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Publicada em 30 de Junho de 2024 às 17:32

Michel Zózimo propõe uma viagem ao continente do inconsciente em mostra no Instituto Ling

Exposição Livro Verde, de Michel Zózimo, estreia nesta terça-feira (2) no Instituto Ling e promete fazer com que o espectador entre em um mundo de possibilidades

Exposição Livro Verde, de Michel Zózimo, estreia nesta terça-feira (2) no Instituto Ling e promete fazer com que o espectador entre em um mundo de possibilidades

FÁBIO DEL RE/VIVA FOTO/DIVULGAÇÃO/JC
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Maria Eduarda Zucatti Repórter
O artista santa-mariense Michel Zózimo apresenta, no Instituto Ling (rua João Caetano, 440) a partir desta terça-feira (2), sua exposição individual Livro Verde. A abertura será às 19h, com uma conversa entre o artista e a curadora Gabriela Motta, comentando detalhes sobre a concepção dos trabalhos e a montagem da mostra em Porto Alegre. Para participar do bate-papo, é necessário fazer inscrição prévia e sem custo no site institutoling.org.br. A exibição poderá ser conferida com entrada franca até o dia 11 de outubro, de segunda a sábado (exceto feriados), das 10h30min às 20h.A mostra convida o público a mergulhar no universo das enciclopédias e tudo o que possa existir dentro delas, através de 15 desenhos feitos em lápis aquarela e nanquim sobre papel algodão, uma colagem produzida através de recortes de seres encontrados em cerca de 25 enciclopédias e um livro, composto por todos os desenhos expostos. Vencedor do Prêmio Residência Artística do PECCSP em 2011 no Hangar, em Barcelona, Michel conta que as enciclopédias sempre fizeram parte de sua vida e seu trabalho, e que seus desenhos o fascinam. “Eu acredito que a ilustração científica tenha algumas características próprias, como o desenho exagerado nos detalhes, que se aproxima de uma imagem de arte”.As ciências das coisas impossíveis também fazem parte da lista de interesses de Zózimo. A partir delas, seus desenhos vão tomando forma primeiro por lápis de cor, e posteriormente com o nanquim. “Ele (o desenho) surge um pouco para tentar reproduzir as técnicas de ilustração científica, que são os desenhos feitos com a tinta nanquim”. A técnica, composta por pontos feitos a partir de marteladas em uma agulha com tinta, como nas tatuagens primitivas, tornam os projetos ainda mais impressionantes e trabalhosos. Cada uma das obras levou cerca de um mês e meio para ser concluída.Os animais se misturam com plantas, olhos, frutas e penas criando um universo imaginário dentro da folha de algodão com tamanho 30x40. Quando combinados, os desenhos “parecem vindos do avesso de um livro raro, onde o desenho não se separa da mão que o fez, e o olho que vê é o corpo inteiro”, de acordo com a curadora Gabriela Motta.E para o artista, o processo possui “uma relação de contemplação, de meditação. Tem quase um transe, porque, como eu fico muito tempo desenhando, é quase como uma visão, uma alucinação”. Ao descobrir que nenhum desenho é planejado, feito apenas pela intuição, a exposição se torna ainda mais impressionante. A relação de contemplação também pode ser vivenciada pelo espectador, ao admirar a colagem Embrionários, composta por centenas de recortes das enciclopédias do artista. A obra de 80 x 110cm cria uma liberdade de, ao observá-la, criar centenas de narrativas possíveis dentro desse caos organizado. Afinal, qualquer uma delas pode realmente estar inserida na obra. “Não existe uma historinha, mas existem sugestões. Eu começo a recortar as ilustrações, os seres, as plantas, os bichos, abro numa mesa e aí começa um jogo de ir colocando um animal encaixado no outro” explica Michel.
O artista santa-mariense Michel Zózimo apresenta, no Instituto Ling (rua João Caetano, 440) a partir desta terça-feira (2), sua exposição individual Livro Verde. A abertura será às 19h, com uma conversa entre o artista e a curadora Gabriela Motta, comentando detalhes sobre a concepção dos trabalhos e a montagem da mostra em Porto Alegre. Para participar do bate-papo, é necessário fazer inscrição prévia e sem custo no site institutoling.org.br. A exibição poderá ser conferida com entrada franca até o dia 11 de outubro, de segunda a sábado (exceto feriados), das 10h30min às 20h.

A mostra convida o público a mergulhar no universo das enciclopédias e tudo o que possa existir dentro delas, através de 15 desenhos feitos em lápis aquarela e nanquim sobre papel algodão, uma colagem produzida através de recortes de seres encontrados em cerca de 25 enciclopédias e um livro, composto por todos os desenhos expostos.

Vencedor do Prêmio Residência Artística do PECCSP em 2011 no Hangar, em Barcelona, Michel conta que as enciclopédias sempre fizeram parte de sua vida e seu trabalho, e que seus desenhos o fascinam. “Eu acredito que a ilustração científica tenha algumas características próprias, como o desenho exagerado nos detalhes, que se aproxima de uma imagem de arte”.

As ciências das coisas impossíveis também fazem parte da lista de interesses de Zózimo. A partir delas, seus desenhos vão tomando forma primeiro por lápis de cor, e posteriormente com o nanquim. “Ele (o desenho) surge um pouco para tentar reproduzir as técnicas de ilustração científica, que são os desenhos feitos com a tinta nanquim”. A técnica, composta por pontos feitos a partir de marteladas em uma agulha com tinta, como nas tatuagens primitivas, tornam os projetos ainda mais impressionantes e trabalhosos. Cada uma das obras levou cerca de um mês e meio para ser concluída.

Os animais se misturam com plantas, olhos, frutas e penas criando um universo imaginário dentro da folha de algodão com tamanho 30x40. Quando combinados, os desenhos “parecem vindos do avesso de um livro raro, onde o desenho não se separa da mão que o fez, e o olho que vê é o corpo inteiro”, de acordo com a curadora Gabriela Motta.

E para o artista, o processo possui “uma relação de contemplação, de meditação. Tem quase um transe, porque, como eu fico muito tempo desenhando, é quase como uma visão, uma alucinação”. Ao descobrir que nenhum desenho é planejado, feito apenas pela intuição, a exposição se torna ainda mais impressionante.

A relação de contemplação também pode ser vivenciada pelo espectador, ao admirar a colagem Embrionários, composta por centenas de recortes das enciclopédias do artista. A obra de 80 x 110cm cria uma liberdade de, ao observá-la, criar centenas de narrativas possíveis dentro desse caos organizado. Afinal, qualquer uma delas pode realmente estar inserida na obra. “Não existe uma historinha, mas existem sugestões. Eu começo a recortar as ilustrações, os seres, as plantas, os bichos, abro numa mesa e aí começa um jogo de ir colocando um animal encaixado no outro” explica Michel.

Livro Verde é um dos destaques de exposição de Michel Zózimo no Ling

Livro Verde é um dos destaques de exposição de Michel Zózimo no Ling

FABIO DEL RE/VIVA FOTO/DIVULGAÇÃO/JC
Além das enciclopédias, os livros também possuem uma parte do coração de Zózimo, em especial os raros: “eu tenho fascínio por encadernação, por lombada, por capa, por folha de rosto, por guarda, tudo dos livros”. Michel então decidiu criar o seu: O Livro Verde, exposto na mostra, que possui apenas seis unidades. “Eu pensei em fazer um livro que já nasce raro, por nascer com poucos.”

O nome, Livro Verde, possui uma pequena inspiração no Livro Castanho, do filósofo austíaco-britânico Ludwig Wittgenstein. Porém, ao invés de teorias dos jogos de linguagens, a obra de Michel Zózimo possui todos os desenhos da exposição, em tamanho original, encadernados por uma capa dura feita de linho tingido manualmente, com uma semente desenhada em tinta dourada no centro. “É como se eu partisse da enciclopédia para destruir, fazer a colagem e então criá-la novamente, mas agora sendo minha”, declara o artista.

Como uma cereja no bolo, a exposição conta com um ambiente especial, reservado para o Livro Verde ser admirado e estudado, como o grande enigma da exposição. Gabriela conta que o processo de construção do local foi pensado por semanas a fio, com testes de tintas e móveis que melhor se adequasse à atmosfera que “nos transporta para um pensamento poético, que nos possibilita entrar na mente do artista”. Michel completa dizendo que o espaço o lembra de sua antiga escola, “em que as paredes de todas as salas e biblioteca eram pintadas até a metade de marrom”.

Ao condensar quatro anos de preparação do projeto, sendo um deles apenas para a produção das obras, em um só local, Michel cria um universo de narrativas e possibilidades que, de acordo com Gabriela, aponta para o “continente do inconsciente, um lugar onde somos irracionais”. A curadora espera que as pessoas, quando lá estiverem, “consigam esquecer que elas têm alguma outra coisa para fazer. Que todo mundo saia com vontade de olhar e desenhar e pensar sobre esses trânsitos entre o que é visto e o que é imaginado”.

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