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Publicada em 07 de Abril de 2025 às 14:46

Pintura de Aldo Locatelli em capela no Morro do Sabiá passará por restauro

Projeto que vai restaurar pintura mural de Aldo Locatelli na Capela Nossa Senhora, localizada no Morro do Sabiá, em Porto Alegre, está em fase de captação de recursos

Projeto que vai restaurar pintura mural de Aldo Locatelli na Capela Nossa Senhora, localizada no Morro do Sabiá, em Porto Alegre, está em fase de captação de recursos

LUCAS VOLPATTO/DIVULGAÇÃO/JC
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Adriana Lampert
Adriana Lampert Repórter
Localizada em uma área de mata nativa no Morro do Sabiá (na Zona Sul de Porto Alegre), a Capela Nossa Senhora abriga uma obra de arte esquecida no tempo. Reconhecida e tombada como patrimônio histórico do Município, a pintura mural é assinada pelo artista ítalo-brasileiro Aldo Locatelli e deverá ser restaurada sob a coordenação da Cult Assessoria e Projetos Culturais, mediante captação de recursos.
Localizada em uma área de mata nativa no Morro do Sabiá (na Zona Sul de Porto Alegre), a Capela Nossa Senhora abriga uma obra de arte esquecida no tempo. Reconhecida e tombada como patrimônio histórico do Município, a pintura mural é assinada pelo artista ítalo-brasileiro Aldo Locatelli e deverá ser restaurada sob a coordenação da Cult Assessoria e Projetos Culturais, mediante captação de recursos.
A iniciativa integra o projeto Um Locatelli no Morro Sabiá: Patrimônio cultural e sustentabilidade, contemplado no final de 2024 pela Lei de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet), que ainda prevê uma caminhada patrimonial e ecológica, com o objetivo de proporcionar uma experiência prática e imersiva de educação patrimonial, somada a um evento cultural aberto ao público. Além da restauração da obra de arte (cujo título dá nome à capela que a abriga), os trabalhos de restauração incluem, ainda, uma reforma no telhado da edificação. "As melhorias no telhado estão diretamente ligadas à preservação da pintura, visto que o local sofre com infiltrações", explica o arquiteto responsável pelo projeto, Lucas Bernardes Volpatto
Segundo ele, por estar localizada em meio à mata, a capela sofre com a ação da umidade e do vento, o que contribuiu para que a pintura se deteriorasse. "Esse mural é datado de 1953 e foi feito à base de cal. É uma obra 'viva', que transpira. Qualquer coisa que passar por cima dela (pano, espanador de pó, ou mesmo o toque com a mão) compromete sua camada pictórica, desgastando a tinta", complementa o arquiteto.
Pertencente ao Colégio Anchieta, a edificação que abriga a Pintura Mural de Nossa Senhora (executada na superfície da parede onde fica localizado o altar) foi erguida sob a liderança do padre Henrique Pauquet S.J entre os anos de 1940 e 1950. "Ainda iremos fazer uma pesquisa histórica, para descobrir a data exata da construção da capela", pondera o arquiteto responsável pelo projeto Um Locatelli no Morro Sabiá. Com vista para o Guaíba, a edificação religiosa com elementos do estilo neocolonial com detalhes neogóticos (a exemplo dos arcos ogivais) mantém características originais, como reboco rusticado, telhado de cerâmica com campanário, ladrilhos, vitrais da via-sacra e um presbitério que cria um foco visual centralizado no altar. 
A capela, em si, não é tombada, nem inventariada, por isso, as demais melhorias necessárias no espaço serão financiadas pelo Colégio, sinaliza Volpatto, que é especialista em Gestão e Prática de Obras de Conservação e Restauro do Patrimônio Edificado e sócio fundador do Studio 1 Arquitetura, empresa responsável pelo projeto arquitetônico e pela execução do restauro obra.  
Orçada em R$ 820 mil, a iniciativa contemplada pela Lei Rouanet está em fase de captação junto a empresas e pessoas físicas interessadas em apoiar (com seus impostos) a preservação e o uso sustentável do patrimônio cultural – maiores informações podem ser obtidas com a captadora Carolina Baumann, pelo telefone (51) 98418-4315 ou por email (carolemhap@gmail.com). "A partir do início dos trabalhos – condicionado à obtenção desses recursos –, a estimativa é de que os restauros envolvendo o telhado da edificação e a obra de arte localizada na parte interna da capela ocorram em um período de oito a dez meses", adianta o responsável técnico.
Representando a mãe de Jesus Cristo em pé, descalça e coberta por um manto multicolorido, a imagem de Nossa Senhora criada por Locatelli está circundada por dez jovens, sendo uma das figuras o próprio filho do artista, Roberto Locatelli, na época com três anos de idade. "A pintura traz uma Nossa Senhora terrena, sem auréola, rodeada por alunos anchietanos", destaca Volpatto. "Esta obra foi encomendada pelo padre Pauquet durante um encontro ocasional com o pintor e muralista, no Centro de Porto Alegre, enquanto este trabalhava nos salões do Palácio Piratini", emenda o arquiteto. O mural teria sido executado por Locatelli em apenas quatro horas, no decorrer de uma tarde. Nunca restaurada antes, a pintura tem cerca de 1,50 metro de largura por 2m de altura.  
Responsável pela coordenação técnica de conservação e restauro da pintura mural, a conservadora e restauradora de bens culturais Anice Jaroczinski afirma que a obra apresenta degradação (por desbotamento e descolamento), concheamento da superfície, fissuras e lacunas na camada pictórica. "Esta pintura mural irá precisar de uma limpeza e de uma fixação, além da reintegração da camada pictórica, para recuperar e preencher as lacunas onde aconteceram perdas", diz a especialista. "Esta é a primeira obra do Aldo Locatelli que irei restaurar. Será uma honra realizar o trabalho, considerando que ele segue sendo um dos pintores mais importantes do Rio Grande do Sul."
O pintor e muralista nascido em Bérgamo (Itália), em 1915, chegou ao Estado em 1948 para produzir afrescos na Catedral de Pelotas. Em 1950, fixou residência em Porto Alegre e começou a lecionar na Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs). Ao longo dos anos, contribuiu com sua arte para diversos templos e igrejas da Capital e de municípios do Interior.  Essencialmente muralista, Locatelli também produziu pinturas de cavalete, atualmente preservadas em museus, instituições e coleções particulares. O artista faleceu em 1962, aos 47 anos.
 

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