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Publicada em 17 de Dezembro de 2023 às 19:09

Pati Rigon e Mitti Mendonça inserem pinturas e poemas femininos nas ruas da Capital

Obra de Pati Rigon, contemplada pelo Contemporâneas Vivara, está no Centro Histórico de Porto Alegre

Obra de Pati Rigon, contemplada pelo Contemporâneas Vivara, está no Centro Histórico de Porto Alegre

AGE PRODUCTIONS/DIVULGAÇÃO/JC
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Adriana Lampert Repórter
As artistas visuais gaúchas Pati Rigon e Mitti Mendonça assinam obras que, desde novembro, podem ser vistas - respectivamente - na fachada de um prédio de 30 metros de altura, localizado no Centro Histórico da Capital, e na parede externa lateral do Bar Ocidente (no bairro Bom Fim). Selecionadas para a 3ª edição do Contemporâneas Vivara - projeto nacional que convida mulheres artistas a ocuparem espaços públicos com pinturas e poemas -, elas integram um grupo de dez selecionadas de 2023, que realizaram grafitagem em cinco capitais brasileiras.
As artistas visuais gaúchas Pati Rigon e Mitti Mendonça assinam obras que, desde novembro, podem ser vistas - respectivamente - na fachada de um prédio de 30 metros de altura, localizado no Centro Histórico da Capital, e na parede externa lateral do Bar Ocidente (no bairro Bom Fim). Selecionadas para a 3ª edição do Contemporâneas Vivara - projeto nacional que convida mulheres artistas a ocuparem espaços públicos com pinturas e poemas -, elas integram um grupo de dez selecionadas de 2023, que realizaram grafitagem em cinco capitais brasileiras.
Com a temática Arte, rua e poesia, as produções urbanas são alinhavadas pela poesia de Aline Bei (vencedora do Prêmio Jabuti em2022). A escritora,  criou versos para cada mural, inspirados em poéticas do feminino e na proposta da curadora e diretora artística do projeto, Vivi Villanova: levar as imagens do sol e da lua para as obras. Em formas, cores e "sentidos diversos" para o dia e a noite - as duas forças que agem continuamente sobre a vida da cidade, segundo Vivi -, os trabalhos estão espalhados em 18 murais, de Porto Alegre, Salvador, Manaus, São Paulo e Rio de Janeiro.

Em Porto Alegre, Pati Rigon foi movida pela temática lua para a realizar a obra Encontrava, na brisa da noite, uma alegria pelo que virá, para grafitar (com tinta acrília e spray) uma empena – lado sem abertura de um prédio - de 30 metros de altura, acompanhada de uma assistente, a artista visual Marília Ludvig. A arte é uma mulher loira tirando a blusa, revelando um cenário que contém a lua, estrelas e uma série de mariposas, "saindo de dentro dela". "Eu moro no interior de São Paulo, no meio de uma floresta; e me usei como referência para criar o desenho, ainda que a imagem não mostre um rosto. O objetivo era passar a ideia de encontrarmos nossa própria luz, dentro da nossa solidão, da nossa sombra, de procurar algo dentro de nós - e, nesse sentido, as mariposas são insetos que estão sempre indo atrás da luz das lâmpadas", resume.
Grafiteira desde 2015, Pati trabalha também com pinturas a óleo hiper-realistas, mesmo estilo que levou para a empena, que pode ser conferida para quem passa pelo local, na esquina da avenida Borges de Medeiros com a rua Fernando Machado (na perspectiva do trânsito, fica no sentido do Praia de Belas Shopping). "Foi bastante nostálgico fazer este trabalho, pois eu residi por dez anos naquela região, próximo da Cinemateca Capitólio", afirma a artista, que é natural de Cachoeira do Sul.
Além de lidar com a saudade do tempo em que viveu em Porto Alegre, Pati também precisou de resiliência diante das constantes chuvas de novembro, incluindo alguns dias de passagens de ciclones pelo Estado. "O prédio tem 12 andares, e eu levei dez dias para conseguir concluir o trabalho, pois o clima naquele período atrapalhou bastante, foi bem puxado", admite. "A Pati é muito corajosa, se desafia: pintar naquele vento, naquela altura não é para qualquer um - é um trabalho de grandes proporções", reconhece a idealizadora e realizadora do projeto Contemporâneas Vivara, Stefania Dzwigalska. "A obra dela é tão realista que parece uma foto e ela conseguiu fazer isso numa escala gigantesca, o que mostra sua grande experiência na arte de rua." 
A autora da iniciativa destaca que todos os trabalhos, nas cinco cidades e assim como em outras edições, exigiram várias etapas e muitas demandas. Segundo ela, a empresa de joias, Vivara, patrocinadora do projeto via Lei Rouanet, injetou R$ 1 milhão para a empreitada ser realizada pelas dez artistas. "A equipe é bem maior, pois conta com todo o pessoal da produção, fotografias, audiovisual, entre outras realizações. É uma cadeia enorme de pessoas - sendo 80% de mulheres (priorizando mulheres pretas) que trabalharam nesta edição", contextualiza. "Envolve compra de tinta e outros materiais, aluguel de balancins, obras de restauração das empenas para preparar as superfícieis, corda de segurança, entre outros."
Depois de finalizadas as pinturas nos muros e prédios eleitos pelo projeto, ainda é preciso passar verniz nas obras, para que a ação do sol e da chuva não danifique os trabalhos muito rapidamente. "Com esse último processo, a ideia é que esses grafittis durem uns seis anos", calcula Stefania. A idealizadora da iniciativa afirma, ainda, que o Contemporâneas Vivara tem como objetivo estimular a produção de artistas mulheres e celebrar o protagonismo feminino nas artes, ao mesmo tempo que encoraja um olhar ativo sobre a paisagem da cidade e os elementos que compõem a experiência subjetiva e coletiva do espaço público.
"Foi uma vivência muito potente participar deste projeto, me senti conectada com as pessoas na rua, os vários olhares de quem estava passando enquanto eu pintava; e é incrível pensar que minha obra vai estabelecer uma coneção com elas e pensar em como isso pode impactar nelas", comenta a artista visual, designer gráfica, ilustradora e produtora cultural, Mitti Mendonça. Moradora de São Leopoldo, ela escolheu a parede lateral da fachada do Bar Ocidente, na Capital, para pintar o trabalho Não esquecerá o nome de seu sonho.  Movida pela temática Sol, sua produção artística dialoga sobre a valorização da presença de mulheres na arte, a cura que mora nas memórias afetivas e a conexão com narrativas ancestrais negras.
Retratando, em tinta acrílica, uma figura feminina como uma ponte entre o céu e a terra, Mitti afirma que buscou incorporar elementos relacionados não somente à ancestralidade, mas também de proteção e cura das plantas sagradas. "Eu escolhi a arruda, com suas raízes, porque é uma planta de matrizes africanas, e pintei uma mulher preta fazendo a junção com esses dois elementos da natureza", resume. "Escolhi um lugar gentrificado de Porto Alegre, perto do Parque da Redenção, porque tem relação com a comunidade negra (que habitava aquele espaço), lembrando desse apagamento simbólico", emenda. "A arte urbana é uma galeria a céu aberto, visível, democrática", avalia Mitti, que atua há seis anos nas artes visuais, sendo que a grande maioria de seus trabalhos foram expostos em espaços culturais fechados. 

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