Despertar o senso coletivo sobre a importância da preservação das plantas é o um dos objetivos da artista visual Márcia Rosa, em sua exposição Escuta silenciosa: ruídos da natureza, em cartaz na Galeria 506 (avenida Nova York, 506). A visitação ocorre até o dia 29 de fevereiro, de segunda a sexta-feira, das 13h30min às 18h, mas também pode ser agendada pelo telefone (51) 98209-3526.
A temática da mostra é um tema recorrente do trabalho da artista, que se inspira em diálogos com diversos biólogos para produzir suas obras. No caso das 26 telas e um vídeo que formam o conjunto de Escuta silenciosa, ela contou com a contribuição teórica do pesquisador e ilustrador botânico João Iganci, professor da Universidade de Pelotas (Ufpel).
As séries dessa exposição reúnem obras de diferentes períodos da carreira de Márcia: são desenhos e pinturas em pastel, monotipias botânicas e trabalhos mais recentes, cujas transparências veladas remetem a uma certa fragilidade e à fugacidade. A base dos trabalhos, alguns em backlight com impressão das próprias plantas, é de colagem no washi-ê (papel japonês, feito de fibra natural de Kobo), seguida de técnicas com pastel seco e aquarela sobre tela.
"No caso do vídeo, eu mostro como é feita a impressão de algumas plantas que passo na prensa de gravura", adianta a artista. Ela explica que optou pelo uso do washi-ê, pela qualidade da fibra, que "cede, tornando possível manipular o papel, que tem inúmeras texturas, de acordo com a procedência de sua feitura. "Em seis obras, ainda coloquei folha de ouro (técnica de douração)." Quem for conferir a mostra, irá se deparar com plantas que constam em catálogo da Embrapa, além de fragmentos do capim dos pampas e, ainda, com espécies do bioma Pampa ameaçadas de extinção - as chamadas plantas vulneráveis. Todos os trabalhos são muito coloridos, por conta da "esperança" que Márcia busca passar em cada tela.
"Existe um otimismo nas mensagens, não somente porque, segundo biólogos, ainda dá tempo de reverter a forma como tratamos o meio ambiente - a partir da consciência em torno da conservação dessas espécies -, mas também porque é assim que, aos 63 anos, estou sentindo a vida: tenho esperança na vida e acredito que temos que aproveitá-la, em sua fugacidade", afirma a artista.
Natural de Pelotas, Márcia se mudou com a família para Porto Alegre na infância, e estudou Artes Visuais na Ufrgs, onde se formou em 1984. Após vários anos de dedicação exclusiva à família, retomou os estudos aos 47 anos: se especializou em Novas Mídias, Tecnologia em Arte (Feevale) e em Cinema (Unisinos), mudou-se para São Paulo para fazer Mestrado e Doutorado em Artes Visuais (Unicamp) e voltou para a capital gaúcha, onde inaugurou a Galeria 506, há oito anos.
"No período em que precisei priorizar a criação dos meus quatro filhos e, depois, cuidar da minha mãe (que teve uma doença degenerativa), eu ainda mantive o contato com as artes: fazia pequenos cursos e continuava pintando", pondera Márcia. "Mas, nos últimos 20 anos, pude ampliar minha atuação na área, não somente me atualizando, mas também trabalhando e dando aulas de Design na Ulbra e ministrando cursos em atelier de outros artistas", celebra.
A partir da implementação de sua galeria, no bairro Moinhos de Vento, Márcia passou a dar aulas no espaço e promover mostras de artistas não cotados e artistas jovens. "São desdobramentos sociais possíveis, uma vez que que as artes visuais são muito solitárias e temos essa necessidade de estar em diálogo com outros artistas e construindo projetos coletivos", comenta. No caso de Escuta silenciosa: ruídos da natureza, ela contou com a curadoria de Fabiane Machado e Lurdi Blauth. Segundo elas, nas obras dessa mostra, a artista estabelece, de fato, "escutas silenciosas", nas quais afloram suas inquietações vivenciadas sobre a efemeridade, a instabilidade e a impermanência relacionada ao fluxo da vida, cuja temporalidade está em constante transformação.
"Nesse processo, Márcia ressignifica em suas imagens, a essência contida em plantas e flores, cujas metamorfoses são advindas do interior-exterior a partir da presença de todos os seres vivos", afirmam as curadoras no texto de apresentação da exposição. "Entre flores, raízes, folhas e seivas, a artista penetra a natureza como uma forma de perceber o mundo em profundidade; simultaneamente em que é tocada por ele, nos sensibiliza poeticamente. Seus trabalhos revelam sutilezas e nuances de cores que prendem e instigam o olhar do espectador", completam.