Um clássico das noites de quinta-feira, Ocidente Acústico é bastião do rock autoral em Porto Alegre

Idealizado e produzido por Márcio Ventura, há 25 anos o projeto '"Ocidente Acústico"' viabiliza a apresentação de bandas e artistas da cena musical de Porto Alegre

Por Adriana Lampert

Márcio Ventura conduz há 25 anos o Ocidente Acústico, projeto que valoriza bandas locais e de trabalho autoral e reforça o Ocidente como espaço da música independente
Considerado um clássico das noites de quinta-feira por quem gosta de música e costuma ir a shows locais, o projeto "Ocidente Acústico" completou 25 anos em janeiro. Idealizada pelo produtor Márcio Ventura, a iniciativa que viabiliza a apresentação de bandas e artistas da cena musical de Porto Alegre chega à sua 1.097ª edição com uma atração nova da cidade: o trio instrumental Laitano, Narcizo & Petracco, que reúne os músicos Yanto Laitano (teclados), Filipe Narcizo (baixo elétrico) e Pedro Petracco (bateria). Os ingressos custam R$ 40,00 (inteira) e R$ 20,00 (meia-entrada) e podem ser adquiridos na plataforma Sympla. 
A função desta quinta-feira (20) inicia às 21h, quando o grupo subirá ao palco do Bar Ocidente (av. Osvaldo Aranha, 960), onde ocorrem as apresentações do "Ocidente Acústico", para tocar temas autorais que misturam ritmos brasileiros, jazz e funk em arranjos que investem em batidas com suingue. Essa é uma das características do projeto produzido por Ventura: dar luz trabalhos autorais de artistas locais. "Mas também há espaço para releituras", pondera o idelizador do evento, que - apesar do nome - costuma receber, em sua maioria, grupos que utilizam instrumentos elétricos, como guitarra e baixo.
"Por isso as aspas no título do projeto", explica o produtor, emendando que o "acústico" é mais uma referência do início da empreitada, no ano de 1998, quando as atrações envolviam apenas trabalhos com violão, voz, e - no máximo - um teclado. "Naquela época, o Bar Ocidente passava por um período em que não podia receber atividades noturnas, o que limitava os eventos possíveis", explica Ventura. Ele conta que as três primeiras edições foram organizadas após a demanda de uma produtora, que conseguiu abrir um horário aos domingos para realizar os eventos na local.
O projeto nasceu com uma apresentação dos Cowboys Espirituais - formado por Júlio Reny (Expresso Oriente), Márcio Petracco (TNT) e Frank Jorge (Graforréia Xilarmônica). Nas edições seguintes, recebeu o trabalho solo de Marcelo Fornasier (o popular 4Nazzo), a banda Os Arnaldos, e os músicos Zé do Belo e Meme Meneghetti. "Já na segunda edição do evento, a produtora - que não consigo lembrar o nome - já havia se mudado para São Paulo, e organizei tudo sozinho. O Fiapo (Barth), proprietário do Ocidente gostou do resultado e me ofereceu uma noite fixa por semana para seguir com a iniciativa", conta Ventura. "Era para acontecer uns shows por algum tempo, mas nunca imaginamos que teríamos um projeto de tanta longevidade", emenda.
Além da vida longa, o projeto tem uma peculiaridade: conseguiu, no decorrer do tempo, agregar frequentadores assíduos, ainda que "poucos", na avaliação do idealizador e produtor. São pessoas que estão presentes em quase todos os shows, independente do estilo musical ou banda e artista em cena. Dentro do conceito de "acústico", o clima de total intimidade com o público faz jus ao nome do projeto, que é um dos mais "aconchegantes" da casa - sempre lembrada pelo pioneirismo em lançar bandas gaúchas no auge dos anos 1980.
Entre as memórias que carrega, Ventura recorda que a primeira noite do evento teve excelente repercussão "no boca a boca e na mídia" e destaca, ainda, a milésima edição, que lotou os dois ambientes do Bar Ocidente, com os shows da Graforréia Xilarmônica e da Ultramen. A celebração ainda contou com discotecagem dos radialistas Claudio Cunha e Katia Suman, remetendo à extinta Ipanema FM, emissora de rádio que sempre apoiou a iniciativa. "Ajudava muito, pois no início não havia internet", comenta o produtor. Na contramão, ele acredita que, apesar das dificuldades de divulgação serem maiores, nos primeiros anos do projeto o público era mais "fiel".
"Não sei se é uma questão geracional, ou se há muitas outras alternativas na mesma noite da semana, afinal Porto Alegre tem vida cultural ativa", reflete, emendando que no início do projeto também havia uma efervescência de bandas gaúchas bem mais intensa que nos dias de hoje. Seja como for, o "Ocidente Acústico" sempre "vinga", ainda que com "alguns shows mais lotados do que outros", pondera Ventura.
Na avaliação do produtor, os projetos autorais são mais desafiadores na hora de garantir público. Ainda assim, ele segue seu planejamento mensal - feito com bastante antecedência - que conta com pelo menos duas apresentações de releituras e duas de trabalhos autorais. E, apesar do carro-chefe da iniciativa ser rock, o projeto abrange uma amplitude de gêneros desde samba até jazz, passando por rock instrumental e MPB, entre outros. "Somos bem democráticos. Só não combina com pagode e sertanejo, que foge da nossa proposta. Sem preconceitos", ressalta Ventura.
Por conta do ecletismo musical, antes da pandemia de Covid-19 o projeto contava, inclusive, com meses temáticos: Mês Tim Maia, Boca fechada Não Entra Mosca (dedicado a música instrumental), Mês MPB, entre outros. "Poderíamos listar inúmeras bandas que se apresentaram, mas seria injusto com as demais", afirma Ventura. Ainda assim, ele deixa escapar lembrar de temporadas memoráveis com as bandas Ultramen, Roda Viva, Pata de Elefante, Funkalister, Reverba Trio, Os Latinoamericanos e Sexteto Blazz. "Teve até apresentação de música erudita, com o Quarteto Corta-jaca, com direito a violoncelo e violino em cena."
Refletindo sobre os desafios que enfrentou nos últimos 25 anos de projeto, Ventura observa que o período de isolamento durante a pandemia foi especialmente tenso. Ainda assim, ele conseguiu realizar 14 edições online do evento, entre setembro e dezembro de 2020 - gravadas com todos os cuidados necessários. "Mas no verão de 2021, explodiu um monte de casos de Covid-19, e só voltamos em agosto daquele ano, quando foi liberado, desde que com limite de público, janelas abertas, e uso de máscara". A "normalidade" se consolidou somente em maio de 2022. "Atualmente, seguimos. Hoje em dia, acredito que o projeto está mais perto do fim, pois nada é eterno. Mas estamos para chegar em 1.100 edições, o que já é uma vitória."