O último dia da Feira do Livro de Porto Alegre foi marcado pela chuva, fato que levou a uma diminuição de público na manhã desta quarta-feira, 20 de novembro, data em que o Brasil celebra, pela primeira vez, o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, com feriado nacional. No entanto, no final da tarde, a notícia foi das melhores: segundo dados da Câmara Rio-Grandense do Livro, mais de 241 mil livros foram vendidos nos 20 dias de evento.
O resultado das comercializações das 72 bancas expositoras instaladas na Praça da Alfândega é 14% maior do que o registrado na edição anterior, o que significa uma retomada positiva do setor, que foi fortemente atingido pela enchente em maio deste ano. Os números foram divulgados em coletiva de imprensa, concedida pelo presidente da Câmara Rio-Grandense do Livro, Maximiliano Ledur. Segundo ele, este ano o evento contou ainda com uma programação maior do que a da edição anterior. Ao longo de quase três semanas, foram mais de mil atividades culturais gratuitas para todos os públicos na Praça da Alfândega, no Espaço Força e Luz e no Clube do Comércio.
Cerca de 400 escritores participaram da 70ª edição da Feira do Livro, sendo 349 gaúchos, 37 de outros estados e 12 internacionais. Entre autores, ilustradores, tradutores e organizadores, 1.770 pessoas autografaram livros nas 669 sessões ocorridas durante o evento. No total, a programação destinada ao público adulto contou ainda com 209 atividades, incluindo 22 oficinas, 30 apresentações artísticas, 70 mesas de discussão e bate-papos, e 87 vitrines de lançamento.
Já a área infantil e juvenil realizou 480 atividades, entre elas, 90 encontros entre autores e estudantes dos Ensinos Fundamental e Médio. As escolas também promoveram 32 sessões de autógrafos. Ao todo, mais de 17 mil alunos das redes pública e privada passaram pela Praça da Alfândega durante os 20 dias de Feira. Crianças e adolescentes acompanharam 178 contações de história, três exposições e seis saraus. O espaço também promoveu 23 rodas de conversa do ciclo inclusivo — que tratou de assuntos ligados à inclusão social, acessibilidade e autonomia com pais e especialistas. Além disso, as famílias puderam assistir a quatro concertos e desfrutar de 78 eventos realizados por parceiros da Feira do Livro.
Nesta quarta-feira, apesar do mau tempo, na área infantil e juvenil da feira o número de pessoas superou as expectativas. Muitos livreiros estavam bastante otimistas com o desempenho das vendas durante o período de 20 dias de funcionamento da feira em 2024. O que mais se ouviu dizer é que “a edição dos 70 anos da Feira do Livro de Porto Alegre será lembrada pela resiliência”, ou seja, pela força de superação do segmento livreiro em decorrência da maior catástrofe climática ocorrida no Rio Grande do Sul, em maio deste ano.
Ledur afirma que foi bastante emocionante ver como os gaúchos abraçaram a 70ª Feira do Livro de Porto Alegre. “Muita gente prestigiou o evento, além de marcar presença nas bancas de livros”, citou. o presidente da entidade também comentou que nos primeiros 10 dias, foram vendidos 130 mil livros. “Há uma projeção de que o evento deva ter recebido ao redor de 1,5 milhão de visitantes durante todo o período de sua realização.
A Feira do Livro de Porto Alegre é uma das mais antigas do Brasil e teve a sua primeira edição em 1955. Para os escritores a feira também tem um significado maior, uma vez que ele representa a abertura para o mundo da cultura.
Marcia Martins, da Martins Livreiro Editora, disse que a empresa participa da feira desde a primeira edição. Segundo Marcia, o evento chega ao seu último dia, porém, o livro se prolonga e mantém viva a feira na memória do leitor.
“A feira chega aos seus 70 anos enxuta, com diversas literaturas maravilhosas”, comentou. Ela informou que as vendas no estande superaram em 20% na comparação com às edições anteriores. “Eu acredito que este aumento seja decorrente a um motivo: muitas pessoas que amam os seus livros e que perderam as suas bibliotecas nas enchentes, (buscam reposição)”.
Mário Telmo Guerreiro, da Editora Sulina, comentou que o movimento na feira foi positivo, com bastante público. Ele explicou que ainda não foi feito um balanço de vendas desta edição. “A impressão que eu tenho é que as vendas foram positivas. “Nós tivemos muita procura, considerando que são livros com temas bem específicos”.
Alec Lisboa, da editora Arquipélago, destacou que houve muitas dúvidas sobre a realização da feira neste ano, por conta dos acontecimentos climáticos, mas ela ocorreu e foi muito positiva. “As vendas deste ano foram melhores do que em 2023, porém, não arrisco um percentual”, citou.
Empresas falam da força da superação após a enchente
Roseni Siqueira Kohlmann, da Federação Espírita do Rio Grande do Sul, gerente editorial na livraria Espírita, contou que a sede localizada no 4° Distrito foi muito afetada pela enchente, o que resultou na perda de 21 mil livros. Ela disse que as obras resgatadas acabaram recebendo o selo de “Livro Valente”, com um símbolo de superação.
Luís Fernando Araújo, editor e sócio fundador da Arte e Ofício Editora, contou que a empresa também foi atingida pela enchente. “A empresa ficou 30 dias alagada, com a água chegando até 1,70m. Nós perdemos 33 mil livros”, lembrou. “Desde a enchente, esta é a 5ª feira que nós estamos participando com o objetivo de buscar a recuperação e deste modo poder continuar no negócio”, acrescentou.