A coletiva para a imprensa reunindo a equipe de O Clube das Mulheres de Negócios, longa de Anna Muylaert que abriu a mostra competitiva do 52 Festival de Cinema de Gramado, terminou com muita emoção neste domingo (11). O filme traz como premissa uma inversão de perspectivas, na qual as mulheres ocupam as posições de poder e opressão de uma sociedade patriarcal, como a nossa - e durante a discussão de uma das cenas mais fortes do filme, na qual a poderosa personagem de Grace Gianoukas comete assédio sexual contra o jovem repórter Candinho (Rafael Vitti), a atriz Cristina Pereira, que também está no elenco, pediu a palavra e revelou ter sido vítima de violência sexual, aos 12 anos, indo para a escola.
"Eu nunca falei sobre isso em público", disse a atriz, em um clima de muita comoção. "Não é possível que ninguém tenha notado uma criança chegando na escola atrasada, com as roupas fora do lugar, e não tenha percebido que algo estava errado. Eu não sabia nada de sexo, ninguém (na escola) me ajudou. Minha mãe ficou preocupada: 'e se essa menina fica grávida, meu deus, o que vai ser?'", contou Cristina, enquanto era abraçada pelos demais integrantes do elenco. "Eu conto isso porque aconteceu comigo, e está acontecendo com muitas mulheres agora mesmo, e a gente não pode aceitar". Diante da forte emoção do momento, o mediador Roger Lerina optou por encerrar a coletiva, com a anuência da diretora Ana Muylaert, enquanto boa parte das pessoas presentes tentava se recompor e enxugar as lágrimas.
A cena, uma das mais importantes do filme, já havia sido comentada anteriormente pela diretora. "Ontem (sábado), enquanto assistíamos essa cena, dois homens na minha frente estavam rindo, como se fosse um momento engraçado do filme. E, ao mesmo tempo, a gente (mulheres) chora (diante da cena). Para nós, é um momento de muita dor", comentou Anna.
"Eu nunca falei sobre isso em público", disse a atriz, em um clima de muita comoção. "Não é possível que ninguém tenha notado uma criança chegando na escola atrasada, com as roupas fora do lugar, e não tenha percebido que algo estava errado. Eu não sabia nada de sexo, ninguém (na escola) me ajudou. Minha mãe ficou preocupada: 'e se essa menina fica grávida, meu deus, o que vai ser?'", contou Cristina, enquanto era abraçada pelos demais integrantes do elenco. "Eu conto isso porque aconteceu comigo, e está acontecendo com muitas mulheres agora mesmo, e a gente não pode aceitar". Diante da forte emoção do momento, o mediador Roger Lerina optou por encerrar a coletiva, com a anuência da diretora Ana Muylaert, enquanto boa parte das pessoas presentes tentava se recompor e enxugar as lágrimas.
A cena, uma das mais importantes do filme, já havia sido comentada anteriormente pela diretora. "Ontem (sábado), enquanto assistíamos essa cena, dois homens na minha frente estavam rindo, como se fosse um momento engraçado do filme. E, ao mesmo tempo, a gente (mulheres) chora (diante da cena). Para nós, é um momento de muita dor", comentou Anna.
Longa é uma "chanchada macabra", define diretora
Uma mistura de comédia com filme slasher - ou uma "chanchada macabra", como descreve a diretora - O Clube das Mulheres de Negócios tem como cenário um gigantesco clube particular, na qual algumas das mulheres mais poderosas do Brasil (interpretadas por ícones do cinema nacional como Louise Cardoso, Ítala Nandi, Grace Gianoukas, Cristina Pereira e Irene Ravachi) se reúnem para uma celebração cheia de excessos. Nessa realidade, os homens são submetidos a uma posição submissa, diante do poder exercido pelas mulheres - e uma dupla de repórteres, representados por Rafael Vitti e Luís Miranda, começa a desvendar as vilanias no subsolo do poder. A partir da fuga de algumas onças criadas na propriedade - representação da opressão das esferas de poder sobre o meio-ambiente e os recursos naturais do País - a ordem de poder começa a ruir, e o longa avança da comédia (muitas vezes mais incômoda do que engraçada) para o horror.
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"Comecei a escrever o roteiro em 2015, um pouco antes de começar o Fora Dilma (movimento popular pedindo a renúncia da então presidente Dilma Rousseff), em um momento de tensão de gênero crescente, querendo botar na tela essa agonia que estávamos vivendo", recorda Muylaert. Segundo ela, o resultado é um filme "sangue nos olhos", que traz semelhantes estilísticas inegáveis com Durval Discos (2003), filme mais bem sucedido da diretora, ao mesmo tempo que carrega um tom bastante distinto. "Durval foi feito num tempo de amor, e esse num tempo de raiva", resume ela.
O resultado é um longa que provoca muitas sensações no espectador, mas que, acima de tudo, não se incomoda de incomodar, como reforça Luís Miranda. "Não somos homens (nesse filme). E acho que a Anna teve essa percepção de escolher homens capazes de serem delicados e sutis, de passar adiante essa percepção. Esse olhar opressor tão masculino, inserido em personagens femininos, foi o que mais me chocou - e é um olhar que, quando está no rosto de um homem, passa despercebido. Muito homem hétero branco vai assistir esse filme e ficar incomodado, e acho que tem mais é que se incomodar, mesmo", acentuou.
O resultado é um longa que provoca muitas sensações no espectador, mas que, acima de tudo, não se incomoda de incomodar, como reforça Luís Miranda. "Não somos homens (nesse filme). E acho que a Anna teve essa percepção de escolher homens capazes de serem delicados e sutis, de passar adiante essa percepção. Esse olhar opressor tão masculino, inserido em personagens femininos, foi o que mais me chocou - e é um olhar que, quando está no rosto de um homem, passa despercebido. Muito homem hétero branco vai assistir esse filme e ficar incomodado, e acho que tem mais é que se incomodar, mesmo", acentuou.