O livro A Mulher de Dois Esqueletos (Dublinense), da porto-alegrense Julia Dantas, aborda o dilema de uma mulher entre a maternidade e a produção artística. Já em Dias de se Fazer Silêncio (Autêntica Contemporânea), a escritora Camila Maccari descreve o ambiente sufocante de uma família que encara a doença terminal do filho mais novo. E Condições Normais de Navegação para Iniciantes (Companhia das Letras) explora, em contos de Natalia Borges Polesso, personagens que estão descobrindo como existir em um mundo intrigante, mas muitas vezes hostil. Os títulos estão entre os mais recomendados pelas editoras na 70ª Feira do Livro de Porto Alegre.
As autoras ficcionistas, aliás, participam, neste domingo, de um debate sobre a produção literária de autoras gaúchas, às 17h. E, às 19h, estarão autografando suas obras no complexo.
Assim como elas, outras obras vêm movimentando o espaço e atraindo a atenção do público. Neste sábado, mesmo com calor intenso, os pavilhões cobertos da mostra receberam grande visitação.
“Já ultrapassamos as vendas do ano passado. Felizmente, todo ano é assim: os números são crescentes. A Feira do Livro mostra sua força e atrai leitores interessados em todos os gêneros literários”, conta Eduardo Krause, responsável pela comunicação da editora Dublinense, fundada em 2009 e que faz sua 10ª participação no evento.
Ele também sugere Vamos comprar um Poeta (Dublinense), do português Afonso Cruz, para uma leitura divertida sobre um futuro distópico em que as famílias, em vez de comprar pets, preferem adquirir artistas - e o poeta acaba por transformar seus donos.
Escritora Denise Saueressig (D) expõe suas obras e também consome literatura na Capital
CLAUDIO MEDAGLIA/ESPECIAL/JC
Produzir e consumir literatura, aliás, é uma rotina incorporada por Simone Saureressig, autora de obras fantásticas como O Jovem Arsène Lupin e a Coroa de Ferro (Avec) e que circulava entre as bancas atrás de novos conteúdos. Levou para casa alguns títulos e não escondeu a alegria por descobrir que esta edição da feira vem mantendo a tradição de sucesso de vendas. Nem a frustração pelo fato de Novo Hamburgo, onde vive, ter aberto mão da realização de eventos culturais com recursos da administração municipal por conta do estado de calamidade decretado devido às enchentes de maio.
“Essa mostra em Porto Alegre reoxigena a cidade, que também enfrentou problemas enormes com as cheias. Espaços como esse precisam ser incentivados e potencializados. Infelizmente, a população na minha cidade, cuja feira do livro sempre foi valorizada, parece ter aceitado com naturalidade a não-realização de evento culturais”.
Thomás Daniel Vieira, da Editora Coragem, estreia na Praça da Alfândega quatro anos após abrir empreendimento
CLAUDIO MEDAGLIA/ESPECIAL/JC
Estreando na feira, a Editora Coragem chegou à mostra com cerca de 35 de seus 50 títulos e comemora a experiência com negócios e a consolidação de um sonho. O jovem empresário Thomás Daniel Vieira abriu a editora há quatro anos, depois de abandonar o trabalho na área da informática. Mas trabalhou muito para conquistar seu espaço no cenário editorial.
“Nossos livros tratam, majoritariamente, de questões sociais e políticas com foco na América Latina. Mas o começo não foi fácil. Éramos desconhecidos, e muitos autores sequer respondiam contatos por e-mail ou pelas redes sociais. Para chegar a alguns, decidi viajar e procurá-los pessoalmente. Isso passou a nos abrir muitas portas”, relata Vieira.
E, também por isso, Coragem acabou mesmo virando o nome perfeito para o empreendimento. Não por acaso, Palavras para depois: Conversas com Pepe Mujica, do jornalista argentino Fabián Restivo, é um dos maiores sucessos de vendas do portfólio.
“É muito bom poder verificar que as coisas mudaram para melhor. Há autores que, agora, por nos conhecerem e se identificarem com nosso perfil, além das boas referências de outros escritores, vêm nos procurar para ter suas obras traduzidas e publicadas no Brasil, um mercado bastante desejado e importante no contexto cultural do continente”.
Vieira também aponta Gauchismo Líquido, de Clarissa Ferreira, como destaque de vendas na feira. Mas vê Cevando a Palavra, primeiro livro de crônicas, causos e ensaios do cantor, compositor e violonista gaúcho Demétrio Xavier, como a obra que melhor traduz sua editora.
“Ele une música e literatura, promovendo uma reapropriação da identidade cultural do gaúcho”, define.
A 70ª Feira do Livro de Porto Alegre segue até 20 de novembro, com diversas atrações. O espaço funciona das 10h às 20h, na Praça da Alfândega.