Um dia cheguei na redação dizendo que me mudaria para Buenos Aires. E, de fato, eu iria... mas não para a capital argentina. A minha Buenos Aires é uma rua aqui em Porto Alegre.
Caminhando pela cidade, frequentemente navego em delírios. Assim, já estive em grandes metrópoles, já estive também em cidades do interior, surfando por culturas próximas e outras longínquas.
Hoje, porém, quero fazer um convite que, além de delicioso, não deixa de ser político. Que apesar de estar perto, está muito distante. E se embarcássemos nas entranhas desta cidade, buscando na autenticidade dos nossos bairros a oportunidade de sermos o que eu gostaria de chamar de “turistas-cidadãos?”
Eis aqui um roteiro possível:
O Jardim Botânico, que dá nome ao bairro da minha querida Buenos Aires, recentemente completou 66 anos. Você, então, vai até lá e faz um piquenique, pode ser às 10h, às 11h. Está sempre vazio e, infelizmente, bastante abandonado. Por isso, por favor, romantize!
Depois, você caminha até a floricultura Blumengarten. Lá você compra plantas que vê no Jardim Botânico, e muitas outras. É como um oásis, situado ao lado da rótula do galo — chamada assim porque até pouco tempo atrás ali viviam galos, que cantavam não sei para acordar quem em uma Perimetral sempre movimentada.
Nessa hora pode ser que você já esteja com sede. E eu sei que você gosta de uma gelada nesse calor que anda fazendo. Na esquina da Felizardo com a Guilherme Alves, você dá um alô ao Buda, que trabalha no Boteco Vitória. Por lá, você pede um chopp, mas eu recomendo mesmo é a cachaça Gabriela. Ah, e, por favor, não se esqueça: o lugar ganhou o prêmio de Melhor Comida de Boteco em 2022, tá?
Se ainda for sábado pela manhã, o que é perfeitamente possível aos finais de semana, que possuem tempo mágico, você desfruta da Praça Nações Unidas e caminha pelas ruas que parecem só dormir. Entre blocos de prédios residenciais, você presta atenção na calçada em frente ao Armazém Anita, também na Buenos Aires. É churrascada? Não é turístico, não é gourmet. E, então, na sua mente vem a palavra: Autêntico.
As ruas todas por ali, aliás, homenageiam países e cidades latinas, escritores e comerciantes pioneiros do bairro. Rua Chile, Valparaíso, Avenida La Plata, Machado de Assis, Alcebíades Caetano. Algo louvável em um país tão americano. No meu roteiro, você ainda reserva um tempo para se surpreender com algo que descobriu sozinho.
Enquanto caminha, você nota também os contrastes: as casas abandonadas, as árvores doentes, o excesso de fios, os carrinheiros. A ausência de ruas que homenageiam mulheres. São parte do retrato que compõe uma cidade, e que também merece espaço no seu roteiro de turista-cidadão.
Na parte da avenida Ipiranga que corresponde ao Jardim Botânico, também tive meus delírios outrora. Me imaginei pedalando às margens do Sena, com um lindo céu azul. Outras vezes, pensei naquela prometida e tão distante solução da Coreia do Sul, que transforma arroios poluídos em espaços verdes no meio da cidade, sabe? Esses dias a prefeitura publicou uma proposta de limpeza e revitalização do Dilúvio, não?
Por enquanto o Dilúvio ainda tem mau cheiro, e a ciclovia não existe mais. Ultimamente, nem o sol aparece. Então, ok, algum delírio é inevitável! Estava até considerando se oferecia a você essa parte do trajeto.
Mas você não é apenas um turista. Você está convocado a olhar. Você persegue o roteiro e sonha com ele.
Caminhando pela cidade, frequentemente navego em delírios. Assim, já estive em grandes metrópoles, já estive também em cidades do interior, surfando por culturas próximas e outras longínquas.
Hoje, porém, quero fazer um convite que, além de delicioso, não deixa de ser político. Que apesar de estar perto, está muito distante. E se embarcássemos nas entranhas desta cidade, buscando na autenticidade dos nossos bairros a oportunidade de sermos o que eu gostaria de chamar de “turistas-cidadãos?”
Eis aqui um roteiro possível:
O Jardim Botânico, que dá nome ao bairro da minha querida Buenos Aires, recentemente completou 66 anos. Você, então, vai até lá e faz um piquenique, pode ser às 10h, às 11h. Está sempre vazio e, infelizmente, bastante abandonado. Por isso, por favor, romantize!
Depois, você caminha até a floricultura Blumengarten. Lá você compra plantas que vê no Jardim Botânico, e muitas outras. É como um oásis, situado ao lado da rótula do galo — chamada assim porque até pouco tempo atrás ali viviam galos, que cantavam não sei para acordar quem em uma Perimetral sempre movimentada.
Nessa hora pode ser que você já esteja com sede. E eu sei que você gosta de uma gelada nesse calor que anda fazendo. Na esquina da Felizardo com a Guilherme Alves, você dá um alô ao Buda, que trabalha no Boteco Vitória. Por lá, você pede um chopp, mas eu recomendo mesmo é a cachaça Gabriela. Ah, e, por favor, não se esqueça: o lugar ganhou o prêmio de Melhor Comida de Boteco em 2022, tá?
Se ainda for sábado pela manhã, o que é perfeitamente possível aos finais de semana, que possuem tempo mágico, você desfruta da Praça Nações Unidas e caminha pelas ruas que parecem só dormir. Entre blocos de prédios residenciais, você presta atenção na calçada em frente ao Armazém Anita, também na Buenos Aires. É churrascada? Não é turístico, não é gourmet. E, então, na sua mente vem a palavra: Autêntico.
As ruas todas por ali, aliás, homenageiam países e cidades latinas, escritores e comerciantes pioneiros do bairro. Rua Chile, Valparaíso, Avenida La Plata, Machado de Assis, Alcebíades Caetano. Algo louvável em um país tão americano. No meu roteiro, você ainda reserva um tempo para se surpreender com algo que descobriu sozinho.
Enquanto caminha, você nota também os contrastes: as casas abandonadas, as árvores doentes, o excesso de fios, os carrinheiros. A ausência de ruas que homenageiam mulheres. São parte do retrato que compõe uma cidade, e que também merece espaço no seu roteiro de turista-cidadão.
Na parte da avenida Ipiranga que corresponde ao Jardim Botânico, também tive meus delírios outrora. Me imaginei pedalando às margens do Sena, com um lindo céu azul. Outras vezes, pensei naquela prometida e tão distante solução da Coreia do Sul, que transforma arroios poluídos em espaços verdes no meio da cidade, sabe? Esses dias a prefeitura publicou uma proposta de limpeza e revitalização do Dilúvio, não?
Por enquanto o Dilúvio ainda tem mau cheiro, e a ciclovia não existe mais. Ultimamente, nem o sol aparece. Então, ok, algum delírio é inevitável! Estava até considerando se oferecia a você essa parte do trajeto.
Mas você não é apenas um turista. Você está convocado a olhar. Você persegue o roteiro e sonha com ele.
Você imagina, então, um passeio de bicicleta às margens de um arroio, que se chama Dilúvio, que fica em Porto Alegre, e que está limpo.
Nesses passeios-delírios, entre o real e a fuga, o autêntico e a comparação, vamos nos afeiçoando a uma Porto Alegre que não está em nenhum outro lugar, senão em si mesma. Que é nosso olhar de fora, mas que também é dia a dia.
Agora chega. Você já está há muito tempo sentado. Este é o seu bilhete! Sua vez de me oferecer um roteiro nesta Capital.
Nesses passeios-delírios, entre o real e a fuga, o autêntico e a comparação, vamos nos afeiçoando a uma Porto Alegre que não está em nenhum outro lugar, senão em si mesma. Que é nosso olhar de fora, mas que também é dia a dia.
Agora chega. Você já está há muito tempo sentado. Este é o seu bilhete! Sua vez de me oferecer um roteiro nesta Capital.