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Roger Waters promove noite de rock e resistência em show hipnótico em Porto Alegre
Show do músico britânico levou cerca de 30 mil pessoas à Arena na última quarta-feira (1)
Nos grandes espetáculos de rock, a força da música é apenas um dos impactos possíveis. E essa é uma verdade que Roger Waters parece compreender com exatidão, como qualquer um que tenha estado na Arena do Grêmio na noite de quarta-feira (01) pôde comprovar. Mais do que um espetáculo para os ouvidos, a apresentação da turnê This is Not a Drill mexeu com olhos, com o senso crítico e com a imaginação de cerca de 30 mil porto-alegrenses, segundo números da organização.
Em sua quarta passagem pela cidade, o membro fundador de uma das maiores bandas de rock de todos os tempos, embora generoso com seus fãs, parecia mais disposto a reiterar a importância da arte como elemento revolucionário. "Se você é daquelas pessoas que adora Pink Floyd, mas não quer saber de política, bem, então 'vaza' e vá para o bar". A mensagem, surgida no telão e nas caixas de som logo antes do começo da apresentação, não deixa margem para dúvidas: estamos diante de um show político e de um artista que, acreditando ainda ter algo a dizer, faz questão de dizê-lo.
Waters subiu ao palco vestido de médico, carregando uma cadeira de rodas ao som de um arranjo diferente, mas interessante, para o mega clássico Comfortably Numb. Se a escolha deu um ar meio contemplativo ao início do concerto, a explosão viria logo em seguida, com uma versão bombástica de Another Brick in the Wall. No telão, vítimas recentes da violência (entre eles a vereadora Mariele Franco) eram listadas, ao lado de seus "crimes" (coisas como ser negro, ser mulher ou ter nascido palestino) e uma única sentença para todos os casos: morte. Presidentes norte-americanos (incluindo o atual mandatário, Joe Biden) foram chamados de "criminosos de guerra". Clássicos atemporais, em meio a um enfático discurso contra todo tipo de opressão - é isso que Roger Waters, revezando entre vários instrumentos, animado e vibrante do alto de seus 79 anos, parece mais determinado do que nunca a oferecer.
Em meio a indignação de quem não se conforma com as coisas do mundo, há espaço também para a ternura. Antes de Wish You Were Here, Waters recordou momentos vividos ao lado do amigo Syd Barrett, com quem fundou a banda nos anos 1960. Além do show que assistiram juntos, com Neil Diamond e Rolling Stones, que os inspirou a planejar uma banda, Waters recordou outro momento, em Los Angeles, quando Barrett disse estar feliz de estar em Las Vegas - um erro que parece engraçado de início, mas que fez Waters perceber que estava perdendo o amigo para o LSD. Se não faltou ternura com o ex-colega, olhares mais atentos devem ter percebido que, para o agora desafeto David Gilmour, o tratamento foi distinto: em determinado momento, imagens nos quatro enormes telões mostravam Waters ao lado de colegas do Pink Floyd, mas Gilmour não surgiu nelas sequer uma vez.
Em sua quarta passagem pela cidade, o membro fundador de uma das maiores bandas de rock de todos os tempos, embora generoso com seus fãs, parecia mais disposto a reiterar a importância da arte como elemento revolucionário. "Se você é daquelas pessoas que adora Pink Floyd, mas não quer saber de política, bem, então 'vaza' e vá para o bar". A mensagem, surgida no telão e nas caixas de som logo antes do começo da apresentação, não deixa margem para dúvidas: estamos diante de um show político e de um artista que, acreditando ainda ter algo a dizer, faz questão de dizê-lo.
Waters subiu ao palco vestido de médico, carregando uma cadeira de rodas ao som de um arranjo diferente, mas interessante, para o mega clássico Comfortably Numb. Se a escolha deu um ar meio contemplativo ao início do concerto, a explosão viria logo em seguida, com uma versão bombástica de Another Brick in the Wall. No telão, vítimas recentes da violência (entre eles a vereadora Mariele Franco) eram listadas, ao lado de seus "crimes" (coisas como ser negro, ser mulher ou ter nascido palestino) e uma única sentença para todos os casos: morte. Presidentes norte-americanos (incluindo o atual mandatário, Joe Biden) foram chamados de "criminosos de guerra". Clássicos atemporais, em meio a um enfático discurso contra todo tipo de opressão - é isso que Roger Waters, revezando entre vários instrumentos, animado e vibrante do alto de seus 79 anos, parece mais determinado do que nunca a oferecer.
Em meio a indignação de quem não se conforma com as coisas do mundo, há espaço também para a ternura. Antes de Wish You Were Here, Waters recordou momentos vividos ao lado do amigo Syd Barrett, com quem fundou a banda nos anos 1960. Além do show que assistiram juntos, com Neil Diamond e Rolling Stones, que os inspirou a planejar uma banda, Waters recordou outro momento, em Los Angeles, quando Barrett disse estar feliz de estar em Las Vegas - um erro que parece engraçado de início, mas que fez Waters perceber que estava perdendo o amigo para o LSD. Se não faltou ternura com o ex-colega, olhares mais atentos devem ter percebido que, para o agora desafeto David Gilmour, o tratamento foi distinto: em determinado momento, imagens nos quatro enormes telões mostravam Waters ao lado de colegas do Pink Floyd, mas Gilmour não surgiu nelas sequer uma vez.
A apresentação foi dividida em duas partes, com um intervalo entre elas. O primeiro ato trouxe uma canção nova, The Bar, movida ao piano e que funcionou bem no contexto do show. O encerramento veio com as clássicas Shine On You Crazy Diamond e Sheep, na qual uma ovelha inflável voou sobre um público, em mais um dos tantos momentos no qual a arte de Waters une a crítica social a uma ironia mordaz. A volta depois do intervalo teve novo animal voador - um porco, com a provocativa frase "ele está louco, não o deem ouvidos" - e o compositor, agora como paciente, acompanhado por médicos durante In the Flesh? Um dos momentos máximos do show foi a sequência de faixas do álbum Dark Side of the Moon, incluindo Money, Us and Them (momento no qual, em uma talvez insuspeitada poesia, a chuva começou a cair suavemente na Arena) e encerrando com a sempre tocante Eclipse.
Para os fãs de rock extasiados, talvez pudesse ter encerrado por aí. Não que qualquer um deles vá reclamar da sequência final, que trouxe Two Suns in the Sunset (quase esquecida canção do muito criticado álbum The Final Cut) e Outside the Wall, cantada em homenagem ao irmão de Roger e que encerrou a noite com profunda emoção. Se a alma rebelde dos roqueiros e roqueiras presentes saiu recarregada com as mensagens políticas do concerto, é justo dizer que o coração também teve momentos para recalibrar os sentimentos - um equilíbrio que, nas mãos de um competente artífice do rock como Roger Waters, certamente funcionou a contento. No fundo, mais que política, o grande tema das composições de Waters é a valorização intensa, intransigente e apaixonada desse imenso ato de resistência que é a vida - e todo mundo certamente saiu se sentindo mais vivo desta bela noite de rock.