Pela primeira vez desde que surgiram notícias de que a Ceitec estaria sob risco de descontinuidade pelo governo federal, a empresa veio a público ontem para fazer uma defesa da operação. Em nota, a empresa afirma que se insere no contexto histórico de ações voltadas a uma maior capacitação de recursos humanos e criação de infraestruturas necessárias para a inserção do País na era da informação.
"A Ceitec é uma iniciativa estratégica do Brasil para garantir o domínio tecnológico completo da fabricação de semicondutores (chips) no País. É a única da América do Sul com capacidade comprovada de desenvolver e fabricar, em larga escala, chips para responder às demandas de mercado", diz a nota.
No início de janeiro, diante das notícias de que o novo governo estaria reavaliando a continuidade da operação - a Ceitec é uma empresa pública vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) -, a decisão foi de não se manifestar publicamente, preferindo destacar que o seu posicionamento seria o mesmo do ministro do MCTIC, Marcos Pontes. Ele disse, em comunicado oficial publicado no dia 10 de janeiro, que "não existe decisão ou confirmação de que a Ceitec será liquidada pelo governo federal".
A decisão, agora, de destacar publicamente a importância desta iniciativa acontece na mesma medida em que empresários, comunidade acadêmica e representantes do poder público reforçaram o seu posicionamento em favor da continuidade da Ceitec nas últimas semanas. Em reportagem publicada pelo Jornal do Comércio recentemente, o empresário Ricardo Felizzola falou sobre isso. "A Ceitec está tendo um desempenho baixo como empresa, mas elevadíssimo como sinal de interesse do Brasil pelo setor de microeletrônica", disse.
Uma das maiores críticas que se faz à Ceitec é, justamente, o fato de não ser lucrativa. Mas, para muitos especialistas do setor, a capacidade de gerar lucro não é o fator que deve ser considerado em uma operação como essa, e sim a de abrir portas, trabalhar os fornecedores dessa cadeia e permitir a instalação de novas empresas e instituições voltadas a esse segmento. "Seria uma péssima decisão fechar a empresa, pois estaríamos desperdiçando todo capital humano de experiência de mercado acumulado em quase 20 anos", destacou o professor de microeletrônica da Instituto de Informática da Ufrgs, Sergio Bampi. O quadro técnico da empresa conta com mais de 40% de profissionais com mestrado, doutorado ou pós-doutorado.
A Ceitec produziu mais de 110 milhões de chips, mais da metade deles nos últimos dois anos. "A existência da Ceitec conferiu ao Rio Grande do Sul e ao Brasil a credibilidade necessária para atração de várias empresas e projetos. Além disso, é indutor de crescimento das cadeias produtivas de diversos outros setores econômicos, no Brasil", diz a Ceitec em nota.