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Cultura

artes visuais

- Publicada em 28 de Março de 2023 às 19:00

Bordados de luta e resistência em exposição na CCMQ

Mostra em cartaz na Casa de Cultura Mario Quintana traz a luta das mulheres atingidas por barragens

Mostra em cartaz na Casa de Cultura Mario Quintana traz a luta das mulheres atingidas por barragens


CCMQ/REPRODUÇÃO/JC
Está em cartaz na Casa de Cultura Mario Quintana (Rua dos Andradas, 736) a exposição Arpilleras: Bordando a Resistência, no Espaço Evelyn Ioschpe. A mostra ficará no espaço até o dia 9 de abril, trazendo 15 obras de mulheres do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), que utilizam o tecido para denunciar violações a seus direitos. A visitação ocorre de terça-feira a domingo, das 10h às 20h, gratuitamente.
Está em cartaz na Casa de Cultura Mario Quintana (Rua dos Andradas, 736) a exposição Arpilleras: Bordando a Resistência, no Espaço Evelyn Ioschpe. A mostra ficará no espaço até o dia 9 de abril, trazendo 15 obras de mulheres do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), que utilizam o tecido para denunciar violações a seus direitos. A visitação ocorre de terça-feira a domingo, das 10h às 20h, gratuitamente.
As obras utilizam a técnica conhecida como arpillera, que traz manifestações de temas sociais feitas através de bordados e costura de retalhos. O método nasceu no Chile, durante a ditadura de Pinochet, durante as décadas de 1970 a 1990, quando mulheres criavam composições com as roupas dos desaparecidos, denunciando as opressões do regime. Com vozes caladas, escreviam cartas e as escondiam nas entranhas dos tecidos para que suas dores fossem conhecidas.
Algumas décadas separam a dor das mulheres chilenas da dor das mulheres atingidas por barragens, mas o instrumento de luta continua o mesmo. O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) é uma organização que luta pelos direitos violados dos moradores de áreas atingidas por lagos de hidrelétricas e pelo rompimento de barragens do tipo.
"Um relatório divulgado anos atrás pelo Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana do governo federal aponta 16 direitos humanos violados na construção de barragens. Como por exemplo, o direito de dizer não à barragem, o direito à moradia adequada; à educação; ao trabalho e a um padrão digno de vida; a um ambiente saudável e à saúde, entre outros", enumera a coordenadora estadual do MAB, Alexania Rossato.
O MAB surge na região Sul do Brasil, a partir do fim da década de 1970, quando começa um forte movimento de construção de barragens no Rio Uruguai. O Relatório de Segurança de Barragens de 2021 indica que o Brasil tem mais de 22 mil barragens, sendo metade delas localizadas no Rio Grande do Sul. Atualmente, o Estado contaria com nove barragens com risco de rompimento, uma delas localizada na Lomba do Pinheiro, dentro dos limites urbanos de Porto Alegre.
Desde 2013, o MAB traz a proposta da construção das arpilleras pelas mulheres atingidas por barragens. A técnica é utilizada como forma de denúncia e de organização das mulheres dentro do movimento, trazendo debates como a violência de gênero, o feminicídio, a privatização da água, a preservação do meio ambiente, entre outros.
A mostra traz 15 obras, 9 delas produzidas por mulheres de outros estados e 6 produzidas por mulheres do Rio Grande do Sul. Feitas à mão, sem auxílio de máquinas de costura, as peças trazem nas linhas as dores e as lutas de quem vive à margem dos seus direitos. O bordado e a tecelagem, que sempre foram técnicas associadas ao feminino e ao doméstico, ficando invisibilizadas e desvalorizadas durante a história, agora se transformam em debate público, saindo de trás dos muros do privado e ocupando as ruas e os museus. "Essa técnica procura dar voz a quem não tem voz. É uma ferramenta de diálogo dessas mulheres com a sociedade", diz Alexania.
Mais que a obra de arte final, o processo de produção é extremamente importante, pois cria um espaço de afeto e acolhimento, onde as mulheres podem compartilhar suas experiências e vivências, e serem ouvidas. Cada uma das mulheres traz seu material: seu tecido, sua agulha, sua história, sua reivindicação. Assim, transforma todos esses retalhos em arte, luta e voz. O grito dessas mulheres ultrapassa as barreiras físicas do som e chega a espaços e públicos que elas próprias podem não chegar. "Temos uma exposição lá na Alemanha, outras peças que já viajaram pro Chile… É uma forma de nos fazermos presente em lugares em que não estamos fisicamente, dialogando e levando nossa mensagem para outros locais e outros públicos."