Longa-metragem exibido em competição em Gramado neste domingo (11), Estômago 2 - O Poderoso Chef marcou o retorno, em formato de franquia, de um dos clássico recentes do cinema brasileiro. Naturalmente, as expectativas eram altas em torno de continuação, que prometia inserir o muito amado Raimundo Nonato (João Miguel) em um contexto de aproximação com a máfia italiana, centralizado no personagem duplo Roberto / Don Caroglio (Nicola Siri). A reação na saída do Palácio dos Festivais, porém, foi morna e dividida, em especial pela ausência de João Miguel - relativa na tela, já que seu personagem se vê diminuído à posição de um coadjuvante de luxo, e completa no Festival de Cinema, já que o ator não apareceu na Serra gaúcha - o que gerou comentários sobre uma suposta rejeição pública do ator ao resultado final do filme.
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"(A ausência de Miguel) foi por motivos de força maior, uma questão contratual. É a única coisa que posso responder", disse Claudia da Natividade, produtora executiva do longa, sem entrar em detalhes. "O que a gente pode dizer é que não foi por insatisfação com o filme (que o ator não veio a Gramado). Na verdade, é algo que nos dói bastante, ter que dizer apenas isso", reforçou o diretor Marcos Jorge. Respostas que, no fundo, acabaram ampliando o constrangimento diante da situação.
De fato, quem for aos cinemas no final de agosto, quando o filme chega às salas de exibição, esperando um reencontro pleno com um dos anti-heróis mais bem amados do cinema nacional corre sério risco de ficar bem chateado. Outros elementos da bem-sucedida narrativa original de Marcos Jorge - o encanto da culinária, o equilíbrio tênue entre comédia e violência, a observação mordaz sobre as relações de poder - estão lá, mas falta o carisma do fio condutor - ou, pior ainda, o fio condutor está lá, mas atuando com o freio de mão puxado, em uma voltagem abaixo da sua real capacidade. Fazendo pouco mais do que sobreviver atrás das grades, transformado em moeda na disputa entre as facções de Etecetera (Paulo Miklos, que retoma o papel em ótima atuação) e do mafioso Don Caroglio (ambos notadamente mais presentes e poderosos do que ele próprio na trama), o nordestino que encontrou uma jornada de redenção por meio da cozinha no filme original se vê relegado a uma posição sempre subalterna, quase como se ele precisasse pedir licença para estar no próprio filme - o que, muito compreensivelmente, choca e decepciona quem se encantou com a película original.
Mas que não se ache que Estômago 2 - O Poderoso Chef é desprovido de méritos. De fato, é um filme que pode funcionar muito bem em um clima mais descontraído, de quem compra um refrigerante e uma pipoca antes de entrar na sala de cinema - e que, paradoxalmente, talvez funcione muito melhor com quem não assistiu a película original. Há duas tramas fundamentais, correndo paralelas o tempo todo: por um lado, a transformação do ator de teatro fracassado Roberto no poderoso e implacável Don Caroglio e, por outro, a disputa entre ele e Etcetera em um presídio brasileiro, com a culinária apurada de Raimundo Nonato costurando as dinâmicas dessa disputa. A direção de Marcos Jorge é eficiente, fazendo com que as duas histórias fluam bem e sejam recheadas de elementos divertidos. Nicola Siri se sai bem em um papel bem mais complicado do que parece, e as inúmeras referências aos clássicos hollywoodianos sobre a máfia italiana (embora cheguem, em alguns momentos, à beira do exaustivo) amarram bem com o enredo, em especial na caprichada cena final no restaurante brasileiro da família de Roberto.
"(A ausência de Miguel) foi por motivos de força maior, uma questão contratual. É a única coisa que posso responder", disse Claudia da Natividade, produtora executiva do longa, sem entrar em detalhes. "O que a gente pode dizer é que não foi por insatisfação com o filme (que o ator não veio a Gramado). Na verdade, é algo que nos dói bastante, ter que dizer apenas isso", reforçou o diretor Marcos Jorge. Respostas que, no fundo, acabaram ampliando o constrangimento diante da situação.
De fato, quem for aos cinemas no final de agosto, quando o filme chega às salas de exibição, esperando um reencontro pleno com um dos anti-heróis mais bem amados do cinema nacional corre sério risco de ficar bem chateado. Outros elementos da bem-sucedida narrativa original de Marcos Jorge - o encanto da culinária, o equilíbrio tênue entre comédia e violência, a observação mordaz sobre as relações de poder - estão lá, mas falta o carisma do fio condutor - ou, pior ainda, o fio condutor está lá, mas atuando com o freio de mão puxado, em uma voltagem abaixo da sua real capacidade. Fazendo pouco mais do que sobreviver atrás das grades, transformado em moeda na disputa entre as facções de Etecetera (Paulo Miklos, que retoma o papel em ótima atuação) e do mafioso Don Caroglio (ambos notadamente mais presentes e poderosos do que ele próprio na trama), o nordestino que encontrou uma jornada de redenção por meio da cozinha no filme original se vê relegado a uma posição sempre subalterna, quase como se ele precisasse pedir licença para estar no próprio filme - o que, muito compreensivelmente, choca e decepciona quem se encantou com a película original.
Mas que não se ache que Estômago 2 - O Poderoso Chef é desprovido de méritos. De fato, é um filme que pode funcionar muito bem em um clima mais descontraído, de quem compra um refrigerante e uma pipoca antes de entrar na sala de cinema - e que, paradoxalmente, talvez funcione muito melhor com quem não assistiu a película original. Há duas tramas fundamentais, correndo paralelas o tempo todo: por um lado, a transformação do ator de teatro fracassado Roberto no poderoso e implacável Don Caroglio e, por outro, a disputa entre ele e Etcetera em um presídio brasileiro, com a culinária apurada de Raimundo Nonato costurando as dinâmicas dessa disputa. A direção de Marcos Jorge é eficiente, fazendo com que as duas histórias fluam bem e sejam recheadas de elementos divertidos. Nicola Siri se sai bem em um papel bem mais complicado do que parece, e as inúmeras referências aos clássicos hollywoodianos sobre a máfia italiana (embora cheguem, em alguns momentos, à beira do exaustivo) amarram bem com o enredo, em especial na caprichada cena final no restaurante brasileiro da família de Roberto.
Talvez se o filme tivesse deixado a ideia de continuação de lado, propondo a si mesmo de forma mais explícita como um spin off, tivesse obtido uma aprovação maior por parte do público que ansiava pelo retorno pleno de Raimundo Nonato. Do jeito que ficou, porém, não deu muito certo - e a equipe responsável pela promoção e distribuição de Estômago 2 vai ter que lidar com essa frustração, da melhor forma que puder.
Ausência de João Miguel teve "motivo de força maior", diz equipe
Na manhã de segunda-feira (12), parte da equipe de Estômago 2 - O Poderoso Chef concedeu coletiva na Sociedade Recreio Gramadense, e de certa forma defendeu-se das insinuações em torno da ausência de João Miguel e das críticas à construção do novo filme. O diretor Marcos Jorge, por exemplo, argumentou a favor de sua decisão de explorar a estética - e os excessos - dos filmes de mafioso, e de inseri-la em um contexto próximo do fantasioso, citando como exemplo o desfile de modas eclesiásticas de Federico Fellini no longa-metragem Roma. "Reivindico o direito de fazer cinema brasileiro não plenamente realista, de brincar com o conceito de filme de gangster e trazê-lo para o nosso universo", reforçou.
Por sua vez, Nicola Siri celebrou a oportunidade de participar do filme e de, enquanto ator, tomar parte nessa exploração estética dos estereótipos da máfia. "O mafioso moderno é um conceito que se baseou na cinematografia de Hollywood, enquanto a máfia de verdade é uma coisa muito diferente", argumentou. "Caroglio é um mafioso clássico, poderosíssimo, sem medo de nada e de ninguém, e foi maravilhoso ser o Caroglio e, ao mesmo tempo, descobrir o Roberto. Gosto da fragilidade de Roberto, essa coisa de ser um ator que não consegue despontar, como tantos na Itália, e de repente achar o caminho dele dessa forma tão inusitada."
De acordo com Marcos Jorge, existe a possibilidade de uma parte 3 de Estômago, que está em fase de negociação. "Os italianos (país com o qual Estômago 2 foi feito enquanto co-produção), em especial, gostariam (de uma terceira parte). Não está consolidado, mas faz parte da proposta, inclusive para fechar algumas pontas soltas do segundo filme". Seja como for, o diretor deixou claro que, apesar da força de Raimundo Nonato junto ao público, a ideia não é construir uma trilogia em torno dele. "Embora o primeiro filme seja muito João Miguel, é uma franquia sobre poder e culinária. Isso é algo que estava dito desde o primeiro filme, que a gente descrevia como 'uma fábula nada infantil sobre poder, sexo e culinária'. E é bastante difícil fazer um filme sobre culinária", acentuou.
Ausência de João Miguel teve "motivo de força maior", diz equipe
Na manhã de segunda-feira (12), parte da equipe de Estômago 2 - O Poderoso Chef concedeu coletiva na Sociedade Recreio Gramadense, e de certa forma defendeu-se das insinuações em torno da ausência de João Miguel e das críticas à construção do novo filme. O diretor Marcos Jorge, por exemplo, argumentou a favor de sua decisão de explorar a estética - e os excessos - dos filmes de mafioso, e de inseri-la em um contexto próximo do fantasioso, citando como exemplo o desfile de modas eclesiásticas de Federico Fellini no longa-metragem Roma. "Reivindico o direito de fazer cinema brasileiro não plenamente realista, de brincar com o conceito de filme de gangster e trazê-lo para o nosso universo", reforçou.
Por sua vez, Nicola Siri celebrou a oportunidade de participar do filme e de, enquanto ator, tomar parte nessa exploração estética dos estereótipos da máfia. "O mafioso moderno é um conceito que se baseou na cinematografia de Hollywood, enquanto a máfia de verdade é uma coisa muito diferente", argumentou. "Caroglio é um mafioso clássico, poderosíssimo, sem medo de nada e de ninguém, e foi maravilhoso ser o Caroglio e, ao mesmo tempo, descobrir o Roberto. Gosto da fragilidade de Roberto, essa coisa de ser um ator que não consegue despontar, como tantos na Itália, e de repente achar o caminho dele dessa forma tão inusitada."
De acordo com Marcos Jorge, existe a possibilidade de uma parte 3 de Estômago, que está em fase de negociação. "Os italianos (país com o qual Estômago 2 foi feito enquanto co-produção), em especial, gostariam (de uma terceira parte). Não está consolidado, mas faz parte da proposta, inclusive para fechar algumas pontas soltas do segundo filme". Seja como for, o diretor deixou claro que, apesar da força de Raimundo Nonato junto ao público, a ideia não é construir uma trilogia em torno dele. "Embora o primeiro filme seja muito João Miguel, é uma franquia sobre poder e culinária. Isso é algo que estava dito desde o primeiro filme, que a gente descrevia como 'uma fábula nada infantil sobre poder, sexo e culinária'. E é bastante difícil fazer um filme sobre culinária", acentuou.