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Publicada em 02 de Setembro de 2024 às 16:04

2,1 mil caracteres e o paradoxo que a tecnologia traz

Cada vez mais temos acesso a conteúdos, cada vez menos dedicamos tempo para a leitura deles

Cada vez mais temos acesso a conteúdos, cada vez menos dedicamos tempo para a leitura deles

Freepick/JC
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Jefferson Klein
Jefferson Klein Repórter
Quando soube que o número de caracteres para escrever as crônicas do Jornal do Comércio seria de cerca de 2,1 mil, cheguei a pensar, em um primeiro momento, que seria pequeno o espaço. Depois me lembrei que, por muito tempo, o limite do Twitter (atual X) era 140 caracteres, então percebi que tinha um latifúndio para preencher.
Quando soube que o número de caracteres para escrever as crônicas do Jornal do Comércio seria de cerca de 2,1 mil, cheguei a pensar, em um primeiro momento, que seria pequeno o espaço. Depois me lembrei que, por muito tempo, o limite do Twitter (atual X) era 140 caracteres, então percebi que tinha um latifúndio para preencher.
Não que a qualidade do que é escrito deva ser avaliada pelo tamanho, porém, nos dias de hoje, uma crônica nesse formato praticamente é um tratado científico. Porque a vida acelerou, apesar da leitura, na minha opinião, ser um prato que deveria ser apreciado calmamente e não um sanduíche que a gente engole na frente do computador para continuar alguma tarefa.
Imagina como seriam alguns livros clássicos hoje se quisessem acompanhar a pressa do nosso cotidiano (alerta de spoiler). Moby Dick: “Chamai-me Ismael, meu capitão queria fisgar uma baleia branca, o navio afundou, morreram todos, menos eu”. No caso de Shakespeare: “Romeu e Julieta se amam, suas famílias se odeiam, deu ruim pro match”.
Eu escrevendo esse “textão” e você lendo até aqui (bom, espero que você ainda esteja aqui... alô?) não é algo comum no nosso dia a dia. Não quer dizer que como as coisas são atualmente seja algo bom ou ruim, elas são do jeito que são. Mas, a falta de leituras mais profundas, mais tempo para se dedicar a um livro, pode deixar a nossa sociedade mais rasa, sem tanto poder de contextualização.
É um paradoxo que hoje, com todas as facilidades tecnológicas que temos para acessar diversas obras, de vários autores nacionais e internacionais, não tenhamos mais tempo ou vontade de ler esses materiais. Eu já enchi meu Kindle de textos e vou me enganando: “uma hora eu leio todos”. Aí chega o compromisso da vez e acaba com os meus planos.
De qualquer forma, estou chegando perto dos 2,1 mil caracteres propostos e almejo ser preciso. Números redondos é algo muito sério. Tente ir ao supermercado e pedir 163 gramas de queijo muçarela e se prepare para o olhar atônito ou até mesmo furioso do atendente. Então, fecho por aqui e vou tentar seguir meu próprio conselho e ler um livro.

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