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Publicada em 18 de Fevereiro de 2024 às 20:45

Formação gratuita voltada ao mercado da Sétima Arte

Curso Jovem Produtor Audiovisual viabiliza a realização de curtas-metragens dos alunos

Curso Jovem Produtor Audiovisual viabiliza a realização de curtas-metragens dos alunos

Cristom Oliveira/Divulgação/JC
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Adriana Lampert
Adriana Lampert Repórter
Iniciativa inédita no Rio Grande do Sul, o curso Jovem Produtor Audiovisual promete formação completa de profissionais (a partir de 18 anos de idade) na área do Cinema, de forma totalmente gratuita. Idealizado pelo diretor de cena e de fotografia Marcos Kligman, o projeto é financiado pela Lei Paulo Gustavo e ficou como primeiro colocado na linha de capacitação para o município de Porto Alegre. As inscrições estão abertas até o dia 28 de fevereiro e podem ser feitas pelo site da Cinemateca Capitólio.
Iniciativa inédita no Rio Grande do Sul, o curso Jovem Produtor Audiovisual promete formação completa de profissionais (a partir de 18 anos de idade) na área do Cinema, de forma totalmente gratuita. Idealizado pelo diretor de cena e de fotografia Marcos Kligman, o projeto é financiado pela Lei Paulo Gustavo e ficou como primeiro colocado na linha de capacitação para o município de Porto Alegre. As inscrições estão abertas até o dia 28 de fevereiro e podem ser feitas pelo site da Cinemateca Capitólio.
A formação terá duração de quatro meses, somando 96 horas-aula. A partir de 5 de março, os alunos participarão de dois encontros semanais (terças e quintas-feiras, das 18h30min às 20h30min), ministrados por Kligman, onde serão aprendidos os conceitos de roteiro, pré-produção, produção, set de filmagem, som direto, direção de arte, fotografia, decupagem, edição, montagem e distribuição, além de temas como Semiótica e Arte.
Ainda serão ministradas cinco oficinas práticas com especialistas da área: Filmmaker, com Leco Petersen; Montagem e Edição, com Tula Anagnostopoulos; Direção de Fotografia, com Eduardo "Baiano" Rosa; Som Direto, com Ray Fisch; Direção de produção, com Sandro Dreher; e Direção de Arte, com Pablo Ubatuba. Todas ocorrerão em sábados, alternados, das 14h às 18h. Também estão programadas as palestras Acessibilidade no Audiovisual, com Mimi Aragón; e O Cinema Indígena, com Vherá Xunu.
Ao final do curso, será emitido um certificado pela Olho Mágico Filmes, produtora do idealizador da iniciativa. A programação do projeto ainda prevê uma mostra dos filmes realizados pelos alunos durante o curso, que ocorrerá no dia 28 de agosto, na sala de exibição da Cinemateca Capitólio. A instituição ainda cederá a Sala Multimídia Décio Andriotti, para algumas atividades no decorrer da formação. "Estaremos bem acompanhados por este local emblemático, de valorização e preservação do cinema gaúcho, que é um verdadeiro epicentro da cultura audiovisual no Estado", comemora o professor titular da iniciativa, avaliando que a parceria com a Cinemateca Capitólio torna o curso "mais glamoroso".
Os trabalhos realizados pelo grupo também serão inscritos em diversos festivais nacionais e internacionais, destaca Kligman. "Isso é muito importante, para dar visibilidade para estes novos cineastas", observa. Contemplado com R$ 30 mil pela Lei Paulo Gustavo, o projeto ainda conta com a parceria da empresa Locall, que irá fornecer os equipamentos de luz. Já os equipamentos de som direto, câmeras, tripés, claquete, microfone, entre outros, serão fornecidos por Kligman, que soma mais de duas décadas de carreira no audiovisual e há 12 anos ministra cursos e oficinas de cinema para a juventude.
"Os alunos deverão levar apenas caderno e caneta", pontua o diretor. Ele pondera que, além disso, será necessário empenho e interesse. "É um curso puxado, que vai demandar energia e tempo. Além da aulas semanais e aos sábados, iremos utilizar dez horas de diárias de gravação (em torno de quatro diárias por filme) dos trabalhos", ressalta. Por conta disso, os critérios de seleção passam pelo comprometimento dos inscritos com a ideia de formação, a exemplo de estar trabalhando na área do setor cultural, ter alguma familiaridade com o cinema ou com produção de eventos culturais. "Iremos analisar caso a caso para a qualificação da vaga, e, entre esses e outros critérios, a dedicação da pessoa vai pesar muito", explica.
Ao todo, o curso Jovem Produtor Audiovisual conta com 30 vagas. "Atualmente, já contamos com 50 inscritos", sinaliza Kligman. Ele destaca, ainda, que o processo seletivo destinará 60% das vagas para pessoas de baixa renda, minorias étnicas (negros, pardos, indígenas, pessoas de comunidades tradicionais e populações nômades) e pessoas trans. "O cinema gaúcho é a atividade mais elitista entre as artes, com os cursos de cinema cobrando fortunas. Isso despeja nas cadeias produtivas apenas profissionais com alto poder aquisitivo, que acabam retratando o mundo de modo limitado, a partir da sua classe social", opina. "Esse quadro precisa mudar para que nosso cinema faça filmes mais ousados e relevantes em termos nacionais e internacionais. E é isso que nós vamos fazer", pontua.
O diretor comenta que na edição-piloto do projeto, realizada em 2023 (ainda de forma particular, mas com 50% de vagas inclusivas), foram rodados oito curtas-metragens, dentre os quais, os primeiros filmes feitos majoritariamente por neurodivergentes (Translúmiae, dirigido por Bruno César) e por mulheres negras (Fobia, dirigido por Adrielle Figueró).
"Esse curso foi muito importante para me aprofundar nas questões de atuação, direção, roteirização e construção de uma ideia, para colocar ela em prática", destaca o ator e produtor Jorge Gabriel Mendes, que participou da formação em 2023. "O professor Marcos nos deu total autonomia: pudemos criar uma história do zero, e colocar nossas próprias vivências para criar nossos curtas-metragens", emenda.
Também aluna da primeira edição do curso, a musicista Heloísa Gobbato Marshall, estudante de História da Arte na Ufrgs, afirma que durante a formação ela e os colegas aprenderam e colocaram em prática "mais coisas que estudantes de escolas particulares de cinema", com uma noção mais realista. "Sabemos disso, porque temos amigos na área, e fizemos essa comparação em conversas pessoais com eles". 
O estudante de Publicidade e Propaganda Dionata Roberto da Silva Silveira afirma que sempre teve interesse na área de cinema para fazer clips entre outros trabalhos de audiovisual. "Eu já havia feito outros cursos, mas esse, em específico, nos fez olhar 'fora da caixa', de forma integrada, e não segmentada, como ocorre na maioria das vezes. A experiência que tivemos fazendo o filme também foi muito complexa, com tudo sendo tratado com muita seriedade."
"Hoje sei exatamente como é fazer cinema, de fato, seja de forma independente ou em uma superprodução", afirma o músico e advogado Gabriel do Canto Leal Porto. Integrante da primeira edição do curso, ele conta que o processo da produção do curta-metragem realizado ao final da formação possibilitou o "real entendimento" de como as coisas funcionam neste mercado.  
"Um dos motivos que me fez criar o curso foi que, apesar de sermos um dos grandes polos de audiovisual do Brasil, não temos faculdade gratuita para essa área, fato que contribui para que a grande maioria dos cineastas formados seja de classe média ou alta - e se imagina que façam filmes para a manutenção do seu status quo, que não agridam suas classes", reforça Kligman. "Queremos formar profissionais que façam filmes que tragam questionamentos para a sociedade e que quebrem esse ciclo." 
 

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