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Publicada em 30 de Setembro de 2024 às 14:25

Mostra icônica de Elida Tessler marca o aniversário de três anos do V744atelier

'Você me dá  a sua palavra' é obra central da exposição 'Word, Work, World', na qual a artista Elida Tessler explora conexões entre a linguagem cotidiana e a arte

'Você me dá a sua palavra' é obra central da exposição 'Word, Work, World', na qual a artista Elida Tessler explora conexões entre a linguagem cotidiana e a arte

ELIDA TESSLER/DIVULGAÇÃO/JC
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Adriana Lampert
Adriana Lampert Repórter
A exposição Word, Work, World, assinada pela artista visual Elida Tessler marca as comemorações dos três anos de existência do V744atelier (rua Visconde do Rio Branco, 744), espaço independente fundado e administrado pela também artista visual Vilma Sonaglio. A visitação acontece até 14 de novembro, sempre de quartas a sextas-feiras, das 14h às 17h, com entrada franca.
A exposição Word, Work, World, assinada pela artista visual Elida Tessler marca as comemorações dos três anos de existência do V744atelier (rua Visconde do Rio Branco, 744), espaço independente fundado e administrado pela também artista visual Vilma Sonaglio. A visitação acontece até 14 de novembro, sempre de quartas a sextas-feiras, das 14h às 17h, com entrada franca.
Dedicado à criação e à exposição de arte contemporânea, o V744atelier tem sido palco de exposições, experimentações e eventos culturais, desde o dia 18 de setembro 2021. Segundo Vilma, nesse período ocorreram 12 mostras de artes visuais, sendo a maioria individuais. "Vibramos intensamente em todas elas; e todas foram muito importantes", comenta. "A cada exposição e cada artista que chega ao espaço temos um novo desafio: entender e se adaptar às vontades deles, e ajudar sem interferir, deixando que o autor da mostra seja o protagonista, trazendo seu trabalho inteiro, de forma genuína", emenda a proprietária do local. 
Vilma destaca, ainda, que a cada exposição propõe também "um desafio ao público", que é convidado a pensar e a refletir, seja apreciando as obras, seja participando dos tradicionais encontros Conversa com o artista, que ocorrem no decorrer do período das mostras em cartaz, com a presença dos autores dos trabalhos exibidos.

No caso de Word, Work, World, outra comemoração soma-se à celebração de três anos do V744atelier: os 20 anos de uma das mais potentes instalações de Elida Tessler, intitulada Você me dá a sua palavra?. O trabalho, iniciado em 2004 (sem data limite para terminar), consiste na coleção de palavras manuscritas na superfície de prendedores de roupa de madeira, como um meio de explorar as conexões entre a linguagem cotidiana e a arte, elementos que são caros no processo da artista, que é professora aposentada do Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs). Ela também é conhecida por ter fundado e coordenado (junto com Jailton Moreira) o Torreão – espaço de produção e pesquisa em arte contemporânea que manteve suas atividades em Porto Alegre entre 1993 e 2009. 
Desenvolvendo pesquisa em torno das questões que envolvem arte e literatura, relacionando a palavra escrita à imagem visual, Elida acumulou ao longo de duas décadas um total de 7,9 mil prendedores de roupa, com uma série de palavras coletadas entre amigos, parentes, vizinhos, colegas de trabalho, entre outras pessoas que cruzaram seu caminho. "É um trabalho que surge da escuta – de uma situação, provocação, acaso, sensibilidade", avalia a artista. A ideia surgiu a partir de uma conversa sua com um motorista de táxi. "Em 2004, eu viajei para Macapá (AP), a convite da Funarte, e quando cheguei, esse condutor de veículo me contou que o prefeito daquela cidade havia sido preso, por 'faltar com a palavra'. No dia seguinte, pelos jornais, descobri que a detenção fora motivada por um desvio de verbas", recorda.
Assim, a artista assumiu o ensejo de realizar um "desvio de verbos", como "uma reação, uma resposta" ao ocorrido. "Me surgiu a ideia de esticar um fio na beira do Rio Amazonas, com palavras das pessoas do lugar escritas em prendedores de madeira (objeto escolhido para fazer uma associação à prisão do político)". De lá para cá, o que inicialmente era uma espécie de performance se consolidou como uma das produções mais icônicas de Elida, já apresentada em vários estados brasileiros e em outros quatro países. No espaço V744atelier, a instalação surge em sua totalidade, com os milhares de prendedores dispostos em um varal único de fio aço, "cada um representando um encontro e uma palavra oferecida por outra pessoa". "Este é o trabalho que estará no centro da exposição, (apresentado na sala principal, na antessala, e em um trecho do pátio), mas na mostra há outras três obras relacionadas", explica a artista. 
Logo na entrada, no corredor que está localizado após a porta principal que dá acesso ao espaço expositivo, estará Tempo temporal, que inclui uma série fotográfica de Vilma Sonaglio – que documenta outro trabalho de Elida (Temporal) –, realizada em 1998, e um texto de Jailton Moreira, também escrito naquele ano, sob o título de Isto não é poesia. "Recebi esse texto acerca de Temporal, em forma de carta pessoal, e, em 2004, encomendei a impressão do escrito em papel fotográfico, para utilizar neste novo trabalho como uma representação dessa ligação das palavras e imagens", destaca a artista. Ela observa que, passados 26 anos, esta é primeira vez que a obra com este conjunto de fotografias e texto será exposta.
A instalação original Temporal foi constituída por 74 palavras bordadas em pequenas toalhas de mão estendidas em um varal, que evocam noções de temporalidade. Presas ao tecido, linearmente encadeadas mas livres do contexto original, as palavras, assim dispostas, estendem seus significados para outras associações. A artista afirma que colecionar palavras e objetos constitui o que ela denomina de "arqueologia do sensível", em que pequenas narrativas e encontros são guardados para futuras interpretações. 

Também Romance (2024), livro de tiragem única, assinado pelo escritor e professor Reginaldo Pujol Filho em parceria com Elida, estará disposto na exposição, ao final do corredor do espaço cultural. A publicação é um poema feito com 7.672 palavras que integram a instalação central da mostra, com diferentes possibilidades de entendimento do conceito. Por fim, Uma pá lavra (2004) ficará localizado no pátio do V744. A obra é formada por duas pás, em cujas alças foram escritas palavras com tinta acrílica branca, que, reunidas, formam um só vocábulo. 

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