De Gramado
"Agradeço ao Festival de Gramado por estar acontecendo este ano. É uma demonstração não só de amor ao cinema, mas de amor à vida". A frase de Matheus Nachtergaele, homenageado com o troféu Oscarito nesta 52ª edição do Festival de Cinema de Gramado, não se limitou a uma (sem dúvida muito importante) consideração às milhares de famílias afetadas pelas enchentes de maio deste ano no Estado. Tratou-se, também, de um reconhecimento do ator e realizador - um apaixonado pelo cinema e, sem dúvida, pela vida - ao esforço para manter de pé um espaço de importância invulgar para o cinema brasileiro.
"Agradeço ao Festival de Gramado por estar acontecendo este ano. É uma demonstração não só de amor ao cinema, mas de amor à vida". A frase de Matheus Nachtergaele, homenageado com o troféu Oscarito nesta 52ª edição do Festival de Cinema de Gramado, não se limitou a uma (sem dúvida muito importante) consideração às milhares de famílias afetadas pelas enchentes de maio deste ano no Estado. Tratou-se, também, de um reconhecimento do ator e realizador - um apaixonado pelo cinema e, sem dúvida, pela vida - ao esforço para manter de pé um espaço de importância invulgar para o cinema brasileiro.
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Nachtergaele concedeu coletiva de imprensa na tarde deste sábado (10), horas antes de receber o Oscarito no palco do Palácio dos Festivais. Demonstrando alegria com a homenagem, Nachtergaele disse que iria "tentar tomar esse dia como um presente" e saborear cada momento do dia. "Quero que seja um dia feliz, quero me sentir merecedor. Gramado é, no bom sentido, o mais familiar dos festivais - as pessoas conhecem, veem o tapete vermelho e sabem o que é. Vivi muitos momentos incríveis aqui", celebrou.
Durante a conversa, o ator relembrou o primeiro impacto que as imagens em movimento tiveram em sua vida - em um filme de família que teve a própria mãe de Nachtergaele como protagonista. Maria Cecília morreu em 1968, quando Matheus tinha apenas três meses de vida. Em uma festa de família, anos depois, imagens dela foram exibidas na parede de casa, a partir de um filme Super-8 restaurado. "Mostrava umas crianças brincando, e no meio delas uma moça moreninha, fazendo piada com a câmera. 'Sabe quem é essa? É a sua mãe'", relembrou. "Ela acenava um tchau (para a câmera) e, para mim, ela estava acenando para mim. Naquelas imagens, a minha mãe venceu a morte. Ganhamos de você, Deus, inventamos o cinema!"
No ano passado, Nachtergaele esteve em Gramado promovendo Mais Pesado é o Céu, de Petrus Cariry, do qual é um dos protagonistas - "um filme para ser visto grande, na tela do cinema", como frisou o ator várias vezes na coletiva. O filme, agora, está chegando às salas de exibição - enquanto a imagem do ator ocupa as telas da tevê diariamente, como o Norberto da novela Renascer, da Globo. Descrevendo a atração como "uma novela cinematográfica", Nachtergaele celebrou a boa aceitação do personagem, e também a disposição do diretor de fotografia Walter Carvalho em permitir mudanças que aproximam ainda mais a telinha da telona. Foi do ator, por exemplo, a ideia de quebrar a quarta parede e fazer Norberto conversar diretamente com a tela - o que virou um dos principais pontos de sucesso do personagem. "Ele virou meio que um cronista, faz fofoca sobre a novela diretamente com o público. As pessoas se queixam quando eu não olho (para a tela), perguntam 'por que você não falou comigo?'", diverte-se.
Outro projeto recente de Matheus Nachtergaele é a reedição de João Grilo, papel em O Auto da Compadecida que marcou a carreira do ator. Com estreia prevista para dezembro, O Auto da Compadecida 2 marca o retorno dele e de seu inseparável amigo Chicó (Selton Mello), 25 anos depois, com a direção de Guel Arraes. Um reencontro que, segundo Nachtergaele, vai mostrar como as coisas mudam com o tempo - em mais de um sentido. "A dupla vai estar lá, o arquétipo é o mesmo, mas a carne que a preenche é outra. Vai dar para ver isso, a perdição dos atores e a alegria deles de se reencontrarem com o personagem", disse. A importância do filme para o cinema nacional, segundo o ator, mal pode ser dimensionada. "O Auto fez as pessoas fazerem as pazes com o cinema brasileiro. As pessoas perderam a vergonha de dizer 'taí, eu gosto de cinema brasileiro' - e estavam erradas antes, porque o cinema brasileiro já era maravilhoso desde sempre, mas O Auto tem esse poder libertador."
Se o troféu Oscarito é uma celebração ao ator, é claro que celebrá-lo é também uma forma de engrandecer o cinema brasileiro - e Matheus Nachtergaele, apaixonado que é, quer fazer da própria alegria uma exaltação dessa paixão. "Para mim, (o brasileiro) é o melhor cinema do mundo, nosso cinema é mais legal que existe", afirma, empolgado. "No Brasil o cinema é colorido, arriscado, lindo, medonho, arriscado, sedutor. É incrível, acho uma loucura um brasileiro que não entende isso - e acho lindo que, uma vez que essa pessoa entenda, ela vai ter uma vida inteira para assistir filmes maravilhosos". Uma devoção que, em certo sentido, beira o religioso - e que o próprio Matheus reconhece. "Para mim, o cinema que eu amo, essa coisa da sala de cinema, é cada vez mais um lugar de livre oração. Os festivais serão pequenas igrejas. E Gramado será nossa Catedral."
Nachtergaele concedeu coletiva de imprensa na tarde deste sábado (10), horas antes de receber o Oscarito no palco do Palácio dos Festivais. Demonstrando alegria com a homenagem, Nachtergaele disse que iria "tentar tomar esse dia como um presente" e saborear cada momento do dia. "Quero que seja um dia feliz, quero me sentir merecedor. Gramado é, no bom sentido, o mais familiar dos festivais - as pessoas conhecem, veem o tapete vermelho e sabem o que é. Vivi muitos momentos incríveis aqui", celebrou.
Durante a conversa, o ator relembrou o primeiro impacto que as imagens em movimento tiveram em sua vida - em um filme de família que teve a própria mãe de Nachtergaele como protagonista. Maria Cecília morreu em 1968, quando Matheus tinha apenas três meses de vida. Em uma festa de família, anos depois, imagens dela foram exibidas na parede de casa, a partir de um filme Super-8 restaurado. "Mostrava umas crianças brincando, e no meio delas uma moça moreninha, fazendo piada com a câmera. 'Sabe quem é essa? É a sua mãe'", relembrou. "Ela acenava um tchau (para a câmera) e, para mim, ela estava acenando para mim. Naquelas imagens, a minha mãe venceu a morte. Ganhamos de você, Deus, inventamos o cinema!"
No ano passado, Nachtergaele esteve em Gramado promovendo Mais Pesado é o Céu, de Petrus Cariry, do qual é um dos protagonistas - "um filme para ser visto grande, na tela do cinema", como frisou o ator várias vezes na coletiva. O filme, agora, está chegando às salas de exibição - enquanto a imagem do ator ocupa as telas da tevê diariamente, como o Norberto da novela Renascer, da Globo. Descrevendo a atração como "uma novela cinematográfica", Nachtergaele celebrou a boa aceitação do personagem, e também a disposição do diretor de fotografia Walter Carvalho em permitir mudanças que aproximam ainda mais a telinha da telona. Foi do ator, por exemplo, a ideia de quebrar a quarta parede e fazer Norberto conversar diretamente com a tela - o que virou um dos principais pontos de sucesso do personagem. "Ele virou meio que um cronista, faz fofoca sobre a novela diretamente com o público. As pessoas se queixam quando eu não olho (para a tela), perguntam 'por que você não falou comigo?'", diverte-se.
Outro projeto recente de Matheus Nachtergaele é a reedição de João Grilo, papel em O Auto da Compadecida que marcou a carreira do ator. Com estreia prevista para dezembro, O Auto da Compadecida 2 marca o retorno dele e de seu inseparável amigo Chicó (Selton Mello), 25 anos depois, com a direção de Guel Arraes. Um reencontro que, segundo Nachtergaele, vai mostrar como as coisas mudam com o tempo - em mais de um sentido. "A dupla vai estar lá, o arquétipo é o mesmo, mas a carne que a preenche é outra. Vai dar para ver isso, a perdição dos atores e a alegria deles de se reencontrarem com o personagem", disse. A importância do filme para o cinema nacional, segundo o ator, mal pode ser dimensionada. "O Auto fez as pessoas fazerem as pazes com o cinema brasileiro. As pessoas perderam a vergonha de dizer 'taí, eu gosto de cinema brasileiro' - e estavam erradas antes, porque o cinema brasileiro já era maravilhoso desde sempre, mas O Auto tem esse poder libertador."
Se o troféu Oscarito é uma celebração ao ator, é claro que celebrá-lo é também uma forma de engrandecer o cinema brasileiro - e Matheus Nachtergaele, apaixonado que é, quer fazer da própria alegria uma exaltação dessa paixão. "Para mim, (o brasileiro) é o melhor cinema do mundo, nosso cinema é mais legal que existe", afirma, empolgado. "No Brasil o cinema é colorido, arriscado, lindo, medonho, arriscado, sedutor. É incrível, acho uma loucura um brasileiro que não entende isso - e acho lindo que, uma vez que essa pessoa entenda, ela vai ter uma vida inteira para assistir filmes maravilhosos". Uma devoção que, em certo sentido, beira o religioso - e que o próprio Matheus reconhece. "Para mim, o cinema que eu amo, essa coisa da sala de cinema, é cada vez mais um lugar de livre oração. Os festivais serão pequenas igrejas. E Gramado será nossa Catedral."