Futebol, como a maioria das paixões, não se explica, se sente. Há várias facetas desse esporte maravilhoso e, particularmente, no caso de Grêmio e Internacional, trata-se de uma relação que hoje poderia se chamar de “poliamor”, em que a relação dos torcedores com esses clubes dificilmente consegue ser monogâmica.
• LEIA TAMBÉM: Uma deriva delirante por Porto Alegre
E, cada vez que vejo mais essa relação de amor e ódio, me convenço que melhor que torcer pelo seu clube é secar o rival. E pode isso, Arnaldo? Bom, vamos chamar o VAR e analisar detalhadamente a questão. Quem é “hincha” de um time, como diriam os hermanos, na sua mais pura essência é um sofredor.
Em dias de jogos do seu clube, esse abnegado larga família, pega um ônibus lotado ou um trânsito infernal e ruma para o estádio que, provavelmente, estará a quilômetros de sua casa. Chegando lá, além do dinheiro gasto nos ingressos, paga por um cachorro-quente e um refrigerante o mesmo valor que um rodízio de churrasco em outro local.
Muitas vezes o clima é outro “bônus” que esse vivente vai ter. Dias de chuva são os melhores. O cara chega para ver o jogo ensopado, porque é proibido entrar com guarda-chuvas no jogo. Mas, o torcedor, na sua paixão cega, ainda segue feliz até a sua cadeira, que possivelmente estará quebrada. Na frente dele, provavelmente sentará uma criatura de 2 metro de altura e atrás alguém resfriado.
Aí vai começar o jogo e ele houve no alto-falante que o Zé do Pé Murcho foi escalado como centroavante. Depois de xingar o técnico do seu time, que ganha 967 vezes mais que ele, o torcedor reza a todos os santos que o Zé do Murcho faça a diferença. No final da partida, 1 x 0 para o adversário, pênalti cometido pelo Sr. Murcho e o time eliminado.
Esse é a vida dura do torcedor. Por outro lado, o secador tem a vida de um rei. Ele não gasta nada azarando o rival, não precisa sair de casa, pode beber e comer o que quiser, na frente da TV, de chinelos e acomodado na sua poltrona. Não se irrita com a escalação do time e, se seu antagonista não perder a partida naquele dia sempre tem o próximo jogo.
• LEIA TAMBÉM: Tempero de mãe (e de pai)!
A lógica é matemática. Por exemplo, o campeonato brasileiro de futebol tem mais de cinco décadas de existência e Inter e Grêmio só venceram, respectivamente, três e duas vezes o torneio. Ou seja, em mais de cinquenta anos se o torcedor for colorado ele só teve a alegria do sucesso em três ocasiões e os tricolores em duas. Em contrapartida, imagine as diversas felicidades proporcionadas para esses torcedores pelas eliminações do seu rival. Por isso, secar é a alegria suprema já o torcedor é um sofredor vocacionado.