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Publicada em 27 de Maio de 2024 às 15:35

Coletivo RS Música Urgente busca ações emergenciais em meio ao estado de calamidade

Diversas empresas, como casas de shows e de eventos musicais, a exemplo do Opinião (ao fundo), foram tomadas pelas inundações, mobilizando artistas a pleitear políticas públicas emergenciais para o segmento

Diversas empresas, como casas de shows e de eventos musicais, a exemplo do Opinião (ao fundo), foram tomadas pelas inundações, mobilizando artistas a pleitear políticas públicas emergenciais para o segmento

CRISTIANO ALMEIDA/ESPECIAL/JC
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Adriana Lampert
Adriana Lampert Repórter
O segmento musical do Estado se uniu, nos últimos dias, em prol de ações que possam mitigar a devastação que as enchentes causaram na vida de profissionais e de empresas do ramo, cuja atividade possui o maior número de CNPJs na indústria cultural no Rio Grande do Sul. Diante do quadro de prejuízos, com perdas de estúdios inteiros, bares, instrumentos, equipamentos, escolas de música, locais de shows, veículos e moradias dos artistas, um grupo de trabalhadores da área criou um coletivo de enfrentamento de crise em âmbito estadual, nacional e internacional, denominado RS Música Urgente. O objetivo é diagnosticar, planejar e elaborar propostas e estratégias de ações, atuando com a sociedade civil em diálogo com o poder público nas instâncias municipais, estaduais e federal; e, ainda, com agentes internacionais, embaixadas e consulados com representação no Brasil.
O segmento musical do Estado se uniu, nos últimos dias, em prol de ações que possam mitigar a devastação que as enchentes causaram na vida de profissionais e de empresas do ramo, cuja atividade possui o maior número de CNPJs na indústria cultural no Rio Grande do Sul. Diante do quadro de prejuízos, com perdas de estúdios inteiros, bares, instrumentos, equipamentos, escolas de música, locais de shows, veículos e moradias dos artistas, um grupo de trabalhadores da área criou um coletivo de enfrentamento de crise em âmbito estadual, nacional e internacional, denominado RS Música UrgenteO objetivo é diagnosticar, planejar e elaborar propostas e estratégias de ações, atuando com a sociedade civil em diálogo com o poder público nas instâncias municipais, estaduais e federal; e, ainda, com agentes internacionais, embaixadas e consulados com representação no Brasil.
"Muitas cidades estão em situação de emergência e, após esse primeiro momento de salvar vidas, em seguida, quando começarmos a retornar à normalidade, iremos encontrar a população abalada - considerando que muitos perderam suas casas, memórias e outras posses - e sem condições de investir em shows, espetáculos e outras experiências culturais", pontua o flautista, saxofonista, compositor e produtor musical, Pedrinho Figueiredo. Ele afirma que, pessoalmente, não teve a residência atingida pelas águas, mas que o acontecimento acabou conturbando "completamente" sua agenda de trabalho. "O mesmo deve acontecer com a grande maioria dos músicos e artistas de outras áreas da Cultura, e isso nos preocupa demais", destaca. 
Figueiredo integra o coletivo formado por mais de 1.040 músicos, a partir de uma iniciativa do guitarrista, ativador cultural e produtor musical Carlos Badia. "Estamos atuando com 12 grupos de trabalho dentro deste movimento. No meu caso, faço interlocução política; e estou envolvido com a parte de projetos futuros (com propostas de circulação fora do Estado, considerando que aqui será difícil de se apresentar); e na parte de legislação (com ideias de elaboração de editais mais simples, por parte do poder público, que viabilizem que todos os músicos atingidos possam participar)", pincela o produtor musical. Segundo ele, a ideia é pleitear uma série de políticas públicas emergenciais para a cadeia produtiva da música, enquanto durar o estado de calamidade, "através de medidas urgentes, eficazes e concretas", visando a reconstrução a curto, médio e longo prazo.
Simultaneamente, como forma de embasar ações e projetos, o movimento realiza um mapeamento abrangente do segmento, buscando reunir e condensar os dados. De acordo com Figueiredo, a partir de um formulário criado emergencialmente para se ter ideia da proporção dos danos causados ao segmento pela tragédia climática que assolou o Estado, os primeiros registros do impacto - levantados em 48 horas - indicavam que das 1.357 pessoas que preencheram o documento, 91% trabalhavam exclusivamente com Cultura e 81% tiveram prejuízo profissional com as enchentes
"Sendo assim, busquei a Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, onde fui muito bem recebido pela deputada Sofia Cavedon (PT), que preside a Comissão de Educação e Cultura da Casa. Foi muito interessante, pois surgiram outras iniciativas, como o ingresso do Colégio Setorial de Música e a chamada do Conselho Estadual de Cultura para uma escuta, além de instruções sobre como músicos e empresas do setor poderão acessar linhas de crédito para poderem se reerguer", resume Figueiredo. "Além disso, estamos buscando arrecadar e distribuir donativos para os colegas mais necessitados." Para contribuir com essa campanha de ajuda emergencial, é possível realizar doações em dinheiro (chave Pix: [email protected]) para o coletivo repassar.
Em uma Carta Aberta à sociedade gaúcha, o movimento RS Música Urgente sinaliza que, em decorrência dos estragos feitos pelas enchentes, a maior parte do segmento perdeu oportunidades de trabalho e receitas, devido ao cancelamento de "inúmeros" shows e eventos culturais. "Soma-se a isto as dificuldades de circulação, devido às estradas interrompidas que dificultam o acesso às cidades, a maioria delas sem condições de receber atividades culturais de qualquer tipo. Desta forma, estão suspensas praticamente todas as atividades e eventos culturais do Estado por tempo indeterminado, impossibilitando que milhares de profissionais da cultura exerçam seu trabalho, sem garantia de renda ou perspectivas de retorno", diz um trecho do texto.

Ainda de acordo com o documento, o Setor Cultural e a Indústria Criativa representam 4,1% do PIB gaúcho e 3,11% do PIB nacional, empregando 7,5 milhões de trabalhadores. "No RS, gera mais de 400 mil empregos diretos. Tais números superam os da indústria automobilística, calçadista e aproximam-se do segmento da construção civil", aponta o texto. "Indiretamente, o setor emprega vários profissionais relacionados aos eventos, como por exemplo, na limpeza, alimentação, segurança, transporte e hospedagem, entre outros. Sendo assim, reivindicamos medidas de incentivo e proteção à Cultura, fundamentais para o sustento de trabalhadores e empresas, especialmente num momento como o que estamos vivendo. A cadeia produtiva da cultura precisa ser vista como uma atividade econômica significativa, que contribui com valores relevantes em impostos para o Estado", afirmam os artistas na Carta Aberta.
"A paralisação devido a esta catástrofe ambiental não impacta apenas a vida dos profissionais do setor musical, mas irá repercutir no âmbito sociocultural e econômico das cidades como um todo, já que a música é um elemento fundamental na vida cotidiana, presente nos momentos de socialização, educação, saúde mental e física, e no entretenimento", observa Figueiredo. Ele ressalta que, a princípio, os danos diretos aos artistas são da ordem de "milhares de reais". "Só para dar dois exemplos de perda total, no estúdio Tamborearte (localizado no bairro Harmonia, em Canoas), os sócios-proprietários, Lucas Kinoshita e Clauber Scholles, perderam absolutamente tudo. Em Porto Alegre, o Foccal Audio Works (rua Augusto Severo, 233), do Léo Tarasconi, também foi totalmente destruído. São cenas muito tristes."


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