Porto Alegre,

Anuncie no JC
Assine agora

Publicada em 04 de Julho de 2024 às 01:25

Documentário 'À borda da vida' tem sessão de pré-estreia nesta sexta-feira (5), no Café Fon Fon

Filme retrata a relação da atriz Liane Venturella com sua mãe, Lia Regina (falecida em maio)

Filme retrata a relação da atriz Liane Venturella com sua mãe, Lia Regina (falecida em maio)

Projeto Gompa/Divulgação/JC
Compartilhe:
Adriana Lampert
Adriana Lampert Repórter
Cuidar de quem nos cuidou nem sempre é uma tarefa fácil: conciliar a vida profissional com as necessidades de uma pessoa que precisa de atenção integral exige dedicação, paciência e resiliência. Essa e outras reflexões em torno do afeto como resposta ao amor recebido permeiam o documentário À borda da vida, curta-metragem que tem sessão de pré-estreia nesta sexta-feira, às 19h, no Café Fon Fon (rua Vieira de Castro, 22). O filme, dirigido por Camila Bauer, mostra a relação da atriz Liane Venturella com sua mãe, Lia Regina Carvalho Venturella, falecida no início de maio. A exibição tem entrada franca.
Cuidar de quem nos cuidou nem sempre é uma tarefa fácil: conciliar a vida profissional com as necessidades de uma pessoa que precisa de atenção integral exige dedicação, paciência e resiliência. Essa e outras reflexões em torno do afeto como resposta ao amor recebido permeiam o documentário À borda da vida, curta-metragem que tem sessão de pré-estreia nesta sexta-feira, às 19h, no Café Fon Fon (rua Vieira de Castro, 22). O filme, dirigido por Camila Bauer, mostra a relação da atriz Liane Venturella com sua mãe, Lia Regina Carvalho Venturella, falecida no início de maio. A exibição tem entrada franca.
"Depois que a mãe partiu, eu não entrei mais em contato com o curta. A proposta era fazer uma grande homenagem a ela, um registro de devoção; agora, mais ainda", comenta Liane. "Rever a mãe conversando, brincando, interagindo em vida é a possibilidade que só o registro audiovisual consegue. Que bom que esse filme foi feito e concluído antes da partida dela" emenda a atriz.
Aos 93 anos, Lia precisava de cuidados 24 horas por dia. Apesar da fragilidade por conta da idade e de um câncer no intestino, era uma mulher "com muita vontade de viver", nas palavras da filha. "Dia 7 ela estaria completando 94 anos", comenta Liane. "Ela faleceu um dia depois de finalizarmos o curta", comenta a diretora. "Durante o processo de filmagens, dona Lia sempre foi muito espontânea; ela respondia às entrevistas de forma muito honesta e aberta", destaca Camila. "Inclusive a ideia de fazer o documentário surgiu disso: como as duas estavam sempre juntas, pois a Liane levava ela para os ensaios de outros trabalhos que fizemos a partir da pandemia de Covid-19, achamos que seria interessante registrar essa relação", pontua Camila.
A diretora avalia que, ainda que seja centrado na história de Liane com a mãe, 'À borda da vida' "abre portas" para se pensar essa relação em diferentes famílias. "Desenvolvemos um olhar amoroso, mas não romantizado sobre o cuidado com as pessoas no envelhecimento", pondera Camila. "Esse é um tema que está presente na vida de muitas pessoas, inclusive de outros profissionais da equipe, como o Álvaro RosaCosta (responsável pela trilha sonora, ao lado de Simone Rasslan), que começou a cuidar dos tios há cerca de quatro anos, e a Liliana Sulzbach (consultoria de audiovisual), que também cuidou de sua mãe (já falecida) e agora cuida de seu pai."
Narrado por Liane, com trechos de conversas entre ela e a mãe, em cenas do cotidiano das duas, À borda da vida traduz a realidade de muitos brasileiros que já chegaram à terceira idade. "Estou curiosa para saber como as pessoas vão receber o filme", destaca a diretora. Em um "jogo familiar" com momentos ora divertidos ora desafiadores, as duas mulheres se encontram em "papéis" trocados na cena, onde Lia revela sua forma subversiva de encarar o fato de que "depende" da atenção da filha. "Tentamos fazer um filme autêntico, incluindo as coisas difíceis na relação, mas conciliando com as coisas bonitas. É um documentário que registra a poesia da vida real."
Entender como lidar com o envelhecimento das pessoas que estão próximas, como conciliar tempo, afeto, e dar conta das questões econômicas (em torno de custos com cuidadores, remédios, planos de saúde) e promover a discussão sobre a qualidade de vida dos idosos é um tema que tem recebido atenção da equipe do filme, formada - entre outros - por alguns profissionais do coletivo Projeto Gompa. O grupo, que desenvolve projetos de experimentação em dramaturgia e linguagem cênica, realizou, desde 2019, outros dois trabalhos em audiovisual sobre relações familiares: A avó da menina (2021) e  A mãe da mãe da menina (2021). 
O título do novo documentário - que tem financiamento do Pró-Cultura RS, tendo sido contemplado pelo Edital Sedac 01/2022 — FAC Filma RS - surgiu da ideia de limiar entre "estar e não estar mais aqui", da "fragilidade da nossa existência no mundo", revela Camila. "É um clichê, mas é assim que vejo: a vida como um sopro mesmo. Nas filmagens, já percebíamos esse misto de presença e de ausência da dona Lia, que as vezes estava 100% focada no momento dos registros e outras apresentava um certo distanciamento. É sobre uma linha tênue que todos nos temos, em alguma medida, mas na senilidade é mais recorrente."
"O idoso em um país como o nosso é deixado à margem tanto pela sociedade, como pelas leis. Estar à borda é no duplo sentido, falamos do tempo cronológico e do distanciamento social. No caso de À borda da vida, retratamos uma realidade com privilégios de uma mãe que está sendo cuidada por uma filha", observa Liane. "Ela foi uma grande parceira, e eu levava ela para todos os lugares onde eu ia: para fazer teatro, para viajar, para gravar; era muito normal ela me acompanhar na vida. Esse filme é fruto disso, ela estava misturada na minha vida profissional", comenta. 
O documentário ainda conta com a montagem de Mateus Ramos e Raoni Ceccim (que também realizou a finalização de imagens), desenho e mixagem de som de Juan Quintáns, e produção executiva de Fabiane Severo.
 

Notícias relacionadas