É inegável que um país tão diverso e plural como o Brasil gera ritmos e músicas igualmente variados, frutos das suas múltiplas influências culturais, regionais e históricas. Do forró nordestino à bossa nova carioca, cada canto do Brasil tem sua própria sonoridade e identidade. Mas, em um universo musical tão vasto e multifacetado, surge a questão: como unir todos esses ritmos, estilos e tradições em um só lugar? Como criar uma música que, ao mesmo tempo, honre a diversidade das origens e encontre uma forma de se comunicar com todos, sem perder sua essência local ou universal?
Tal indagação inspirou o multi-instrumentista, cantor, compositor e produtor musical Rodrigo Sha, diretor artístico da plataforma O Ritmo, um marketplace onde os músicos são capazes de fazer upload de arquivos com pedaços de músicas (beats, riffs, solos, levadas, samples) ou músicas inteiras, categorizá-los, precificá-los e disponibilizá-los para downloads por qualquer um. Ali, quem sabe, é onde vai se encontrar aquela batida, aquele violão, o pandeiro ou o sax que faltava para tornar um som digno de premiações mundiais.
De acordo com Rodrigo Sha, "havia a necessidade de uma biblioteca de música brasileira", trazendo uma nova forma de remuneração para a classe artística e enriquecendo ainda mais a produção brasileira e mundial. Dessa maneira, um produtor de música eletrônica francês pode usar a percussão de uma maracatu de rua de Recife para criar uma faixa dançante, assim como a trilha sonora de um filme indiano pode usar como base uma levada de bandolim de choro. Essas fusões mostram como diferentes sonoridades e influências podem ser combinadas de forma criativa, gerando novas experiências musicais e culturais que transcendendo fronteiras geográficas e temporais.
Na plataforma, cada um desses arquivos é ofertado nas lojas do autor, do ritmo, do instrumento, da região do Brasil e do tipo de arquivo. A cada nova transação, o autor fica com 60% da receita bruta da venda efetuada. Sha conta que a ideia era "mostrar o Brasil através de uma lupa, com todos os seus detalhes". Além disso, o marketplace ajuda a promover artistas que, na globalização e digitalização do mundo atual, precisam se reinventar e atuar de todas as maneiras possíveis. "Às vezes, vender matéria-prima pode te dar muito mais. É um ótimo recurso para ganhar mais dinheiro quando não se produz uma música completa", agrega o produtor.
Unido com artistas como Marcos Suzano, Zé Paulo Becker, Jam da Silva, Magrus Borges, Ricardo Imperatore, Cássio Cunha, Scott Feiner (in memoriam), Jovi Joviniano, Ella & The Bossa Beat e Afro2Brazilians, Sha transformou o tempero e a metamorfose brasileira em um álbum de 10 músicas, disponível em todas as plataformas digitais. "Eu entendi que era realmente muito necessário. Era preciso pegar e valorizar os autores que estão na plataforma, fazer uma peneira ali e começar a compor para trazer visibilidade para o ritmo, para as pessoas e também para o Brasil."
Brazilian Oil foi lançado neste mês e apresenta uma proposta inovadora ao reunir ritmos tradicionais brasileiros com sonoridades de outros estilos musicais nem sempre explorados. O álbum mistura maculelê com samba, capoeira com jazz, ijexá com pop, saculegê com beat e até afoxé com música clássica. Rodrigo Sha, ao longo do processo, foi convidando músicos e amigos de diferentes origens e influências, criando um ambiente de troca constante. Através dessas colaborações, ele foi ampliando as possibilidades criativas de cada faixa; a cada nova parceria, a música ganhava novos elementos e formas, refletindo a riqueza e a pluralidade das culturas brasileiras. Ao invés de seguir um único caminho, Sha aproveitou a oportunidade para explorar a grande variedade de estilos que o Brasil oferece, trazendo diferentes perspectivas sonoras para o álbum, sem perder a unidade e a identidade do projeto.
A ideia é, a partir de agora, criar cada vez mais sonoridades com a raiz brasileira através dos samples disponíveis na plataforma, creditando uma grande quantidade de artistas e trazendo a musicalidade encontrada apenas aqui. "A vida é de quem faz e de quem acredita, e eu acredito na força do som brasileiro e na brasilidade da música mundial". O foco é criar uma comunidade a partir disso, e quem sabe até mesmo um festival de som brasileiro no futuro.