Foi da necessidade de evidenciar as violências que a comunidade negra e periférica estavam submetidas que Thaíde adotou o hip hop como sua ferramenta de denúncia, em meados dos anos 80. Nesta quinta-feira, às 23h, o rapper paulista leva sua voz e energia para um espetáculo que celebra seus 40 anos de carreira, no Bar Opinião (rua José do Patrocínio, 834). A apresentação traz canções conhecidas pelo público, como Sr. Tempo Bom, Malandragem Dá um Tempo, Nunca Foi Fácil e Hip Hop Puro, e conta com a participação de DJs da cena de rap gaúcha, como Gê Powers, Uiu Rodriguez e MilkShake. Os ingressos para o show estão à venda no site Sympla, a partir de R$ 25,00.
Pioneiro do hip hop no Brasil, Thaíde foi um dos primeiros a levar esse tipo de música para a rádio e para a TV. A canção Corpo Fechado, de 1988, foi o primeiro rap a fazer sucesso fora do circuito underground. Dos 50 anos que o movimento hip hop existe mundialmente, ele participou de 40 deles. Atualmente, em um novo momento artístico, o rapper tem incorporado outros estilos musicais em seu repertório. Com muito funk e soul, o projeto Black Brasa presta uma homenagem aos artistas da black music brasileira, fazendo releituras de clássicos deste gênero. A ideia deu tão certo que, em maio, lançou um EP com o mesmo nome. "A música é essencial para mim. Acredito que, independente de qualquer coisa, eu sempre vou fazer música. É uma necessidade que tenho", conta.
Na visão de quem, sem apoio nenhum, precisou abrir espaços para que o hip hop brasileiro conquistasse reconhecimento, o gênero vive seu melhor momento hoje. Popular e com mais ferramentas para criação, o estilo musical tem aberto mais portas. "Os meios de comunicação se renderam, porque se não é a TV aberta, é a TV fechada; se não é a TV fechada, a gente vai para a internet. Se antes não conseguiam segurar o hip hop, hoje em dia, então, esquece."
Se por um lado o gênero está mais popular e cheio de oportunidades, por outro, o que tem feito sucesso não é exatamente o que fez o rap se destacar como movimento. Para Thaíde, isso acontece por conta de uma demanda por temas mais leves e brandos, tanto dos parte dos ouvintes quanto do mercado, o que tem deixado a revolta e a denúncia ficarem em segundo ou terceiro plano. "O que eu acho que é um grande erro, porque o que a gente passa no dia a dia, o que a gente passa na pele, a gente tem que falar, tem que denunciar. Temos que colocar o dedo na ferida, senão, a gente sempre vai ficar sofrendo e, na hora de relaxar, a gente vai esquecer por alguns minutos, depois volta a sofrer novamente, e isso vai se tornar um ciclo vicioso", expressa o rapper.
Há poucas décadas, o movimento hip hop era febre dentro das comunidades do Sul e Sudeste brasileiro. Conduzida por uma juventude periférica que, através da música, encontrou uma maneira de expressar sua revolta contra as opressões sofridas, o gênero viveu seu auge entre os anos 1990 e a primeira metade dos anos 2000. Após isso, o funk floresceu entre os jovens, ocupando esse lugar de destaque que um dia já foi do hip hop. De acordo com Thaíde, isso aconteceu porque o rap pagou pela falta de coerência no passado, com atritos e disputas dentro do movimento. "Enquanto, na minha opinião, o rap estava tentando limpar sua barra, tentando mostrar a importância de luta e mensagem que ele tem, a garotada foi assimilando esse funk", opina. "Eu acredito que o espaço é dele mesmo, eu acredito que nenhum ritmo tira o espaço do outro, ele só chega para agregar", acrescenta.
Além da carreira musical, Thaíde já se aventurou como ator, escritor, apresentador e repórter. Esta última ocupação, inclusive, traz muitos paralelos com o seu fazer artístico. Segundo ele, quando o repórter está fazendo uma reportagem, ele passa para as pessoas a situação de uma determinada realidade. "Eu acho que fazer música, dentro da cultura hip hop, é a mesma coisa: você está ali fazendo uma crônica de uma pessoa, do dia a dia dessa pessoa. Acho que tem tudo a ver."