Maior empresa de manutenção de aviões da América Latina, a TAP Manutenção e Engenharia (TAP M&E) vai fechar sua unidade em Porto Alegre até dezembro de 2018. A decisão foi anunciada aos funcionários pela presidente da companhia, Gláucia Loureiro, em reunião na manhã desta segunda-feira (1º) com o quadro nas instalações. Em nota, a empresa disse que a medida foi motivada “pela falta de demanda do mercado”.
Comprado da antiga Varig em 2005, o parque de manutenção chegou a ter 2,5 mil trabalhadores. Atualmente, são 350, que devem ser demitidos até o fim do ano. A informação foi comunicada por Gláucia aos funcionários, segundo dirigentes sindicais dos aeroviários.
Dedicadas à conservação e reparos de aeronaves e de componentes como motores e trens de pouso, as oficinas empregavam essencialmente trabalhadores especializados, como mecânicos e engenheiros. Com a decisão, a empresa manterá no Brasil apenas a unidade situada no Rio de Janeiro. Instalado em cinco hangares no site do Aeroporto Internacional Salgado Filho - ficando à direita de quem faz o trajeto da Capital em direção a Canoas -, o parque era o único em Porto Alegre credenciado para a manutenção de aeronaves comerciais da Boeing, Airbus e Embraer. A fabricante brasileira de aviões chegou a negociar a compra da área de manutenção da TAP em 2013, mas o negócio não avançou.
De acordo com o diretor do Sindicato dos Aeroviários de Porto Alegre, Osvaldo Rodrigues, a TAP M&E está em processo de reestruturação desde 2017, quando começaram as demissões na Capital. Segundo o sindicalista, a companhia chegou a agilizar alguns acordos judiciais, com a pretensão de repassar a unidade para outra companhia. “A empresa foi demitindo, e a ideia era de que aparecessem interessados, mas no, decorrer desse ano, ninguém a adquiriu”, afirma Rodrigues.
Uma das razões que teriam levado ao fechamento seria o alto custo de locação dos hangares cobrado pela Fraport, administradora do Salgado Filho desde o início do ano. “Quando entrou a Fraport, houve imensas dificuldades na negociação do contrato. O valor é muito mais alto do que aquele praticado antes”, pondera Rodrigues. Mesmo assim, segundo o diretor do sindicato dos aeroviários, os trabalhadores ainda acalentam o sonho de outra empresa assuma a estrutura até dezembro.
Procurada pelo Jornal do Comércio, a TAP M&E se manifestou de forma sucinta, por meio de nota oficial. “A TAP Manutenção e Engenharia confirma o encerramento das atividades da unidade de Porto Alegre/RS. Os colaboradores já foram comunicados da decisão, motivada também pela falta de demanda do mercado”, diz o comunicado.
Para o engenheiro e professor de Ciências Aeronáuticas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Pucrs), Marco Aurélio Moroni, além da perda dos postos de trabalho especializados, o fim das atividades da unidade de manutenção representa a restrição no acesso ao conhecimento para os profissionais da aviação no Rio Grande do Sul.
Segundo Moroni, a transmissão do conhecimento para novos profissionais tem sido limitada pela indústria de componentes de aviação. “Os fabricantes têm se voltado para o mercado de pós-venda. Eles são detentores do conhecimento e permitem cada vez menos o acesso a informações técnicas, como detalhes de operação e reparos”, destaca o professor. O docente sugere ainda que a falta de demanda, alegada pela companhia para encerrar a operação, pode estar ligada à localização geográfica do Estado. A tendência, observa Moroni, é buscar mais o centro do País. O Estado já foi um polo da indústria de aviação.
O fato de a Capital ser ponta da malha aeroviária nacional reforça a tese do professor. As grandes estruturas de manutenção ficam no Sudeste. Uma saída, que já foi defendida por movimentos que tentam retomar o polo econômico de aviação regional, seria desenvolver o hub de voos regionais e para o Mercosul. Porto Alegre já figurou na elite da indústria do setor.
Foi sede da Aeromot, que fabricava motoplanadores como o popular Ximango, e que chegou a prestar serviços para as gigantes Embraer e Boeing. Hoje a Aeromot está em recuperação judicial e sem operar desde o começo da década. Um dos braços da empresa, a Aeroeletrônica, foi vendida nos anos 2000 e virou AEL, pertencente à israelense Elbit. A AEL se dedica a sistemas eletrônicos militares e espaciais, com aplicações em plataformas aéreas, marítimas e terrestres. A sede fica em Porto Alegre.