Aparecendo de surpresa e com força ao longo do fim de semana, a chuva não impediu que 4 mil pessoas prestigiassem as atrações do Festival Avante, que realizou sua primeira edição em Porto Alegre neste sábado (11) e domingo (12). No line-up dos dois dias do evento no FV 4° Distrito, na zona norte da Capital, o principal atrativo era a diversidade musical, representada por mais de 30 artistas locais, nacionais e do exterior.
Dentre diferentes gêneros, propostas e gerações presentes, o destaque do primeiro dia era, inevitavelmente, o nome de Tom Zé. O artista, que completou 87 anos dia 11 de outubro, empolgou o público em uma apresentação carismática e irreverente. Seja contando histórias não-lineares sobre sua vida ou segurando seus próprios discos enquanto cantava sobre merchandising, Tom Zé mostrou que sempre será uma das figuras mais geniais e fora da curva na música brasileira. Acompanhado de uma banda talentosa, ele fez uma grande apresentação para um público engajado desde a primeira música, se movimentando saltitante de paletó branco e cantando clássicos como "Augusta, Angélica e Consolação", "Politicar" e "Dois Mil e Um", esta última uma parceria de composição sua com Rita Lee. No bis, escolheu "Parque Industrial", música de um de seus primeiros trabalhos, Grande Liquidação (1968).
A noite continuou com a apresentação do produtor, DJ e instrumentista Diogo Strausz que, com uma mesa controladora e instrumentos de percussão, fez com que os dispersados após o show de Tom Zé retornassem em massa para curtir um set refinado, influenciado por samba-funk, groove e outras referências dançantes. Por fim, a banda Àttooxxá encerrou o primeiro dia do festival trazendo energia para os fãs encharcados pela chuva que caiu no fim da noite, com uma sonoridade que une o pagode baiano com referências da música eletrônica e diferentes expressões culturais periféricas. Ao longo do dia, o público também conferiu as apresentações de artistas como Nego Joca, Karina Buhr, Ubunto, Super Vão, Miri Brock e Viridiana, e o DJ norte-americano Demi Riquísimo.
FBC disse que apresentação no Festival foi a melhor de sua carreira
Vini Angeli/Ocorre.lab./Divulgação/JCNo domingo (12), a chuva também não deu trégua, mas nem o público, e muito menos o rapper FBC se desmobilizou. Na madrugada de domingo para segunda-feira (13), via ex-Twitter, ele mandou aos fãs uma mensagem que não deixa dúvidas sobre como estava se sentindo após se apresentar: “Fiz o melhor show da minha vida e tive um dos dias mais felizes da minha vida em Porto”. A felicidade era mútua, refletida na energia dos fãs que pulavam e cantavam junto com o artista mineiro.
FBC ganhou projeção nacional em 2021 com o sucesso de seu quarto álbum Baile, uma parceria com o produtor Vhoor inspirada na sonoridade enérgica e grandiosa do Miami Bass, batida popular no funk brasileiro dos anos 1990 e 2000. Já no seu trabalho seguinte e mais recente, "O amor, o perdão e a tecnologia irão nos levar para outro planeta", FBC se inspirou na dance music, disco e house. E quem estava lá dançou, cantou junto e gritou, melhor protegidos do tempo instável por toldos que foram montados em pontos próximos ao palco.
A segunda noite terminou com o conjunto de música eletrônica, sopros e percussão Technobrass e a produtora Badsista fechando os dois palcos. O domingo também teve apresentações de MC Luanna, Da Guedes e Cristal, o coletivo Brasil Grime Show com participação de Mikaa e Felipe Deds, DJ Nyack e Ialodê.
Os dois dias de festival também conectaram os artistas com os palcos de Porto Alegre. No sábado, Deize Tigrona levou quem estava no espaço Avante Club à loucura em um show de funk incandescente, literalmente: o público dançava com tanta energia que a temperatura do ambiente estava muito maior do que na rua. Acompanhada pelo gaúcho DJ Chernobyl, a artista se emocionou com o carinho que recebeu no que foi sua primeira apresentação na cidade em mais de 20 anos de carreira.
Já no domingo, no palco principal, o multiartista Di Melo compartilhou com o público como estava feliz por retornar à Capital, dessa vez tocando em parceria com a banda portoalegrense Trabalhos Espaciais Manuais.
Também de volta ao Rio Grande do Sul, o DJ Ramemes lotou o Avante Club no sábado. Desde março, ele já levou seu baile para cidades como Pelotas, Rio Grande e Santa Maria, e agora tocou pela terceira vez à Capital, dias após o lançamento de seu novo trabalho Tamborzin de Volta Redonda. O público, tão frenético quanto a música, foi seu maior até agora no Estado: o espaço estava lotado e todos pulavam juntos, incessantemente, e vibrando a cada escolha imprevisível no repertório, mostrando o carinho fiel e barulhento da ‘tropa do Ramemes’.
Enquanto isso, muitos aproveitavam o set do lado de fora do espaço, assistindo com visão panorâmica a festa conduzida pelo DJ que sorriu do começo ao fim do set vestindo sua camisa “da sorte” – o uniforme do Vasco da Gama com uma faixa diagonal com degradê nas cores do arco-íris. Para Ramemes, o fim de semana foi sortudo mesmo: logo depois de se apresentar comemorou que aquele show foi um dos melhores que já fez, no domingo de manhã tomou café da manhã com Tom Zé, e à tarde viu o Vasco vencer a terceira partida seguida no Campeonato Brasileiro e se afastar da zona de rebaixamento.
Em um mês culturalmente movimentado em Porto Alegre, o Festival Avante foi apenas uma das atrações musicais no fim da semana, que teve shows de Zeca Pagodinho no Auditório Araújo Vianna, do uruguaio Jorge Drexler no Ginásio Gigantinho e do DJ americano Andrew Butler, do projeto Hercules & Love Affair, na URB Stage.
A tendência continua: nesta quinta (16), a banda de rock californiana Red Hot Chilli Pepers se apresenta na Arena do Grêmio. No próximo fim de semana (17 e 18), acontece a primeira edição do Festival Turá no Rio Grande do Sul, trazendo artistas como Alceu Valença, Caetano Veloso, Emicida, Fresno e Pitty. Na semana seguinte, Martinho da Vila se apresenta no Salão de Atos da Pucrs na quarta-feira (22), e o Araújo Vianna recebe Alcione na sexta (24) e Fafá de Belém no sábado (25).