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Transportes

- Publicada em 15 de Março de 2019 às 01:00

Apps de motoristas aumentam lucro de locadoras na bolsa

Localiza, que criou canal de atendimento exclusivo para condutores parceiros, teve alta de 17% no ganho

Localiza, que criou canal de atendimento exclusivo para condutores parceiros, teve alta de 17% no ganho


Divulgação Localiza
Visto como uma ameaça a princípio, o avanço do transporte por aplicativos no Brasil abriu um novo segmento para locadoras de veículos e ajudou a engordar o balanço dessas empresas, que têm apresentado ainda bons desempenhos na bolsa.
Visto como uma ameaça a princípio, o avanço do transporte por aplicativos no Brasil abriu um novo segmento para locadoras de veículos e ajudou a engordar o balanço dessas empresas, que têm apresentado ainda bons desempenhos na bolsa.
O lucro líquido da Localiza, a maior do mercado, saltou 17% em 2018, para R$ 659 milhões, informou a companhia, dando largada à temporada de divulgação de resultados do setor. Em 2018, suas ações avançaram 35%. Os papéis dos pares Unidas e Movida valorizaram 96% e 22%, respectivamente. Como comparação, o Ibovespa, índice que reúne as ações mais negociadas, subiu 15%.
As locadoras não divulgam a participação dos motoristas por aplicativos em suas operações, mas a equipe da Mapfre Investimentos estima que algo próximo a 20% do segmento de aluguel de carros esteja direcionado para esse cliente.
A Localiza criou, no ano passado, um canal de atendimento exclusivo para motoristas parceiros, o Localiza Driver. Ele permite que o valor do aluguel do veículo seja descontado diretamente dos ganhos obtidos com as corridas. "Estudamos muito a forma como eles pensam e entendemos que precisamos oferecer planos para cada necessidade", diz Bruno Lasansky, diretor da divisão de aluguel de carros da Localiza.
Na Movida, o segmento fica em um dígito da receita, de 7% a 9%, de acordo com Renato Franklin, presidente executivo da locadora. "O setor de locação como um todo tem apresentado fundamentos muito sólidos, e os aplicativos ajudam. São 20 pessoas por dia entrando em um carro e descobrindo com o motorista como aluga, quanto custa", afirma.
A locadora também oferece condições especiais para esses profissionais, como a contratação de quilometragens mais altas, e tem parceria com o Lady Driver, aplicativo para mulheres. "Os motoristas de aplicativos são um segmento sobre o qual as locadoras começaram a falar mais recentemente, embora eles já tenham contribuído para um crescimento relevante e exista potencial grande nesse canal", diz Bruna Pezzin, analista da XP. "O Brasil é um dos principais mercados da Uber hoje, e nem todos esses motoristas alugam carro ainda." A companhia norte-americana, a principal para aplicativos do tipo, tem cerca de 3 milhões de motoristas cadastrados no mundo - mais de 600 mil no Brasil, onde opera desde 2014.
Os aplicativos de motoristas ganharam impulso na esteira da recessão, que empurrou profissionais registrados para o trabalho autônomo. "Quando a Uber começou a tomar corpo, pensou-se que poderia ser um risco para as locadoras, porque as pessoas deixariam de alugar carro para usar o aplicativo", diz Pedro Bruno, analista do Santander. "Depois, percebeu-se que seria o contrário: a empresa traria oportunidades, já que os motoristas alugariam."
Há sete meses, Edvaldo das Neves, 55 anos, alugou um carro da Movida para trabalhar via Uber. Ele está cadastrado na plataforma como motorista há um ano e meio e fez 4,5 mil corridas. "Sempre trabalhei em multinacionais, na parte comercial, mas depois dos 40 anos você fica fora do perfil. Tenho um bom currículo, mas não consegui me recolocar", conta. Segundo ele, o aluguel diário do carro sai por R$ 50,00, e a sua meta é faturar com corridas R$ 250,00 por dia.

Companhias buscam crescimento sustentável

Apesar dos ganhos trazidos pelos motoristas de aplicativos, analistas apontam que as locadoras buscam um crescimento sustentável no segmento. "Muitos motoristas dividem o aluguel do veículo. O carro roda e nunca para. As empresas alugam, mas ficam de olho no limite de quilometragem. Muitas vezes, oferecem a troca do veículo pelo mesmo preço", diz Pedro Bourroul, analista da Mapfre.
Os apps trouxeram uma demanda paralela. "As pessoas trocaram o carro pelo app no dia a dia, mas, quando têm de fazer um deslocamento maior, alugam um veículo", diz Paulo Miguel Junior, presidente do conselho nacional da Abla (associação das locadoras). Ele afirma que o setor foi resiliente à crise, em parte, porque empresas de outras áreas precisaram cortar gastos e terceirizaram frotas - outro segmento em que as locadoras têm crescido.
Ganho de escala, consolidação da concorrência - a Locamerica comprou a Unidas na virada para 2018 e assumiu a marca - e queda nos preços de locação também ajudam a explicar o impulso no setor. "Alugar um carro está, em termos nominais, 15% mais barato que há 10 anos. A única forma de o serviço ser rentável é ganhando escala", diz o diretor de aluguel de veículos da Unidas, Carlos Sarquis.
O bom desempenho das locadoras gera efeito também nas montadoras, que viram as vendas diretas subir, embora o segmento esprema margens. Em janeiro de 2018, as vendas diretas representavam 27% dos emplacamentos de automóveis leves, segundo a Fenabrave (representante das distribuidoras de veículos). Em dezembro, já eram 37%. "A capacidade ociosa das montadoras ainda está alta. Enxergamos, no longo prazo, a possibilidade de continuar trabalhando próximo delas", diz Franklin, da Movida.
A Abla espera mais um ano bom em 2019, principalmente se o reaquecimento da economia se confirmar, "porque o setor ainda é pequeno", diz Miguel Junior. Em 2017, mais recente dado da associação, as locadoras reuniam 709 mil carros. "Os apps são uma via de crescimento importante, mas todos os segmentos têm potencial com a volta da economia", diz Pezzin, da XP.

Startup brasileira fatura 30 milhões em 2018 oferecendo locação para motoristas

Uma das novas empresas a apostar na locação de veículos é a PPCar, que surgiu como alternativa para pessoas que desejam se tornar motoristas, mas que não têm um automóvel à disposição. A startup, que já atingiu 1,5 mil assinaturas, faturou R$ 30 milhões em 2018. Para 2019, a previsão é de encerrar o ano com mais de R$ 116,8 milhões. Até 2023, a expectativa é de movimentar R$ 730,6 milhões.
Segundo o português Alexandre Ribeiro, CEO e fundador da PPCar, entre as principais vantagens oferecidas aos condutores está o modelo de assinatura com pagamento semanal, que auxilia no fluxo de caixa dos profissionais. "Como o pagamento dos aplicativos é feito semanalmente, optamos por oferecer essa comodidade aos condutores, dessa forma, facilitamos o processo de locação para eles", comenta Ribeiro. A PPCar conta com preços a partir de R$ 459,00 (a depender do tipo de assinatura escolhido), no plano com quilometragem de até 1.167 quilômetros semanal, e valor de quilômetro adicional de R$ 0,36. O preço cobrado em caso de sinistro é de R$ 500,00.
Atualmente, a PPCar está presente nas cidades de Caxias do Sul (RS), Curitiba (PR), Campinas (SP), Belo Horizonte (MG), Brasília (DF), São Paulo (SP), Santos (SP), Rio de Janeiro (RJ), Porto Alegre (RS) e Salvador (BA). No exterior, já expandiu operações para Lisboa (Portugal) e Cidade do México (México). A empresa pretende ampliar sua presença internacional, abrindo operações também na Argentina, Chile, Equador, Panamá, Peru e República Dominicana.