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Publicada em 28 de Maio de 2024 às 17:56

Teatro Nilton Filho contabiliza danos e convoca mutirão em busca de retomada

Mutirão de amigos e artistas trabalha diariamente para recuperar estragos causados pelo alagamento no Teatro Nilton Filho

Mutirão de amigos e artistas trabalha diariamente para recuperar estragos causados pelo alagamento no Teatro Nilton Filho

Hyro Mattos/Divulgação/JC
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Adriana Lampert
Adriana Lampert Repórter
Somando 34 anos de atividades, o Teatro Nilton Filho (rua Grão Pará, 179) passa por um dos momentos mais difíceis de sua trajetória. Atingido pelo alagamento que tomou conta do bairro Menino Deus, em duas ocasiões, desde o início das fortes chuvas que assolaram o Estado durante o mês de maio, o espaço cultural está fechado desde o último dia 6.
Somando 34 anos de atividades, o Teatro Nilton Filho (rua Grão Pará, 179) passa por um dos momentos mais difíceis de sua trajetória. Atingido pelo alagamento que tomou conta do bairro Menino Deus, em duas ocasiões, desde o início das fortes chuvas que assolaram o Estado durante o mês de maio, o espaço cultural está fechado desde o último dia 6.
A data, que marcou também o aviso da Defesa Civil e da prefeitura da Capital para evacuação da região, virou referência para a contagem do tempo no qual centenas de livros e figurinos, objetos antigos, entre outros materiais do Teatro ficaram submersos na água. "Só conseguimos entrar no local no último dia 20. Então, tudo o que 'ficou de molho' nesse período já não tem mais condições de ser utilizado", lamenta o diretor-fundador do espaço cultural, Nilton Filho
"Perdemos muitas coisas, incluindo memórias e registros históricos do nosso trabalho", emenda o diretor, que divide a administração do Teatro - e a produção dos espetáculos, eventos e oficinas realizados ali - com o parceiro, Hyro Mattos. Segundo ele, ainda não é possível ter uma dimensão do prejuízo, uma vez que muita coisa segue em meio ao lodo e ao mofo, formados no decorrer dos dias que seguiram ao alagamento. "A água chegou até 1,5 metro; então, o que não conseguimos retirar do andar térreo foi muito danificado, até porque demorou muito para escoar", comenta o artista, destacando que a inundação "começou a entrar pelos bueiros e por baixo da porta" do espaço cultural.
Segundo Nilton Filho, ele e Mattos chegaram a carregar para o segundo andar da casa algumas coisas da sala de espera - localizada no térreo, onde funcionava um minimuseu de arte. "No entanto, a escada é estreita e os móveis (sofás, armários, entre outros) e caixas de arquivo de fotos e jornais com reportagens sobre nossas peças, por exemplo, acabaram ficando ali mesmo. Foi tudo destruído, inclusive um piano, que está se abrindo todo, e um acordeon, que se desmanchou", enumera. A dupla de artistas precisou, inclusive, de resgate para sair do local.
"Resistimos em evacuar, no primeiro momento, pois temos nove gatas, que acabamos tendo que trancar no segundo andar, para sair dali. Como residimos na casa ao lado, que também ficou alagada, esse foi o jeito que encontramos. Nos dias seguintes, o Hyro teve que ir até lá de barco, macacão e botas para poder alimentar as gatas - a água batia no peito", conta o diretor.
Na lista de objetos perdidos em meio ao alagamento, Nilton Filho aponta uma biblioteca com publicações de teatro (algumas autografadas por escritores já falecidos, como Ivo Bender) e de arte, além de textos dramatúrgicos, coleções de figurinos, vestidos de festa, máquinas de costura e de lavar roupas, capas raras de discos de vinil e mobiliário em geral. "Com a ajuda de cerca de 36 voluntários - a maioria ex-alunos das oficinas que ministramos - conseguimos iniciar a limpeza do local, recentemente. Foram verdadeiros anjos que nos procuraram para ajudar, o que nos deixou muito felizes", ressalta o diretor. "Estamos transformando o lodo em luz, pois ficar chorando não vai resolver", emenda, ponderando que a reforma "vai ser grande e bem demorada".
Nilton Filho afirma que o grupo está trabalhando para viabilizar, ao menos, o retorno das aulas de teatro. "Precisamos disso para viver, pois os cursos são a principal fonte de financiamento do espaço", pontua. Ainda de acordo com o fundador do Teatro, as 80 poltronas da plateia e o palco, além dos camarins, não foram afetados pelo alagamento, uma vez que estão localizados no segundo e terceiro andar da casa, respectivamente. Enquanto tentam se organizar - p lavando o que pode ser reutilizado, empilhando o lixo deixado pelas águas, tirando a lama que cobriu o chão do local e acomodando o que foi salvo em caixas -, os artistas também buscam ajuda financeira para o recomeço.
"Infelizmente não podemos contar com verbas de auxílio público, pois envolve um processo complexo e sem garantias, pois chegariam por edital de concorrência. Então, aqueles que puderem colaborar com doações (via chave Pix: [email protected]) estarão nos ajudando bastante também", sinaliza Nilton Filho. "Temos muito trabalho pela frente; mas, mesmo cansados, somos fortes. "A enchente deixou marcas, mas certamente nos ensinou que o acolhimento e a solidariedade são o melhor combustível para encarar essa avalanche."
                
 
 

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