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Publicada em 20 de Agosto de 2024 às 19:09

Celebrando dez anos, coletivo Pretagô leva sua 'Mesa Farta' ao CHC Santa Casa

Coletivo artístico Pretagô celebra uma década de trajetória, com apresentação do espetáculo 'Mesa farta', no teatro do Centro Histórico Cultural Santa Casa

Coletivo artístico Pretagô celebra uma década de trajetória, com apresentação do espetáculo 'Mesa farta', no teatro do Centro Histórico Cultural Santa Casa

Laura Testa/Divulgação/JC
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Adriana Lampert
Adriana Lampert Repórter
Celebrando dez anos de existência, o coletivo artístico Pretagô leva seu mais recente espetáculo, Mesa farta, para o palco do teatro do Centro Histórico Cultural (CHC) Santa Casa (av. Independência, 75). As sessões acontecem nesta sexta-feira (23) e no sábado (24), sempre às 20h, dentro da programação do Edital das Artes 2024 - CHC Santa Casa. Os ingressos custam entre R$ 20,00 e R$ 50,00 e estão à venda pela plataforma Sympla.
Celebrando dez anos de existência, o coletivo artístico Pretagô leva seu mais recente espetáculo, Mesa farta, para o palco do teatro do Centro Histórico Cultural (CHC) Santa Casa (av. Independência, 75). As sessões acontecem nesta sexta-feira (23) e no sábado (24), sempre às 20h, dentro da programação do Edital das Artes 2024 - CHC Santa Casa. Os ingressos custam entre R$ 20,00 e R$ 50,00 e estão à venda pela plataforma Sympla.
Dirigido por Thiago Pirajira, o elenco formado por Bruno Fernandes, Laura Lima, Manuela Miranda e Silvana Rodrigues propõe uma reflexão sobre a "mesa" como o lugar-objeto, que serve de suporte para a realização de ações simples e cotidianas, porém fundamentais. "Sobre ela comemos, bebemos, choramos, rimos, celebramos a vida e a morte, sonhamos, divagamos e decidimos", sinaliza a sinopse da montagem, que segundo o diretor do grupo, foi pensada para ir além do "estereótipo da dor".
"Queríamos falar de aspectos positivos e festivos em torno das vidas negras; então fabulamos as nossas existências em um mundo em que a gente inverte algumas lógicas", explica Pirajira. "Isso se deu, porque começamos a contestar os próprios caminhos do grupo, bem como nossas escolhas de linguagem estética, optando por retirar as denúncias de racismo do primeiro plano e dar espaço para nossas imaginações em torno de um mundo que a gente deseja, com fartura de vida, de prosperidade, de axé."
Ao mesmo tempo, segundo o artista, o título Mesa farta tem duplo sentido: se por um lado não deixa de se referir à inconformidade e ao clamor por um "basta" de violência sistêmica, por outro – e principalmente – representa a fartura  metafórica e a criação de imagens mentais positivas a respeito da resistência negra. "Na mesa são feitos acordos sobre o mundo. O grupo Pretagô se lança a pensar sobre a possibilidade de mudanças a partir das escolhas, confissões, compartilhamentos, celebrações e decisões que se observam e que precisam ser tomadas na atualidade", reafirma o release da peça. 
"O que pode fazer um grupo de teatro negro?". Com esta provocação, o Pretagô decidiu exercitar sua liberdade artística para romper com "todas as arestas" nas quais a população afrodescendente se colocou e foi colocada. "Este é um espetáculo que marca uma 'crise de identidade' (positiva) do coletivo; que nos faz entender qual nosso trabalho no teatro. Nos colocamos o desafio de fazer uma montagem que questionasse o nosso jeito de criar", explica o diretor. 
Segundo Pirajira, essas mudanças podem ser facilmente percebidas pelo público que já acompanha o trabalho do grupo constituído majoritariamente por mulheres e reconhecido (com uma série de premiações na última década) por sua expressividade na cena teatral gaúcha. Dando sequência à pesquisa e à promoção da representatividade e do protagonismo negro nas artes cênicas (já presente em outros espetáculos da trupe, a exemplo do primeiro: Qual a diferença entre o charme e o funk?, que estreou em dezembro de 2014), o Pretagô apresenta, em Mesa farta, elementos do afrofuturismo, da contemporaneidade, e da atualização de uma tradição. "A ancestralidade segue, mas dá espaço para outras imaginações sobre as nossas pertenças", destaca o diretor.
Contando com duas mesas grandes (de 1m x 70 cm) como cenário, que ora se juntam e ora estão separadas, o elenco se intercala em cenas individuais e coletivas, utilizando monólogos extraídos de textos clássicos da dramaturgia euroocidental. Esse foi um dos caminhos de experimentação dos artistas no espetáculo, visto que todas as outras montagens do grupo contavam com dramaturgias a partir de relatos pessoais, além de experiências individuais e coletivas, misturadas a outras histórias, textos e memórias.
Outra novidade é a trilha sonora, que, ao contrário dos espetáculos anteriores – que contavam com música ao vivo, ao som de tambores –, é embalada por mixagens eletrônicas, beats sonoros misturados com ritmos como funk carioca, rap, rhythm and blues, hip hop e distorções nos microfones. Também os figurinos – antes repletos de elementos evidentes de figuras africanas, como turbantes, entre outros – mudam a estética, agora feitos de tecidos metálicos.
"A gente sempre utiliza a materialidade dos alimentos, e em Mesa farta não foi diferente", pondera Pirajira, revelando que durante a peça os atores e atrizes vão preparando alimentos, servidos ao público, no final das sessões. O diretor comemora esta minitemporada no teatro do CHC Santa Casa, ressaltando que, apesar do espetáculo ter sido apresentado em duas ocasiões (em 2020 e em 2023, somando apenas cinco sessões), o grupo considera o retorno à cena como a estreia oficial da montagem. "Logo após estrearmos, veio a pandemia de Covid-19, o que desestruturou nossas atividades. O Pretagô é um grupo de artistas periféricos, que não conseguiu se colocar no meio virtual (que exigia equipamentos) como alternativa de seguir trabalhando durante o isolamento." 
Ao avaliar os desafios ao longo dos últimos anos e em toda a trajetória do coletivo, Pirajira destaca que "a resistência é um traço do grupo". "A maioria dos integrantes tinham 20 anos de idade, em 2014. Na época, representavam uma juventude negra que via a potência do teatro; agora, aos 30 anos, esses artistas buscam o retorno financeiro que dá estofo para continuar seu trabalho", avalia. "Nesses dez anos, não recebemos nenhum patrocínio de nenhum edital (e sempre nos inscrevemos). Então, nossas produções sempre foram totalmente autônomas; apesar disso, desejamos que o grupo também alcance o reconhecimento econômico digno de seu trabalho, já que lutamos por uma sociedade mais igualitária."

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