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Publicada em 02 de Setembro de 2024 às 17:16

Morte do diretor Pier Paolo Pasolini gera incertezas após mais de quatro décadas

Investigação independente, divulgada pelo Financial Times, coloca em xeque conclusões originais sobre crime

Investigação independente, divulgada pelo Financial Times, coloca em xeque conclusões originais sobre crime

DOMÍNIO PÚBLICO/WIKIMEDIA COMMONS/REPRODUÇÃO/JC
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Folhapress
A morte do diretor e escritor italiano Pier Paolo Pasolini continua cercada por mistérios após mais de quatro décadas. O corpo do artista foi encontrado ensanguentado, com marcas de espancamento e de atropelamento em Roma, no dia 2 de novembro de 1975.
A morte do diretor e escritor italiano Pier Paolo Pasolini continua cercada por mistérios após mais de quatro décadas. O corpo do artista foi encontrado ensanguentado, com marcas de espancamento e de atropelamento em Roma, no dia 2 de novembro de 1975.
Na época, Giuseppe Pelosi, então com 17 anos, confessou ter sido o único responsável pelo crime. Em depoimento, o adolescente disse que o diretor o teria atacado durante um encontro sexual, motivo pelo qual decidiu matá-lo. Ele foi condenado, mas o homicídio nunca foi de fato esclarecido.
Décadas após a confissão, Pelosi voltou atrás e disse que assumiu a culpa por ter sofrido coerção. Em 2005, durante uma entrevista na televisão, ele afirmou que dois homens haviam matado Pasolini, chamando-o de "bicha" e "comunista imundo" enquanto o espancavam até a morte.
As lacunas em torno da morte voltaram a ser alvo de escrutínio depois que o Financial Times publicou uma extensa reportagem sobre o caso, no final de agosto.
O texto detalha a investigação independente promovida pelo advogado Stefano Maccioni desde 2008. Ao longo do trabalho, ele encontrou inconsistências que colocam em xeque a confissão de Pelosi.
Uma delas diz respeito à ausência de sangue no interior do carro de Pasolini que o jovem usou para fugir da cena do crime. Isso gerou estranhamento porque ele disse que estava pingando de sangue quando entrou no veículo.
Maccioni também encontrou evidências que sugerem a participação de outras pessoas embora o jovem tenha sido condenado como o único autor do assassinato. O advogado identificou vestígios de DNA que indicavam a presença de pelo menos mais cinco pessoas na cena do crime.
Em 1976, a política disse que Pelosi agiu com "cúmplices desconhecidos". No julgamento, porém, os outros participantes foram excluídos do veredito e a culpa foi atribuída integralmente ao jovem.
Durante sua investigação, Maccioni levantou a possibilidade de Pasolini ter sido vítima de um crime político, algo comum na Itália dos anos 1970. Ele sustenta essa hipótese porque o cineasta conduzia investigações sobre figuras poderosas, como Enrico Mattei, presidente da estatal de petróleo Ente Nazionale Idrocarburi (ENI).
À época, Pasolini estava escrevendo o romance "Petróleo", que narra a história de um engenheiro da ENI que tem dupla personalidade -católico e empenhado, de um lado, e sensual e diabólico, do outro. Na obra inacabada, a empresa é descrita como um centro de poder obscuro.
Munido dessas evidências, Maccioni tentou reabrir o caso, mas recebeu sucessivas negativas da Justiça italiana.

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