre e Região, que cobre a base de São Leopoldo, Renato Reus dos Santos. Representantes da entidade sindical foram ao local, na avenida das Indústrias, no bairro Fazenda São Borja.
"O pessoal da manutenção me acordou às 5h com a notícia", comentou Santos. Já havia desconfiança sobre eventual impacto na operação devido à forte redução da produção, mas a sede da companhia negava que poderia ser fechada, diz o secretário-geral. "Depois da reforma trabalhista, perdemos a possibilidade de negociar e fazer um acordo quando ocorre demissão em massa como neste caso. Agora não estão vendendo, fecham e acabou", resume Santos.
Nesta terça-feira (2), um representante da empresa virá de São Paulo para conversar com a entidade sindical, diz o dirigente. "Vamos tentar amenizar o impacto social, afinal, para cada demitido, pode ter uma ou mais pessoas ligadas", cita. A ideia do sindicato é tentar garantir plano de saúde e cestas básicas nos próximos meses.
A Duratex divulgou nota sobre o encerramento das atividades alegando que "o fechamento da unidade industrial de louças na cidade de São Leopoldo, é importante para a consolidação industrial e para manter a competitividade no segmento". A companhia justifica ainda que a unidade foi escolhida porque apresentava queda no uso da capacidade instalada. "O volume de produção será redistribuído entre as outras quatro unidades de louças da Deca em João Pessoa (PB), Cabo de Santo Agostinho (PE), Queimados (RJ) e Jundiaí (SP)", acrescenta a nota.
Sobre a forma como ocorreram as dispensas, a empresa informou que tenta "minimizar ao máximo os efeitos da decisão, realocando pessoas conforme suas experiências e pretensões de carreira". "Todo o processo está sendo conduzido com respeito, e o suporte necessário aos colaboradores impactados", assegura, indicando que "os colaboradores poderão contar com uma consultoria especializada para recolocação profissional".
A Duratex é uma companhia de capital aberto, com ações na bolsa de valores e cujo controlador é a Itaúsa (Investimentos Itaú S.A), que tem controle também do banco Itaú Unibanco, maior instituição financeira privada do País.
Em nota oficial, a prefeitura de São Leopoldo reforçou a surpresa com o fechamento da unidade. Segundo o município, ações para ampliação e fomento do distrito industrial têm gerado reflexos positivos. "Tanto que os últimos dados do Caged apontam São Leopoldo na liderança de geração de empregos na região", pontuou a nota. O fim das atividades é atribuída a dificuldades da economia do País e "desequilíbrio e da concorrência desigual tributária". A prefeitura manifestou solidariedade "com os trabalhadores e trabalhadoras que serão impactados pelo fechamento".
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