No romantismo, viver de música, poesia e literatura era mais do que uma opção profissional, era um estilo de vida. No século XXI, com a introdução das tecnologias e a facilidade de disseminação dos mais diversos conteúdos, ficou cada vez mais difícil e caro viver da produção cultural e artística, principalmente na área musical. Jovens ainda investem nessa trajetória em busca do sucesso, mas tropeçam na questão da pirataria, do download gratuito e do direito autoral na internet.
Luciana Pegorer, presidente da Associação Brasileira de Música Independente (ABMI), é uma das principais interessadas nessa jornada, que novos empreendedores têm feito para alcançar um lugar privilegiado no mercado de trabalho. “Hoje é possível ao artista sem gravadora atingir seu público e dar início a um trabalho remunerado. Da mesma forma, uma pessoa pode trabalhar com música sem estar empregada em uma grande gravadora, emissora de rádio ou agência de artistas”, conta. Ela explica que, atualmente, a prestação de serviço no espaço musical abre um leque de oportunidades, como produtores e designers, entre outras.
É o caso de Felipe Martil, 32 anos, conhecido como o DJ Yog Kaiser Mars. Formado em telecomunicações, ele decidiu se dedicar ao ramo da vida noturna e entrou no nicho como amador. “Virei produtor de tanto observar e me envolver com os processos gerais das festas”, brinca. Para ele, um dos facilitadores foi a internet: “É a base de todo nosso trabalho. Captação de público e a interação com eles se dão no cruzamento diário de relações públicas e marketing, focado na linguagem das pessoas que queremos frequentando nossas festas.”
Aos 23 anos, o cantor e compositor Pablo Dias viu na música uma oportunidade de sobreviver e mudar o mundo. Desde pequeno, ele sonhava com essa possibilidade e teve apoio da família para buscar esse caminho. “Ouço as pessoas falando que os jovens de hoje não têm motivo para rebeldia e, então, não têm inspiração. Discordo, acho que o mundo está longe de ser perfeito. Cresci aprendendo sobre como nosso modo de vida não é sustentável e minhas músicas falam sobre isso”, afirma.
No entanto, Dias lamenta que ainda não consiga se sustentar só da venda online e merchandising. “Em termos financeiros? Não, não valeu. Em termos de portas que me foram abertas, sim. Ganho muito pouco dinheiro através de vendas com essas ferramentas, a maior parte da minha receita vem de CDs vendidos pessoalmente”, explica. Martil também concorda que, apesar dos diversos mecanismos disponíveis pela rede, eles ainda não oferecem um sistema de renda estável.
O produtor vê vantagens, como a fragmentação da música e a independência do álbum. “O processo em si eu considero muito válido, sem apego ao conceito de que a pessoa precisa escutar o álbum na sua totalidade, na ordem que o artista estipula que deva ser a audição, como acontecia até a década passada. A fragmentação da música, despida de um pacote álbum, existe desde o início da indústria fonográfica, através dos singles. E eu, como DJ, que toco seleções de músicas, e não audições de álbuns, raciocino justamente dessa forma.”