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Publicada em 02 de Outubro de 2024 às 19:07

José Lutzenberger previu crise ambiental atual, revela novo livro

Ecologista gaúcho falecido em 2002, Lutz fez alerta ambiental

Ecologista gaúcho falecido em 2002, Lutz fez alerta ambiental

RIGHT LIVELIHOOD AWARD FOUNDATION/divulgação/JC
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Adriana Lampert
Adriana Lampert Repórter
A dedicação pela proteção e preservação do meio ambiente protagonizada pelo agrônomo, escritor, filósofo e paisagista José Lutzenberger não só lhe rendeu vários reconhecimentos internacionais (entre os quais, o Prêmio Nobel Alternativo) por sua contribuição à ecologia, mas também lhe conferiu o título de um dos mais renomados ambientalistas do País. No entanto, houve quem o considerasse apenas um "ecochato" ou um "profeta do Apocalipse", devido à forma contundente com que ele se posicionava sobre o tema. O que os incrédulos não esperavam é que todos os seus sobreavisos se tornariam fatos reais.
A dedicação pela proteção e preservação do meio ambiente protagonizada pelo agrônomo, escritor, filósofo e paisagista José Lutzenberger não só lhe rendeu vários reconhecimentos internacionais (entre os quais, o Prêmio Nobel Alternativo) por sua contribuição à ecologia, mas também lhe conferiu o título de um dos mais renomados ambientalistas do País. No entanto, houve quem o considerasse apenas um "ecochato" ou um "profeta do Apocalipse", devido à forma contundente com que ele se posicionava sobre o tema. O que os incrédulos não esperavam é que todos os seus sobreavisos se tornariam fatos reais.
Para dar luz ao debate, em momento onde as mudanças climáticas apontam para a necessidade urgente da adoção de práticas sustentáveis, a jornalista Lúcia Brito organizou e editou o livro Lutz - A visão e as previsões de José Lutzenberger (Almalinda Sonhos Editoriais, 160 pág.), lançado recentemente, durante a 18ª Flivi – Feira Literária de Viamão. A obra que resgata a memória e o legado do ambientalista contou com a produção executiva do jornalista José Barrionuevo.
Reunindo 13 textos escritos por Lutz (como era conhecido) entre 1972 e 1997, a publicação aborda a preservação da Amazônia, a questão indígena, os incêndios no Pantanal, os perigos dos agrotóxicos, as causas das inundações, e as vantagens da agricultura ecológica, entre outros temas. Também conta com a escrita de Lúcia e com textos de apresentação dos jornalistas Eduardo Bueno – que conviveu com o ambientalista Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan) e o entrevistou diversas vezes – e Lilian Dreyer – biógrafa e editora de Lutz –, além de cerca de uma centena de imagens do Parque Estadual de Itapuã, captadas pelo fotógrafo Daniel Marenco, sendo que algumas ainda são acompanhadas de interferências poéticas compostas pela escritora Paula Taitelbaum.
"O livro é uma homenagem ao Lutz, e surgiu por conta da tragédia climática que assolou o Rio Grande do Sul em maio deste ano, pois ele já falava dessas coisas", conta a organizadora, "Barrionuevo me procurou com essa ideia e passei a pesquisar os livros de autoria de Lutzenberger. É impressionante perceber que as coisas que ele escreveu há 50 anos sejam tão atuais", destaca Lúcia, emendando que seu trabalho foi de mínima intervenção nos escritos originais. "Editei o mínimo necessário, triando coisas pontuais da época, mas não escrevi nem mexi na ordem."
A organizadora da obra explica que a escolha pelas fotos do livro (entre as quais estão imagens do Farol de Itapuã, o Lago Guaíba, a Laguna dos Patos, dunas, figueiras, cactos, entre outras) é justificada pela luta política de Lutz (junto a entidades ecologistas), que em 1985 liderou uma série de manifestações pelo impedimento da destruição do Parque Estadual de Itapuã, no município de Viamão, que sofria com ocupação desordenada (e em boa parte ilegal) de seu território e com a extração de granito rosa realizada por pedreiras que tomaram conta do local à época. 
"No meu texto, falo um pouco da história (e sobre essas formações de granito) de Itapuã, que tem os cerros, montanhas, e matacões que quase foram à ruína, com as atividades das pedreiras", diz a jornalista. "Portanto, esse ensaio fotográfico assinado pelo Marenco ajuda a mostrar uma beleza que foi preservada graças ao dito 'ecochatismo' do Lutz, que fez inúmeros protestos no lugar, inclusive marcando as pedras com uns 'x' em vermelho. Foi essa ação dele que preservou essa joia ambiental, esse tesouro natural que é o Parque Estadual de Itapuã. A escolha por fazer essas fotos é também uma forma de honrar o amor e a reverência de Lutz por Gaia, lembrando que nosso planeta é um sistema que depende de tudo que está na Terra: minerais, água, ar e todas as espécies vivas."
Ao avaliar que o ambientalista tinha uma visão não somente baseada na Ciência, "com seu lado pragmático", mas também poética, sustentando que o ser humano deveria ser o "cérebro" de Gaia e não "um câncer", com suas ações destrutivas, Lúcia destaca a importância das palavras de Lutz sobre consumo conscientedesenvolvimento sustentável. "O aquecimento global mostra que Gaia está com 'febre', por causa da nossa insensatez", lamenta a jornalista. "Uma coisa que ele falava é que existe um ponto de não retorno nessa dinâmica de devastação que vem ocorrendo nos últimos 200 anos: não será preciso derrubar o último pé de árvore de uma floresta para ela morrer, uma vez que a mão do homem está acabando com o ecossistema", pontua. "Ele era um visionário que falava da diferença entre Ciência e tecnologia, conhecimento e sabedoria: não basta ter conhecimento se isso não for utilizado de maneira sábia."
Crítico dos modelos de produção e consumo da sociedade contemporânea, José Lutzenberger acreditava que a transição para uma sociedade sustentável só aconteceria quando o meio empresarial compreendesse que poderia trabalhar com a natureza em vez de apenas explorá-la. Ele explicava a necessidade de se preservar o meio ambiente em linguagem acessível a todos os públicos e exercitava o ativismo ecológico, indo além da contestação e apontando soluções. Em 1971, Lutz fundou a Agapan, uma das primeiras associações ecológicas do Brasil, que ganhou projeção local, nacional e internacional em inúmeras campanhas, conseguindo importantes conquistas em uma época em que o ambientalismo ainda era uma causa desconhecida pela maioria das pessoas. Nascido em Porto Alegre, no dia 17 de dezembro de 1926, "o profeta" das atuais mudanças climáticas faleceu em 14 de maio de 2002. 

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