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Publicada em 14 de Janeiro de 2025 às 18:52

Atrações do Porto Verão Alegre expressam o impacto da catástrofe climática

Espetáculos Muita Água (foto) e Enquanto Esperamos estão entre as atrações do Porto Verão Alegre

Espetáculos Muita Água (foto) e Enquanto Esperamos estão entre as atrações do Porto Verão Alegre

YAMINI BENITES/DivulgAÇÃo/JC
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Adriana Lampert
Adriana Lampert Repórter
As enchentes que assolaram a Capital e mais 94% dos municípios do Rio Grande do Sul, em maio de 2024, são o mote de duas montagens de dança, que estreiam na 26º edição do Porto Verão Alegre. Oportunidade para aprofundar a compreensão do público sobre o tema da catástrofe climática recente e o modo como cada companhia aborda o assunto, os espetáculos Enquanto esperamos e Muita água acontecem, respectivamente, às 20h desta quarta-feira (15), no Teatro Bruno Kiefer da Casa de Cultura Mário Quintana (Rua dos Andradas, 736, 6º andar) e às 19h30min dos dias 21 e 22 de janeiro, no Goethe-Institut Porto Alegre (Rua 24 de Outubro, 112). Os ingressos estão à venda pelo site oficial do Festival. 
As enchentes que assolaram a Capital e mais 94% dos municípios do Rio Grande do Sul, em maio de 2024, são o mote de duas montagens de dança, que estreiam na 26º edição do Porto Verão Alegre. Oportunidade para aprofundar a compreensão do público sobre o tema da catástrofe climática recente e o modo como cada companhia aborda o assunto, os espetáculos Enquanto esperamosMuita água acontecem, respectivamente, às 20h desta quarta-feira (15), no Teatro Bruno Kiefer da Casa de Cultura Mário Quintana (Rua dos Andradas, 736, 6º andar) e às 19h30min dos dias 21 e 22 de janeiro, no Goethe-Institut Porto Alegre (Rua 24 de Outubro, 112). Os ingressos estão à venda pelo site oficial do Festival. 
Ambas criações artísticas abordam a relação dos acontecimentos sociais e ambientais de forma distinta: Enquanto esperamos, da Cia H Dança, tem como referência a obra Esperando Godot, de Samuel Beckett (1906 - 1989), e apresenta personagens abrigados da chuva à espera de uma perspectiva e socorro para suas vidas - que, assim como o Sr. Godot, do texto de Beckett, nunca chega. Já em Muita água, os performers Cibele Sastre, Fabiano Nunes e Juliana Vicari desdobram suas experiências corporais a partir da "transformação radical barrenta", em meio a uma sociedade desgovernada.

Criando um espaço de expressão e conscientização, ambos espetáculos foram pensados para ajudar o público a processar e refletir sobre o evento trágico, e alertam para o fato de que, se nada for feito pelo poder público e também por cada cidadão, no que lhe cabe, a tendência é que novas catástrofes se pronunciem. "Tocamos no ponto do negacionismo climático, presente no planeta todo, que tem a ver também com o negacionismo científico, uma vez que a Ciência alerta há muitos anos sobre as mudanças climáticas e a gente espera sentado", destaca a bailarina e coreógrafa Juliana Vicari. "No caso da tragédia das enchentes no Estado, estamos falando de uma situação sócio-econômico-ambiental que ainda está presente: recentemente, vimos Porto Alegre inundada novamente, em muitos bairros, no início deste ano."  
A artista revela que em Muita água, ela e seus dois colegas de palco apresentam um trabalho crítico, "ácido", que usa de ironia e sarcasmo para "tocar na ferida" e lembrar da responsabilidade de cada um nesse processo. Ela destaca que a montagem é uma ecoperformance de "dança-denúncia de um sistema colapsado pelas águas; de uma sociedade triste, afogada e multifocada que amontoa os restos de suas vidas em frente à sua casa, no caso de ainda haver casa", conforme sinaliza a sinopse do espetáculo. "Durante o processo criativo, nos perguntávamos: como que eu sinto e o que eu faço no meu dia a dia, qual minha tomada de consciência em relação ao planeta?", observa Juliana.
Recebendo o público no teatro do Goethe-Institut, figurinados com capas e botas de chuva (em referência à "roupa" que muita gente usou em meio à tragédia de maio), os três performers ainda devem captar as experiências de cada pessoa da plateia, por meio de perguntas feitas antes do início do espetáculo. Em cena, os artistas dançam suas angústias, conduzidos por um texto escrito por Fabiano Nunes. "É um texto muito visceral, com descarga emocional, de alguém que estava vivendo aquilo tudo intensamente, e se via perdido entre informações desencontradas, fake news sobre doações e falta de organização e caos nos abrigos." Sem música ou cenário, apenas com seus corpos (e o texto de Nunes), uma bandeira do Rio Grande do Sul ao fundo do palco, e alguns elementos, como uma cabeça de esponja que simboliza o cavalo Caramelo que se tornou símbolo de resistência em meio às enchentes, os artistas ainda criticam uma "certa romantização" da tragédia, usada como alternativa para aliviar mortes, casas destruídas e cidades perdidas.
Também de forma cética, os bailarinos Edison Garcia, Caleo Alencar, Tami Melegari, Bruno Manganelli e Andressa Pereira, da Cia H Dança, expressam a angustia, a tristeza, e a raiva que seus personagens sentem de – no final das contas – descobrirem que estão sendo "mais um idiota útil" e de que aquilo que esperam é inatingível. "A gente procura não ser explícito, porque cada pessoa sentiu a enchente de uma maneira diferente, então buscamos passar o que nosso grupo sentiu – não estamos falando da enchente física, mas da vulnerabilidade que a gente ficou depois da enchente", ressalta o diretor do espetáculo, Ivan Motta. Segundo ele, a montagem conta com trechos da obra de Beckett, na voz de Garcia, que faz a vez do mensageiro (de notícias que não chegam), que faz a ligação do enredo e explica ao público o contexto dos outros quatro personagens. "Eles querem saber o que vai acontecer, mas a verdade é que não existe uma resposta, estamos sempre esperando alguém que nos beneficie, que nos dê um norte, e na expectativa de algo que nunca vai acontecer", avalia o diretor.
Contando com uma trilha sonora composta de uma colagem de músicas que vão desde o rock até o clássico, Enquanto esperamos acontece entre duos, solos e diálogos coreográficos com todos os artistas em cena. "Buscamos desenvolver o que cada um tem de melhor, então a montagem conta expressões de vários gêneros, com jazz, ballet, dança contemporânea, dança moderna, com um estilo de coreografia bem eclético", adianta Motta. Ele observa que, originalmente o único cenário da peça de Beckett é uma árvore desfolhada, para dar ideia de aridez. "No nosso espetáculo, essa árvore aparece em forma de direção de luz, um desenho projetado por um globo. Além disso, optamos por utilizar alguns elementos cênicos, como telefone, guarda-chuvas, botas, livros, mapas, fechaduras de porta, que a gente usa para compor a ambientação."

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