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Publicada em 24 de Maio de 2024 às 16:13

Centro Cultural Vila Flores faz campanha de arrecadação para reerguer local atingido pela enchente

Centro cultural, instalado em conjunto de edifícios datado de 1928, foi duramente afetado pela enchente em Porto Alegre; espaço prepara campanha para arrecadar recursos

Centro cultural, instalado em conjunto de edifícios datado de 1928, foi duramente afetado pela enchente em Porto Alegre; espaço prepara campanha para arrecadar recursos

JOÃO FELIPE WALLIG/ARQUIVO PESSOAL/JC
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Maria Eduarda Zucatti Repórter
O Centro Cultural Vila Flores (rua São Carlos, 753) é um conglomerado de edifícios que datam de 1928. Esses edifícios enfrentam, neste mês de maio, a segunda enchente em sua história. O andar térreo do espaço foi completamente tomado pela água, que chegou a 1,60m dentro dos ateliês e do galpão multicultural. Mais de 40 iniciativas culturais e 100 funcionários foram diretamente afetados. O co-fundador do Vila, João Felipe Wallig, conta que os primeiros dias foram de preparação do andar térreo caso a água chegasse até lá. “Lacramos as portas com sacos de areia e levantamos tudo o que dava para cima das mesas, mas a água passou disso. Ela foi subindo, e em dado momentos tivemos que aceitar que teríamos de lidar com todo esse material depois que a água baixasse”. Enquanto o acesso ainda estava interditado, os vileiros, como os funcionários se chamam, iniciaram uma campanha de arrecadação através do Instagram com o intuito de juntar dinheiro o suficiente para reerguer o Vila e todos os outros espaços culturais que necessitassem de ajuda no entorno. O galpão, que servia como espaço multicultural para diversos eventos como atividades culturais, educativas, espetáculos, apresentações, shows, oficinas, palestras, seminários e encontros, agora terá outra função. A ideia é de que, depois que a água baixar - as chuvas da última quinta-feira (23) alagaram novamente o espaço - o Galpão se torne um espaço de restauração e avaliação de objetos eletrônicos e eletrodomésticos que entraram em contato com a água. A organização já está em contato com lojas de restauração da região para que, juntos, possam fazer esse trabalho e ajudar também os vizinhos afetados. Os imóveis do Vila eram, na medida do possível, preparados para enfrentar enchentes. O andar térreo é feito de paralelepípedos, e foram construídos jardins de chuva, para que a água acumulada escoasse para a rua. “A maioria do que é solo, em Porto Alegre, é impermeável, tanto por asfalto quanto por concreto. A nossa ideia era ter essas medidas de absorção da água da chuva, para que a gente pudesse ter menos inundação”. Antonia Wallig, também co-fudadora do local, relata que nem os jardins de chuva salvaram o local. “A verdade é que a altura da enchente surpreendeu todo mundo, né?”. Quando a família comprou o imóvel, mais de 10 anos atrás, as portas tinham uma pequena mureta de cimento, feita depois da enchente de 1941, com o intuito de conter os danos de uma possível enchente futura. Porém, nunca se imaginava que as águas chegariam por lá outra vez, muito menos com essa dimensão.A rede elétrica foi totalmente danificada e terá de ser trocada. Dentro dos ateliês, quase tudo foi perdido. Máquinas de costura, móveis, instrumentos de música e fornos de cerâmica terão de passar por uma avaliação, onde a maioria terá que ser jogada fora. A biblioteca do local é, hoje, praticamente só lixo: os livros foram extremamente danificados e não há muita expectativa de que possam ser restaurados.
O Centro Cultural Vila Flores (rua São Carlos, 753) é um conglomerado de edifícios que datam de 1928. Esses edifícios enfrentam, neste mês de maio, a segunda enchente em sua história. O andar térreo do espaço foi completamente tomado pela água, que chegou a 1,60m dentro dos ateliês e do galpão multicultural. Mais de 40 iniciativas culturais e 100 funcionários foram diretamente afetados.

O co-fundador do Vila, João Felipe Wallig, conta que os primeiros dias foram de preparação do andar térreo caso a água chegasse até lá. “Lacramos as portas com sacos de areia e levantamos tudo o que dava para cima das mesas, mas a água passou disso. Ela foi subindo, e em dado momentos tivemos que aceitar que teríamos de lidar com todo esse material depois que a água baixasse”.

Enquanto o acesso ainda estava interditado, os vileiros, como os funcionários se chamam, iniciaram uma campanha de arrecadação através do Instagram com o intuito de juntar dinheiro o suficiente para reerguer o Vila e todos os outros espaços culturais que necessitassem de ajuda no entorno.

O galpão, que servia como espaço multicultural para diversos eventos como atividades culturais, educativas, espetáculos, apresentações, shows, oficinas, palestras, seminários e encontros, agora terá outra função. A ideia é de que, depois que a água baixar - as chuvas da última quinta-feira (23) alagaram novamente o espaço - o Galpão se torne um espaço de restauração e avaliação de objetos eletrônicos e eletrodomésticos que entraram em contato com a água. A organização já está em contato com lojas de restauração da região para que, juntos, possam fazer esse trabalho e ajudar também os vizinhos afetados.

Os imóveis do Vila eram, na medida do possível, preparados para enfrentar enchentes. O andar térreo é feito de paralelepípedos, e foram construídos jardins de chuva, para que a água acumulada escoasse para a rua. “A maioria do que é solo, em Porto Alegre, é impermeável, tanto por asfalto quanto por concreto. A nossa ideia era ter essas medidas de absorção da água da chuva, para que a gente pudesse ter menos inundação”. Antonia Wallig, também co-fudadora do local, relata que nem os jardins de chuva salvaram o local. “A verdade é que a altura da enchente surpreendeu todo mundo, né?”.

Quando a família comprou o imóvel, mais de 10 anos atrás, as portas tinham uma pequena mureta de cimento, feita depois da enchente de 1941, com o intuito de conter os danos de uma possível enchente futura. Porém, nunca se imaginava que as águas chegariam por lá outra vez, muito menos com essa dimensão.

A rede elétrica foi totalmente danificada e terá de ser trocada. Dentro dos ateliês, quase tudo foi perdido. Máquinas de costura, móveis, instrumentos de música e fornos de cerâmica terão de passar por uma avaliação, onde a maioria terá que ser jogada fora. A biblioteca do local é, hoje, praticamente só lixo: os livros foram extremamente danificados e não há muita expectativa de que possam ser restaurados.
A estrutura dos prédios, que são Patrimônio Cultural de Bens Imóveis de Porto Alegre, será reavaliada e possivelmente passará por uma reforma preventiva. Ainda não há previsão de nenhum apoio a nível municipal, estadual ou federal para reconstruir patrimônios das cidades afetadas.

A campanha de arrecadação se dá através do PIX do Centro Cultural Vila Flores, pelo CNPJ 20.991.804/0001-07. Através dele, os funcionários ajudarão a reconstruir e limpar todo o espaço. Depois, a ideia é que esse dinheiro seja destinado à Vila dos Papeleiros, comunidade da região, e aos demais negócios afetados pela água. “Quanto mais ampla essa campanha for, mais pessoas e comunidades a gente vai poder ajudar” complementa Antonia.

O período atual ainda é de grande incerteza e insegurança. A empreendedora, sócio e arte-educadora Pâmela Ribas possui o seu ateliê de arte no térreo do Vila Flores e perdeu tudo o que construiu durante dois anos. “Não foram só bens materiais, mas sim a história e a evolução de todos os meus alunos, suas pinturas e obras”.

A mesma está atuando como voluntária e produzindo oficinas de arte para os desabrigados de diversos locais na Zona Sul da cidade. “Não teria como não fazer nada, né? A gente foi incrementando a arte para entreter e renovar a esperança nas pessoas”.

O intuito do Ateliê Cores e Valores sempre foi de expandir a cultura e a arte dentro das pessoas. Através dos trabalhos em institutos e associações, Pâmela direcionava alguns dos estudantes para outras iniciativas e oficinas dentro do ateliê. “Muita gente me pedia para participar, e nem sempre eu podia praticar aquilo dentro das instituições. Então ali no Vila eu abri para que elas pudessem se inscrever e participar desses projetos”.

Na última quarta-feira (22), Pâmela foi uma das voluntárias que foi até o Vila iniciar a limpeza do local. Ela conta que, ao arrombar a porta já inchada de água do seu ateliê, o cheiro pútrido lhe causou náuseas e extremo desconforto. “A cena era uma mistura de guerra com filme de terror”.

Na quinta-feira (23), a água entrou novamente no local. Ainda não há uma previsão de quando ela irá baixar e as atividades de limpeza poderão ser retomadas. Só depois dessa tarefa que os ateliês e funcionários poderão voltar, aos poucos, a reerguer seus negócios. 

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