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Publicada em 26 de Março de 2025 às 19:01

'Estalo' é o conceito da 14ª edição da Bienal do Mercosul, que ocupa espaços culturais de Porto Alegre

Ocupando espaços como a Fundação Iberê, 14ª Bienal do Mercosul se inicia nesta quinta-feira e vai até 1 de junho

Ocupando espaços como a Fundação Iberê, 14ª Bienal do Mercosul se inicia nesta quinta-feira e vai até 1 de junho

JOSÉ KALLI/DIVULGAÇÃO/JC
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Luiza Weiler
A transformação acontece no instante ordinário. Em um estalar de dedos, tudo se altera, tudo muda. Esse foi o conceito que guiou o trabalho de Raphael Fonseca na curadoria para a 14ª Bienal do Mercosul, que acontece entre os dias 27 de março e 1º de junho de 2025. Ao todo, 78 artistas tiveram seus trabalhos selecionados para serem expostos em em 18 espaços culturais, espalhados pela capital gaúcha.A temática dessa Bienal surgiu, justamente, a partir de um estalo. O ano era 2023, o curador Raphael Fonseca tinha acabado de ser anunciado como escolhido para coordenar a seleção de obras que integrariam a 14ª edição do evento, e a ideia apareceu repentinamente: o conceito regente seria a palavra estalo.
A transformação acontece no instante ordinário. Em um estalar de dedos, tudo se altera, tudo muda. Esse foi o conceito que guiou o trabalho de Raphael Fonseca na curadoria para a 14ª Bienal do Mercosul, que acontece entre os dias 27 de março e 1º de junho de 2025. Ao todo, 78 artistas tiveram seus trabalhos selecionados para serem expostos em em 18 espaços culturais, espalhados pela capital gaúcha.

A temática dessa Bienal surgiu, justamente, a partir de um estalo. O ano era 2023, o curador Raphael Fonseca tinha acabado de ser anunciado como escolhido para coordenar a seleção de obras que integrariam a 14ª edição do evento, e a ideia apareceu repentinamente: o conceito regente seria a palavra estalo.
Um estalo pode ser muitas coisas diferentes. Pode se constituir em uma batida, um sopro, um estalar de dedos. Toda a transformação, seja curta ou duradoura, brusca ou demorada, depende de um instante específico - um estalo singular, em que a mudança acontece.

De acordo com Raphael Fonseca, essa temática de transformação foi o principal norte adotado pela equipe na escolha do conceito da mostra. “Nós vínhamos falando de fazer uma Bienal que aconteceria em um momento pós-pandêmico, em uma nova eleição presidencial. E aí me veio essa noção de que essa edição deveria lidar com as ideias de transformação, de metamorfose e de mudanças, e que a palavra Estalo funcionaria como guarda-chuva conceitual”.

O curador também retorna à etimologia do termo. Ele explica que estalo é uma palavra complexa, mas não erudita. Existe e vaga pelo imaginário popular brasileiro desde o início dos tempos. Em português de Portugal, está relacionada à violência; em inglês, tem a ver com a raiva. Dá nome à obras culturais de música e artes, mas não é título de livros teóricos de filosofia. Em resumo: é algo que desperta interesse, curiosidade e reflexão, mas não se limita à um público específico.

Outro episódio que exerceu influência sobre a escolha da temática, foi a tragédia climática que assolou o estado do Rio Grande do Sul. A presidente do evento, Carmen Ferrão, expressa que essa ideia de transformação também está muito relacionada com os eventos ocorridos em 2024. “Eu considero a 14ª como a Bienal de maior desafio, porque ela está sendo construída com a extrema necessidade de engajamento de todas as pessoas. É uma Bienal feita após as surpresas e as tragédias de toda uma enchente, que foi uma coisa inimaginável”, conta ela.

Dessa vez, de forma inédita na história, 18 espaços diferentes da cidade de Porto Alegre foram selecionados para integrar a programação da Bienal do Mercosul. Do Centro Histórico à Restinga, instituições culturais com diversos tamanhos e propostas estarão abrigando obras de arte produzidas por artistas de todo o planeta.

Para a capital gaúcha, o evento é simbólico nesse sentido. Além de celebrar datas comemorativas de espaços culturais, como os dez anos da Cinemateca Capitólio, a 14ª edição também marca a retomada de atividades em instituições tradicionais que não estavam funcionando na cidade de Porto Alegre. A Usina do Gasômetro, um dos símbolos da capital, por exemplo, será reaberta depois de mais de sete anos, para fazer parte da Bienal do Mercosul.

Segundo a presidente Carmen, essa expansão não ocorre por acaso. “Nós estamos fazendo uma Bienal maior, mais inclusiva. Queremos levar ela para mais espaços. Além dos museus tradicionais como o Margs, o Farol Santander, a Casa de Cultura, agora também temos os espaços nos bairros, na Estação Cidadania, na Estação Lomba do Pinheiro”, explica ela.

Do mesmo modo, o curador Fonseca comenta que houve a tentativa de adaptar o conceito geral do evento para as características das obras de arte presentes em cada local. Ele explica que os conceitos trabalhados variam, acima de tudo, de acordo com a expressão e o trabalho artístico exposto nas instituições. O estalo que se forma no Instituto Ling não é o mesmo que existe na Fundação Iberê Camargo, e vice-versa. Alguns estalos são luminosos, outros sonoros. Alguns se arrastam no tempo como um instante interminável, outros passam tão rápido que são quase imperceptíveis. De qualquer modo, são característicos do contexto espaço-temporal em que se inserem.

De maneira similar, os artistas selecionados para protagonizar essa edição do evento também não seguem um padrão específico. Fonseca conta que, no processo de seleção, foi considerada uma série de fatores e aspectos diferentes que influenciam a escolha de algumas obras em detrimento de outras. De acordo com ele, o que deve caracterizar uma mostra desta magnitude é exatamente a união e a mistura de conceitos e identidades. “Eu não tenho um recorte claramente indenitário quando eu faço projeto: eu me interesso por bons trabalhos de arte. Eu queria que a Bienal tivesse uma mistura de pessoas, pessoas mais jovens, mais velhas. E me interessava também fazer uma Bienal com linguagens muito diferentes, que tivesse vídeo, tecido, pintura, escultura. Não faz sentido para mim elaborar um projeto desse porte em que tudo vá numa direção só”, expressa o curador.

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