A exposição Homo Machina Reloaded, assinada pelo escultor Paulo Favalli, está em cartaz no recém-inaugurado Museu de Arte do Paço/Mapa (Praça Montevidéu, 10). A visitação é gratuita e segue até o dia 16 de maio, de segundas às sextas-feiras, das 9h às 17h. A mostra individual tem curadoria de José Francisco Alves (membro da Associação Internacional de Críticos de Arte), e apresenta uma reflexão sobre a relação entre o ser humano e a tecnologia, explorando aspectos antropológicos e ambientais, através de uma linguagem artística complexa e imersiva.
Diferente da exposição anterior do artista – Homo Machina (2019) –, essa nova investida é composta de esculturas com elementos tecnológicos interativos, como computadores, luzes e sons. Além do bronze, material tradicionalmente utilizado em suas esculturas, Favalli incorporou a cerâmica em suas obras, explorando novas texturas e cores, a fim de simbolizar tanto a linguagem arcaica da tecnologia quanto o contraste com a ideia futurista de inovação. "Esta é uma nova etapa da minha carreira", destaca o escultor, que também é cirurgião plástico.
Desenhista desde a infância, em 2008 Favalli buscou expandir seu domínio sobre o tridimensional, realizando sua primeira escultura em bronze. Com o passar dos anos, construiu sua linguagem artística a partir da modelagem figurativa em argila ou plastilina, bem como da apropriação de peças elétricas e mecânicas de garimpo. Em 2016, passou a criar esculturas híbridas, que remetem ao clássico conceito homem-máquina, influenciadas pela ficção científica. Desde 2022, principalmente após uma vivência imersiva, sob a orientação dos escultores Eudald de Juana e Grzegorz Gwiazda, o artista buscou ampliar fronteiras, e o realismo passou a se sobressair à anatomia, com emprego de computadores programados, que funcionam de verdade.
Com uma abordagem pessoal, Favalli conecta, assim, sua experiência na área médica à sua produção artística, abordando questões que, embora distantes da sua prática clínica, refletem sua curiosidade e paixão por temas como inteligência artificial, questões ambientais e os desafios da sociedade contemporânea. "Na mostra de 2019, o mote das obras era em torno do exercício de entender o quanto de nós, humanos, temos de 'máquina' no nosso organismo – por isso a 'brincadeira' com peças mecânicas. Desta vez, desenvolvi uma linha de trabalho que não abandona esse conceito, mas vai para um campo mais amplo e profundo, com o acréscimo do viés antropológico", detalha. A mostra atual reúne dez obras, algumas compostas por mais de uma escultura.
De acordo com o curador, o artista "cria um mundo sob atmosfera cibernética", projetando combinações humanas anatômicas e componentes robóticos. "Nas obras (concebidas para o espaço expositivo e todas interligadas), o público vai ver computadores funcionando dentro e fora das esculturas, emitindo sons e mensagens, via displays e painéis de led", completa o escultor. Segundo ele, Homo Machina Reloaded é "um convite à reflexão profunda sobre os rumos que a humanidade está tomando em um mundo cada vez mais tecnológico e interconectado".
A exposição inclui uma instalação imersiva que simula um museu de história das civilizações humanas, com uma trajetória que vai desde as origens da humanidade até um futuro distópico, em um formato multimídia, com vídeos, trilhas sonoras e elementos plásticos. "Toda a mostra alerta para os possíveis caminhos sombrios do desenvolvimento tecnológico. São esculturas com apelo conceitual forte, mas também com apelo estético e bastante figurativas, que passam mensagems muito atuais. Inclusive, uma parte da exposição é textual, reforçando o que mostram as imagens", ressalta Favalli. "No caso da instalação, inseri peças que são achados arqueológicos, com indicações da origem do homem, em uma trajetória que conta chega a um futuro hipotético, que nos faz refletir para onde estamos indo", contextualiza o artista.
Favalli acrescenta que, durante o processo criativo de Homo Machina Reloaded, realizou uma "pesquisa antropológica" através do acesso a livros, vídeos, aulas de antropologia, e filmes clássicos, como 2001: Uma odisseia no espaço (1968), Blade Runner - O caçador de androides (1982), Matrix (1999) e Ex_Machina: Instinto artificial (2014).