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Publicada em 19 de Outubro de 2018 às 01:00

Educação financeira muda hábitos na Serra

Educadores financeiros recém formados vão disseminar técnicas para associados e comunidade

Educadores financeiros recém formados vão disseminar técnicas para associados e comunidade

LUIZA PRADO/JC
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Patrícia Comunello
Em Carlos Barbosa, a cem quilômetros de Porto Alegre, é permitido ter sonhos. Mas antes é preciso colocar as finanças pessoais em ordem. Pode parecer injusto, ainda mais com o elevado endividamento que parece não ter fim no País. Segundo a Confederação Nacional do Comércio (CNC), 60% das famílias têm despesas acima da capacidade.
Em Carlos Barbosa, a cem quilômetros de Porto Alegre, é permitido ter sonhos. Mas antes é preciso colocar as finanças pessoais em ordem. Pode parecer injusto, ainda mais com o elevado endividamento que parece não ter fim no País. Segundo a Confederação Nacional do Comércio (CNC), 60% das famílias têm despesas acima da capacidade.
Mas graças a medidas que a cooperativa Sicredi Serrana prioriza há três anos, seguindo programa da central Sicredi Sul/Sudeste para funcionários da cooperativa, cem mil associados e comunidade, o caminho para realizar um desejo - do mais simples ao mais arrojado - é factível. A senha é incorporar ferramentas de educação financeira.
O Jornal do Comércio subiu a serra para conhecer a experiência levada ainda a cooperativas de produção e até a gigantes como a Tramontina e até a moradores de 23 municípios e até à escolas de Farroupilha, onde professores fazem educação financeira e levam noções da área a crianças e adolescentes.
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"A demanda sobre este tema era grande. Aí decidimos montar um projeto de educação financeira para trabalhar a atitude e a cultura da sociedade", diz o gerente de marketing da Sicredi Serrana, César Possamai. "Falamos com as pessoas de educação financeira e não de venda de produtos e serviços. Por sermos uma cooperativa de crédito, temos de gerar uma concepção diferente", reforça Possamai.
A integrante da central Sicredi Sul/Sudeste virou referência no uso de uma metodologia de Diagnosticar, Sonhar, Orçar e Planejar (DSOP), desenvolvida por Reinaldo Domingos, especialista na área e que autorizou a multiplicação da DSOP pelo sistema. A fase de diagnóstico, primeiro passo, é a mais dolorosa, diz André Luis Thums, assessor da Sicredi Serrana. "É preciso anotar os gastos por 30 dias, e muitos desistem no 10º dia, mas o hábito só vira realidade se for persistido até o 21º dia. Depois disso, as demais ações acontecem", motiva Thums. 
O conteúdo é levado em palestras ou cursos mais intensivos que incluem a leitura do livro de Domingos, chamado Terapia Financeira. A Sicredi Sul/Sudeste diz que quase 67 mil pessoas participaram das ações no primeiro semestre deste ano, o que já superou o número de 2017, que somou 65 mil pessoas. O programa está tão enraizado na operação que a central passou a apoiar a Estratégia Nacional de Educação Financeira (Enef) criada pelo Comitê Nacional de Educação Financeira (Conef) do Banco Central.
Fernanda Chidem, coordenadora do programa na Sicredi Sul/Sudeste, que dissemina o DSOP a 43 unidades, aponta que um dos trunfos da Sicredi Serrana é o engajamento dos funcionários. "Eles perceberam que precisavam ajudar os associados e detectaram a educação financeira como uma demanda. A cooperativa não trabalha com metas para bater", cita Fernanda, como uma conduta que revela a diferença.
Na organização de Carlos Barbosa, 7 mil pessoas foram alcançadas com palestras e 2 mil delas fizeram a leitura de material didático que inclui um livro e oficina de quatro horas desde 2015. Até os postos de direção passam pelas lições. O presidente da cooperativa, Marcos André Balbinot, fez o curso, testou sua organização pessoal para encarar os quatro pilares e envolveu a família.
"Fiz o piloto do curso, depois chamei minha mulher e filha. Tinha de anotar todos os gastos. Vale a pena dedicar mais controle e objetivo na vida financeira para realizar sonhos e projetos", atesta o presidente. As ações em educação financeira são apontadas como decisivas para o desempenho geral da Sicredi Serrana, onde a inadimplência caiu de 1,76% em dezembro de 2016 para 0,8% no mesmo mês de 2017, metade do percentual do sistema cooperativo e um quarto dos 3,25% do sistema financeiro comercial.
Domingos diz que a Sicredi virou "uma grande aliada na disseminação da educação financeira da DSOP". A metodologia tem base científica", assegura o criador, ressaltando a formação de educadores para ampliar o uso dos conceitos como decisiva. A Sicredi Serrana formou 30 funcionários na metodologia. "Isso explica muito do sucesso, pois a educação é a essência. Estamos falando de educação de adultos, e a primeira regra é fazer sentido para eles", reforça Gabriel Munchem, assessor de programas sociais da unidade.
Uma nova leva foi formada em setembro, que passará a levar o DSOP a colegas, associados e comunidade. "Resolvi fazer o curso porque acredito na ideia da educação financeira para desenvolver as pessoas. Já sigo na minha vida os pilares, tenho de servir de exemplo", diz Kellen Costella, uma das novas educadoras financeiras.
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Região poupa, mas não sabe como gastar

Maria Isabel (esquerda) deu o curso para Juliana, associada e que passou a ir atrás dos sonhos

Maria Isabel (esquerda) deu o curso para Juliana, associada e que passou a ir atrás dos sonhos

LUIZA PRADO/JC
Uma das peculiaridades da ação da Sicredi Serrana é enfrentar a cultura regional de alemães e italianos, que costumam poupar, mas depois podem não saber bem onde aplicar o dinheiro ou como gastar bem. "Cresci ouvindo que tinha de poupar, mas para quê?", atesta a advogada Juliana Rebellatto Locatelli, associada da Sicredi e que reside em Garibaldi, na serra gaúcha. Juliana fez o curso, motivada pela funcionária da cooperativa, Maria Isabel de Camargo, que levou a ideia da formação em DSOP a um grupo de mulheres empreendedoras da cidade ligadas à Associação de Pequenas e Médias Empresas (Apeme). "O que muda é que você passa a guardar dinheiro para alguma coisa. Hoje até estou mais endividada, pois compramos um apartamento, mas é diferente de se endividar comprando cinco partes de sapatos", compara a advogada, admitindo que já caiu na tentação. Até o marido de Juliana teve de entrar no regime do DSOP. O casal também planeja viajar, mas não com o sentimento de culpa que tinha no passado. Maria Isabel, que é gerente de negócios da Sicredi em Garibaldi, fez o curso de educadora financeira e também teve de mudar hábitos. "Todos os meus sonhos têm hoje nome e data para acontecer", garante a funcionária da cooperativa. 

Vinícola Garibaldi e Santa Clara adotam cursos para funcionários

Thums (atrás, à direita) dirigiu a formação na Santa Clara e diz que primeira barreira é diagnosticar despesas

Thums (atrás, à direita) dirigiu a formação na Santa Clara e diz que primeira barreira é diagnosticar despesas

COOPERATIVA SANTA CALARA/DIVULGAÇÃO/JC
Duas das cooperativas mais conhecidas da serra - a Vinícola Garibaldi e a Santa Calara, na área de laticínios - tiveram cursos e palestras do programa da Sicredi Serrana. As duas organizações são associadas da unidade serrana.
Na Santa Clara, o programa dos quatro pilares de educação financeira atendeu a uma demanda que existia internamente, mas não se sabia como fazer, admite a gerente de recursos humanos Luciane Tonin Mecca. "O projeto caiu como uma luva. Primeiro, os gestores fizeram a formação, para poder levar aos demais funcionários. Os 400 funcionários da sede em Carlos Barbosa participaram da palestra no primeiro semestre.
"A linguagem é simples. As pessoas conseguem enxergar que podem fazer, desde que consigam planejar", cita Luciane. Os funcionários da operação e seus familiares farão um curso para mergulhar nos pilares. "Mais de 90% das pessoas que seguem os quatro passos mudam alguma coisa na organização financeira", garante André Luis Thums, que deu o curso na Santa Clara.
A gerente de RH cita que percebeu mudanças dentro da Santa Clara, pessoas buscando se endividar menos e tratando da questão financeira com familiares. "Alexandre Angonesi, diretor-executivo da Garibaldi, diz que a palestra e curso em 2017. "É muito provocativo, boa parte das pessoas não tem habilidade, não é educado para lidar com dinheiro.
Na vinícola, os 140 funcionários assistiram á abordagem e outros 40 fizeram o curso, incluindo Angonesi. Santa Clara e Garibaldi planejam no futuro levar as ações para associados. "Eles não têm o hábito de colocar tudo no papel e planejar. O programa pode ajudar até na gestão", antevê o diretor-executivo. 
 

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