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Publicada em 05 de Setembro de 2024 às 19:16

Retrospectiva de Maria Lídia Magliani resgata xilogravuras de uma das principais artistas gaúchas

Xilogravuras de Maria Lídia Magliani, como Fábula (2010), estão em exposição na Galeria Sotero Cosme, no sexto andar da Casa de Cultura Mario Quintana, até o dia 27 de outubro

Xilogravuras de Maria Lídia Magliani, como Fábula (2010), estão em exposição na Galeria Sotero Cosme, no sexto andar da Casa de Cultura Mario Quintana, até o dia 27 de outubro

Thales Leite/Divulgação/JC
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Adriana Lampert
Adriana Lampert Repórter
Dona de um trabalho único e autêntico, a artista visual pelotense Maria Lídia Magliani (1946 - 2012) destacou-se na carreira por sua estética neoexpressionista e forte engajamento feminista. Apesar da maioria de suas obras serem dedicadas à pintura, também era desenhista, gravadora, figurinista e cenógrafa. Parte desta produção está exposta, atualmente, na Galeria Sotero Cosme, no sexto andar da Casa de Cultura Mario Quintana (rua dos Andradas, 736). Intitulada Magliani - Obra Gráfica, a mostra, que reúne cerca de 70 trabalhos da artista (a maioria em xilogravura), fica em cartaz até o dia 27 de outubro, com visitação gratuita, de terças-feiras a domingos, das 10h às 19h.
Dona de um trabalho único e autêntico, a artista visual pelotense Maria Lídia Magliani (1946 - 2012) destacou-se na carreira por sua estética neoexpressionista e forte engajamento feminista. Apesar da maioria de suas obras serem dedicadas à pintura, também era desenhista, gravadora, figurinista e cenógrafa. Parte desta produção está exposta, atualmente, na Galeria Sotero Cosme, no sexto andar da Casa de Cultura Mario Quintana (rua dos Andradas, 736). Intitulada Magliani - Obra Gráfica, a mostra, que reúne cerca de 70 trabalhos da artista (a maioria em xilogravura), fica em cartaz até o dia 27 de outubro, com visitação gratuita, de terças-feiras a domingos, das 10h às 19h.
A iniciativa, realizada em parceria entre o Sesc/RS, a Secretaria de Estado da Cultura (Sedac/RS), por meio do Instituto Estadual de Artes Visuais (IEAVi), e o Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul (Macrs) tem curadoria do artista visual e produtor Julio Castro, amigo pessoal e parceiro de ateliê de Magliani (como era conhecida). 
"Entre 2008 e 2012, trabalhamos juntos na produção de um grande número de xilogravuras; colaborei sendo impressor das gravuras dela", comenta Castro. Segundo ele, 90% do que está exposto na mostra é deste período. "Essas matrizes e material integram a coleção que mantenho no Estudio Dezenove/ Núcleo Magliani, um centro de referência da obra dela, fundado em 2013, no meu local de trabalho (onde ela também atuou por cerca de 15 anos)", destaca o curador. "As obras do Núcleo integram um conjunto que está sendo preservado e guardado por mim; mas também há, ainda, uma série de pinturas, desenhos, fotografias, folders e catálogos, de posse da família de Magliani", emenda, ressaltando que grande parte da produção da artista foi adquirida por colecionadores.
Ao longo de sua carreira, Magliani realizou mais de 100 exposições, individuais e coletivas. Suas obras também estão em museus, instituições públicas e privadas pelo Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Rio de Janeiro e São Paulo. "Essa mostra é uma 'puxada de fio' da obra dela, que é muito intensa", afirma o curador. De acordo com ele, dentre as dezenas de gravuras e pinturas que integram a exposição Magliani - Obra Gráfica, algumas foram selecionadas após um mapeamento de 150 coleções, e entrevistas com amigos da artista. 
"Considero importante abrir esse universo dentro da obra dela, para que outros curadores se debrucem. A produção dela foi múltipla, com contribuições no teatro (cenografias), diagramação, escultura, ilustração (inclusive para jornais), além da gravura e da pintura, que foi o que mais se percebeu dela", sinaliza Castro. Foi pensando nisso que ele criou o Núcleo Magliani, que funciona no Rio de Janeiro e se dedica a preservar e difundir o acervo, reunindo pinturas, desenhos, gravuras, documentos pessoais e materiais de referência de sua obra.
Herdeira do movimento das vanguardas históricas, Magliani se associou à nova figuração. "Suas obras são essencialmente figurativas, com muitas figuras e formas que vão no fundo da alma, pensando as questões do ser humano, demonstrando o estado de espírito e questionando as relações", avalia Castro. O curador revela também que a artista "era uma escritora voraz": "gostava muito de escrever cartas para os amigos, talvez isso tenha impregnado alguma de suas séries na relação com as imagens, e metaforicamente contando sua própria história; além disso seu trabalho tem muito do feminino".
Esse aspecto pode ser conferido pelo público na mostra em cartaz na Casa de Cultura Mario Quintana, onde estão expostas as séries Cartas (com figuras soltas no espaço, onde personagens ora entram ora saem da superfície, em um movimento constante e fluido); Todos (pinturas recortadas sobre Duratex – onde predominam cabeças e faces sem outra imagem ou representação); Um de todos (também com cabeças recortadas, mas em menos quantidade e em uma amplitude maior); e Procura-se (onde a artista inverte a paleta, antes de cor intensa, e trabalha somente preto e branco; reunindo bustos com objetos, plantas e outros elementos no lugar das cabeças).
"A série Procura-se tem um retrato insólito, onde Magliani faz releituras de clássicos como (René) Magritte (artista belga, do movimento surrealista)", observa Castro. "Ela, como outros de sua geração, sofreu apagamentos", pontua. O curador pondera que, mesmo consciente do racismo que atravessava sua vivência, a artista – que era uma mulher negra – fazia questão de não se declarar militante. "Ela que cresceu em um meio social desfavorecido, e nasceu no Rio Grande do Sul, um estado racista, teve coragem de enfrentar todas essas vicissitudes e se impor como artista pelo seu trabalho."
Além da Capital, Magliani - Obra Gráfica também passou pelo Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo (MALG), em Pelotas; pela Galeria Municipal de Arte Gerd Bornheim, em Caxias do Sul; e pelo Museu de Arte de Santa Maria (MASM) através da parceria entre o IEAVi e o Sesc/RS. A edição de Porto Alegre é a última etapa do circuito, mas a reprodução de uma das obras (Bailado) permanecerá na parede de uma das torres da Casa de Cultura, com frente para o Jardim Lutzemberger, em forma de painel de cinco metros, em stencil, pintado por Castro, como uma ação paralela à mostra.

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