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Publicada em 21 de Abril de 2025 às 17:36

Mostra no Museu da Ufrgs explora linguagens, caminhos e redes Guarani Mbya

Exposição Kya - Tramas, Teias e Redes Guarani Mbya e Jurua está no Museu da Ufrgs até o dia 8 de agosto

Exposição Kya - Tramas, Teias e Redes Guarani Mbya e Jurua está no Museu da Ufrgs até o dia 8 de agosto

LUCAS ICÓ/DIVULGAÇÃO/JC
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Luiza Weiler
A tradução, por natureza, existe em um impasse constante entre a falta e o excesso. Quando se traduz um termo, depara-se, simultaneamente, com a perda de algo próprio de uma linguagem e o ganho de novas e múltiplas significações dentro de outra. É o caso da expressão kya, que dá nome à mais nova exposição do Museu da Ufrgs, aberta para visitação gratuita até o dia 8 de agosto. O termo, cunhado originalmente em guarani, passa por um processo similar quando tenta ser traduzido para a língua portuguesa: simboliza ao mesmo tempo rede, teia de aranha e, metaforicamente, conexão. “Em português seria uma rede para deitar, descansar. Mas a gente pode também usar para significar teia de aranha, ou de outros seres. E aí, teia de aranha remete a às relações, às redes” explica o artista e pesquisador Lucas Icó, curador da mostra. Esse eixo conceitual pode ser observado em meio a todas as obras que permeiam o projeto. Das imagens fotográficas captadas por Vherá Poty com a parceria de Danilo Christidis, até os trabalhos musicais produzidos pelo grupo de canto Teko Guarani, passando pelas esculturas modeladas pela ceramista Antonia Garai, a exposição procurou abordar a temática de rede por meio de trabalhos desenvolvidos no máximo de linguagens artísticas possíveis. Um dos trabalhos integrados na mostra que coloca em evidência a temática contemplada pela exposição: são três redes artesanais, confeccionadas tanto por artistas de origem guarani quanto jurua, sob a supervisão de Rubén Franco, tecelão de uma aldeia guarani no distrito de Misiones, na Argentina. As obras foram produzidas durante de oficinas de tecelagem, que procuraram abordar as técnicas utilizadas na elaboração especializada de artefatos usando fios de guajuvira.
A tradução, por natureza, existe em um impasse constante entre a falta e o excesso. Quando se traduz um termo, depara-se, simultaneamente, com a perda de algo próprio de uma linguagem e o ganho de novas e múltiplas significações dentro de outra.

É o caso da expressão kya, que dá nome à mais nova exposição do Museu da Ufrgs, aberta para visitação gratuita até o dia 8 de agosto. O termo, cunhado originalmente em guarani, passa por um processo similar quando tenta ser traduzido para a língua portuguesa: simboliza ao mesmo tempo rede, teia de aranha e, metaforicamente, conexão. “Em português seria uma rede para deitar, descansar. Mas a gente pode também usar para significar teia de aranha, ou de outros seres. E aí, teia de aranha remete a às relações, às redes” explica o artista e pesquisador Lucas Icó, curador da mostra.

Esse eixo conceitual pode ser observado em meio a todas as obras que permeiam o projeto. Das imagens fotográficas captadas por Vherá Poty com a parceria de Danilo Christidis, até os trabalhos musicais produzidos pelo grupo de canto Teko Guarani, passando pelas esculturas modeladas pela ceramista Antonia Garai, a exposição procurou abordar a temática de rede por meio de trabalhos desenvolvidos no máximo de linguagens artísticas possíveis.

Um dos trabalhos integrados na mostra que coloca em evidência a temática contemplada pela exposição: são três redes artesanais, confeccionadas tanto por artistas de origem guarani quanto jurua, sob a supervisão de Rubén Franco, tecelão de uma aldeia guarani no distrito de Misiones, na Argentina. As obras foram produzidas durante de oficinas de tecelagem, que procuraram abordar as técnicas utilizadas na elaboração especializada de artefatos usando fios de guajuvira.
Destaca-se também, outro dos expoentes artísticos da mostra que dialogam conceitualmente com a temática. O trabalho, realizado pelos pesquisadores das áreas de história e ciências sociais Laercio Karaí, João Maurício Farias e Guilherme Maffei, trata-se de um mapeamento interativo da capital gaúcha, desenvolvido a partir dos locais importantes e simbólicos dentro da vivência dos povos originários.

A proposta, de acordo com Icó, foi de tentar mapear os espaços porto-alegrenses que tivessem algum significado para a história e a cultura guarani. Locais como a Casa do Estudante Indígena da Ufrgs, o Centro de Referência Indígena na Cidade Baixa e até as próprias aldeias e retomadas na capital podem ser visitados virtualmente em uma prática imersiva disponível na exposição. “São pontos que contam com registros arqueológicos, de pesquisa mesmo, que comprovam a presença histórica dos Guarani aqui desde muito tempo até a atualidade, e também mostram como se organiza a presença Guarani no território hoje em dia”.

Nesses espaços é que foram realizadas as gravações do curta-metragem Pequeno Sol, lançado no início de 2024. Uma das principais atrações que compõem a mostra, o filme tem produção assinada por Icó, acompanhada pelo realizador cinematográfico Sol Archer, e nasceu de uma parceria com o grupo musical Teko Guarani.

Segundo o artista, o projeto audiovisual também tem o objetivo de documentar canções importantes que fazem parte do repertório do grupo musical. Essencialmente, a ideia foi registrar um trajeto dos artistas integrantes do Teko Guarani caminhando por alguns pontos documentados no mapeamento interativo, enquanto simultaneamente cantam e apresentam uma série de suas principais composições autorais.

Além deste, a exposição também contará com instalações audiovisuais construídas a partir de um outro filme: o media-metragem Guata, lançado em 2022. O projeto, que tem como temática a importância da caminhada para o povo Guarani, foi desenvolvido em colaboração com os pesquisadores e realizadores Jorge Morinico e João Mauricio Farias.

Icó conta que, a produção do filme foi o principal ponto de partida para que fosse construída a mostra Kya. Fazendo o movimento contrário da maioria dos trabalhos expostos, o registro já existia antes que surgisse o primeiro esboço para a exposição. “Depois de produzir o Guata, nós continuamos conversando e trocando sobre todo o material audiovisual que tinha sido produzido, foram muitas filmagens. E aí, em 2023, nós tivemos a ideia de utilizar isso e começamos a desenhar o projeto dessa exposição, que está acontecendo agora no Museu da Ufrgs. Em 2024, finalmente, conseguimos financiamento para esse novo projeto, e, neste ano, pudemos colocar ele em prática".

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