A música é uma constante. E, assim como todo o resto de nossas vidas, ela depende de uma atualização constante para seguir em frente. Misturar ritmos calmos com batidas eletrônicas e contemporâneas, renovar o que já está funcionando, para que então surja um novo som, sem que suas origens se percam. E assim é no mundo das artes, sejam elas visuais, plásticas ou musicais.
Baseados em uma dessas mudanças, o impressionismo, o duo formado por Daniel Carpter e Luciano Amorim apostou na mistura da milonga, gênero tradicional gaúcho, com o tango e com sonoridades mais atuais e eletrônicas, em uma ponte entre os campos do interior e as cidades grandes do Estado. Seu novo lançamento, que inclui as faixas Vareio, Geada e a faixa-título Noturno, mergulha nos contrastes entre as realidades rurais e urbanas, proporcionando ao ouvinte uma jornada cinemática pelo universo gaúcho.
Assim como as atualizações no mundo, a identidade sonora da dupla Graxa.im foi sendo construída através de contribuições dos dois artistas, que, ao se encontrarem, criavam peças de um quebra-cabeça que, no fim, se completou de modo perfeito. Aos poucos, a linguagem regional da milonga e do tango foi ao encontro de ritmos e batidas eletrônicas, criando por fim a sólida identidade do Graxa.im.
No single, Luciano Amorim conta que "a gente baseou a construção da nossa estética a partir de um som e de lugares, de paisagens e influências aqui da América do Sul", o que rendeu a passagem do tempo através de diferentes experiências. Ele completa dizendo que "a gente pega uma linha básica de cada tema e vai criando em cima, vai criando trilhas, vai inserindo outros instrumentos e vê a conexão entre eles".
Vareio abre a sequência com dinâmicas que mesclam tranquilidade e energia, combinando sons suaves e expressivos de modo a criar um ritmo hipnótico que remete à vida urbana diurna. Já Geada traz um contraste, evocando as paisagens invernais do Rio Grande do Sul com uma milonga no refrão, que transmite a serenidade de um amanhecer nos campos cobertos de geada. Noturno encerra o single com um ritmo dançante, fundindo milonga e batidas eletrônicas. A combinação de melodias e arranjos eletrônicos cria uma dança introspectiva, refletindo as transições da vida noturna urbana.
O lançamento é "quase um desafio para o Graxa.im, porque sempre fizemos essa música pensando em paisagens, e agora estamos inserindo essas novas perspectivas", diz Daniel Carpter. Claro, sem nunca perder a identidade única em formação. "Eu acho que a gente vai propor algumas coisas um pouco diferentes, mas mantendo sempre a nossa forma de fazer música e de expressar a milonga e o tango, que vão estar sempre presentes no nosso som". Totalmente instrumental, a musicalidade do duo permite a universalização das faixas, onde uma letra ou idioma não interfere nos sentimentos diversos que podem ser alcançados durante a escuta.
O nome do duo veio do pequeno animal, comum no interior do Rio Grande do Sul. O graxaim, semelhante a uma raposa, é altamente adaptado ao ambiente rural. Embora seja um caçador eficiente de roedores, sua sobrevivência é ameaçada pela expansão agrícola, que reduz seu habitat. Na cultura popular, simboliza astúcia e resistência. Daniel reflete que "ele tem uma ótima capacidade adaptativa, e acho que isso aí acaba tendo a ver um pouco comigo, com Luciano e com a música que a gente faz".
Graxa.im é um duo resiliente e adaptativo, e promete seguir sendo nas próximas produções e lançamentos. Com músicas novas já desenhadas, a ideia para o ano que se inicia é tocar ao vivo e conquistar o público com sua identidade musical. "A grande jogada do Graxa.im é essa inquietude de sempre querer mostrar uma nova paisagem, uma nova visão. Nossa capacidade de produção é muito fértil" explica Daniel. Além disso, a dupla não descarta mergulhar em novos projetos, como trilhas sonoras ou produções audiovisuais. "Nosso som é muito visual, pode combinar com essas diversidades".