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Biogás busca mais destaque como alternativa energética
O sucesso das usinas eólicas no Brasil, iniciando praticamente do zero na década passada e se tornando uma das fontes mais competitivas do País atualmente, serve de inspiração para muitas outras gerações de energias renováveis. Entre as quais está o biogás que, além de se promover como um recurso energético (energia elétrica, térmica ou combustível veicular), é tido como uma solução ambientalmente correta para rejeitos orgânicos (como dejetos suínos, de aves ou até mesmo lixo urbano).
Ainda de forma tímida, mas contínua, algumas experiências estão sendo desenvolvidas nessa área no País. No Rio Grande do Sul existe, por exemplo, há o projeto de biogás do Consórcio Verde-Brasil, formado pelas empresas Ecocitrus e Naturovos, que conta com o apoio da Sulgás. A partir de dejetos de aves poedeiras e de resíduos agroindustriais, essas companhias abastecem, em Montenegro, uma planta com capacidade para produzir até 5 mil metros cúbicos ao dia de biometano, e há planos para atingir cerca de 20 mil metros cúbicos diários em meados de 2014.
Já a empresa Eco Conceitos participa, no município catarinense de Pomerode, de um projeto-piloto envolvendo parceiros nacionais e alemães, como a companhia Archea. Em fevereiro, entrará em operação uma usina de biogás que utilizará como combustível, em um primeiro momento, dejetos suínos. A tecnologia empregada na unidade é de origem germânica, levando em consideração as características brasileiras. O diretor da Eco Conceitos Ércio Kriek explica que a meta é comprovar a viabilidade da tecnologia para comercializá-la posteriormente. “Nós acreditamos na viabilidade do biogás, só queremos provar isso para quem é cético”, afirma o empresário. Outro objetivo é transformar o complexo em um centro de pesquisa.
O dirigente reitera que o desafio será desfazer qualquer imagem negativa quanto a empreendimentos de usinas de biodigestão que não foram bem-sucedidos no passado. O complexo poderá gerar energia elétrica e térmica, assim como gás natural veicular (GNV). E o material orgânico que sobrar depois do processo será destinado à compostagem (fertilizante). A capacidade da planta, dependendo dos substratos (sobras) usados, pode chegar até 100 a 150 metros cúbicos de biogás por hora. A iniciativa absorveu um investimento de aproximadamente € 250 mil.
Outro empreendimento de biogás, mas de maior porte, está sendo desenvolvido no Paraná, na cidade de Entre Rios do Oeste, que possui cerca de 4 mil habitantes. O município pretende tornar-se autossuficiente em energia elétrica, térmica e automotiva, com base na produção do biogás. Depois de três anos de estudos, o projeto de saneamento de Entre Rios do Oeste, que prevê o aproveitamento dos dejetos de animais e dos esgotos urbanos para produção de biogás, recebeu sinal verde da diretoria de Energia da Copel para ter a sua primeira fase financiada pelo Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
O projeto, realizado pela Plataforma de Energias Renováveis de Itaipu e Copel, deverá ser executado pela prefeitura em 2014 e vai receber R$ 14 milhões em recursos para a implantação da primeira etapa. Essa parte compreende 63 das 93 propriedades rurais produtoras de suínos e gado de leite localizadas no município. Essas propriedades podem produzir cerca de 12 mil metros cúbicos de biogás por dia, suficientes para gerar energia elétrica para atender toda a demanda dos prédios públicos municipais, incluindo as escolas, e suprir a iluminação pública. Haverá ainda uma sobra de 44% deste volume, que será utilizada para abastecer com energia térmica a maior olaria do município, substituindo o uso de lenha, cada vez mais escassa. Uma autarquia municipal ficará responsável pela implantação e fiscalização das obras e ainda pelo gerenciamento das energias geradas no projeto.
Empreendedores buscam maior apoio governamental ao setor
Apesar do entusiasmo dos defensores do biogás, esses investidores sabem que há um longo caminho a ser percorrido para que o setor se consolide no País. Entre as reivindicações para que se facilite a propagação de projetos dessa área está a definição de regras claras e de incentivos para o segmento. A dúvida do setor é saber quanto tempo levará esse processo.
O consultor da MT-Energie Tecnologia do Biogás e presidente da Associação Brasileira de Biogás e Metano (ABBM), Mario Coelho, acredita que ainda irá demorar até se formatar um marco regulatório que determine as diretrizes do setor. “Mas, a nossa meta é que em quatro anos se tenha resolvido esse ponto”, comenta o dirigente. Coelho acrescenta que quando alguém decidir investir em biogás, esse empreendedor precisa saber como fazer a comercialização, se existe incentivo ou não e que impostos incidem. No entanto, Coelho reitera que essas iniciativas levam tempo no Brasil.
O presidente da ABBM recorda que o plano nacional de resíduos sólidos esperou mais de 20 anos até ser aprovado no Congresso. Outro ponto ressaltado é que o biogás pode substituir o gás natural ou de cozinha, pode produzir energia elétrica, se tornar combustível veicular, entre outros aproveitamentos. O biogás também pode trazer mais segurança na geração de energia elétrica, por ser mais fácil de realizar uma previsão quanto à capacidade de produção.
Ércio Kriek, diretor da Eco Conceitos, concorda que para um melhor desenvolvimento do biogás no Brasil, falta uma política do governo pensando no benefícios que essa fonte pode trazer. O empresário salienta que, além de ser uma opção energética, a produção de biogás acaba sendo uma solução ambiental quanto aos rejeitos, tanto de origem animal, como resíduos sólidos urbanos (a parte orgânica). “O governo deveria, pelo menos, desonerar, tentar fazer com que a carga tributária fosse menor para viabilizar mais projetos”, sugere Kriek. O dirigente acrescenta que seria adequado facilitar e agilizar os trâmites como os relativos a licenciamentos ambientais ou quanto à transformação do biogás em energia elétrica.