Um ícone do polo de autopeças do bairro Azenha poderá ter seus últimos rastros apagados em leilão previsto para 25 deste mês, em Porto Alegre. Dois andares do edifício, fincado na esquina das avenidas Ipiranga e Azenha, onde a Casas Tigre funcionou por quase 40 anos e que ainda pertencem à família proprietária do antigo comércio, estão sendo anunciados por lance inicial dos dois imóveis de pouco mais de R$ 830 mil.
A operação é necessária para abater parte das dívidas com credores dentro do processo de falência, decretada em 2008 e que gerou o fechamento das atividades.
A trajetória da grife, que teve início em um ponto na avenida Farrapos nos anos de 1950, foi comandada até os anos 1980 pelo fundador Hugo Gerhardt.
Para quem já atuou no ramo de automóveis na Capital, o varejo, que manteve sua efervescência enquanto o fundador estava no comando e depois foi encolhendo e ocupando menos espaço no local, foi precursor no conceito de butique de autopeças. Felix Peter, que atuou em revendas e hoje é do ramo de locadora de veículos, recorda que a Casas Tigre começou em um pequeno ponto na avenida Farrapos.
“Era um modelo de loja, um brinco. Tudo era importado, pois naquela época não havia indústria nacional do ramo. Ao se mudar para a Azenha, o negócio aumentou dez vezes”, recorda Peter.
Na nova sede, com sete andares, até um restaurante de padrão internacional operou na cobertura. “Com o adoecimento de Gerhardt, os filhos tomaram conta”, completa o empresário de autolocadora. O proprietário da Autocenter Casa das Lonas, Paulo Edilton Moraes, reforça que a Casas Tigre foi pioneira e imprimiu ritmo de desenvolvimento ao polo, hoje com mais de 60 lojas, com qualidade de produtos.
Moraes, que sucedeu o pai no negócio, descreve que, nos últimos anos de funcionamento, o ocupante da esquina da Ipiranga com Azenha já havia se distanciado do ramo.
“O estabelecimento vendia até eletrodoméstico, deixando a marca de atuação com autopeças. Mas o polo continuou e se expandiu”. Hoje uma revenda de motocicletas ocupa os primeiros andares e ganhou nova fachada. Outros pavimentos foram vendidos também para quitar parte de um passivo que é avaliado em R$ 4 milhões, conforme o síndico da massa falida, Luis Henrique Guarda.
O maior débito é com o fisco federal, entre R$ 2,3 milhões e R$ 3 milhões, depois vêm fornecedores, com R$ 700 mil a receber. A pendência trabalhista é a menor, de cerca de R$ 300 mil.
O sindico explica que os donos do estabelecimento pediram concordata na Vara de Falências e Concordatas da Capital em 1998, depositaram a primeira parcela da renegociação com credores, mas não mantiveram em dia o acordo. Com o esvaziamento da operação, a Casas Tigre se limitou a um pequeno espaço, até fechar no começo de 2008. Segundo Guarda, os futuros proprietários herdarão alguns objetos da família Gerhardt. São quadros, fotografias e até filmes. “Os donos foram notificados para retirarem os materiais, mas nunca apareceram”, informa o síndico. “Assim se encerrará um negócio que marcou a região”, opina.
O leiloeiro Giancarlo Peterlongo Menegotto, responsável pela comercialização, garante que a procura pelos imóveis é grande. O evento começará às 15h no Hotel Intercity Premium, na avenida Borges de Medeiros, 2145. “Mas o que vale é a hora do leilão. Tem de vencer o lance e pagar no ato entrada de 30% do valor”, adverte Peterlongo. A localização é o trunfo para atrair compradores. Serão vendidos o terceiro e quinto andares, com 636 metros quadros e 514 metros quadrados, respectivamente. O terceiro piso terá preço mínimo de R$ 436,3 mil, e o outro imóvel, de R$ 397 mil. O saldo do valor arrematado poderá ser quitado em dez parcelas, com correção pelo IGP-M e 1% de juro ao mês.