Precisando de obras e modernização, teatro do IPE pode reabrir em 2024

Depois de duas décadas fechado, o espaço foi cedido à secretaria de Estado da Cultura

Por Bárbara Lima

Depois de duas décadas fechado, o espaço foi cedido à Secretaria de Estado da Cultura, e precisa de reformas para voltar a operar
Foi no Teatro do IPE, fechado há duas décadas em Porto Alegre, que Tânia Farias, atuadora do grupo teatral Ói Nóis Aqui Traveiz, apresentou um dos seus primeiros espetáculos, o Tza Tza Ivstabó – neologismo russo para a expressão "tudo, tudo, vai dar pé". A encenação, que contava a história dos estudantes do Ensino Médio Colégio Estadual Júlio de Castilhos por eles mesmos, aconteceu no início da década de 1990 e, assim como Tânia, muitos atores da cena local gaúcha foram formados naquele espaço. Na semana passada, a estrutura, antes responsabilidade do Instituto de Previdência do Estado do Rio Grande do Sul (IPE Prev), foi cedida à Secretaria de Estado da Cultura (Sedac) e pode estar mais perto de reabrir. A previsão é que as operações retornem em 2024.
"Eu lembro até hoje da sensação de estar no teatro do IPE. Ali comecei nas artes cênicas, teve até crítica em jornal. Foi muito especial", lembrou, com carinho, Tânia. Ela rememora a sensação de estar em um palco em um local fora da escola, com capacidade para 200 pessoas. "Era uma expectativa, fez com que tomássemos gosto por esse mundo", disse a atuadora, comentando também que ali nasceu o grupo Arcênico, na época focado no teatro de rua. 
De acordo com a secretária de Cultura, Beatriz Araujo, a reabertura do teatro do IPE é uma demanda antiga. "Já tínhamos sido acionados pelo IPE e pelas entidades artísticas, mas ainda precisávamos cuidar do patrimônio que já faz parte da responsabilidade da secretaria. Agora, podemos assumir esse patrimônio da população", afirmou. Beatriz enfatizou que o principal objetivo será fomentar as artes cênicas de todo o estado. "Apesar de estar em Porto Alegre, a nossa ideia é que o teatro do IPE seja uma referência para grupos também de outras cidades. O teatro não é para grandes espetáculos, é para incentivar a cena local", reforçou. 
O presidente do IPE Prev, José Guilherme Kliemann, considera que a cessão de uso por 20 anos à secretaria da Cultura foi a forma de trazer de volta o protagonismo do espaço. Ele também afirmou  que não houve uma razão específica para o local ficar fechado tanto tempo, mas que as instalações foram se deteriorando com a falta de manutenção e que, em dado momento, deixou, inclusive, de ser seguro. "Além disso, as atividades culturais não são uma vocação do IPE. Apreciamos e incentivamos, mas não temos a estrutura, até porque não é só revitalizar, é manter e desenvolver os projetos", ponderou Kliemman.  

Teatro precisa de reformas e acessibilidade

Para que seja possível entregar o Teatro do IPE em 2024 serão necessárias reformas em toda a estrutura. A construção, localizada na Avenida Aureliano de Figueiredo Pinto, já recebeu a primeira visita técnica do diretor do Departamento de Memória e Patrimônio da secretaria de Cultura do estado, Eduardo Hahn. Segundo informou, a cobertura está comprometida e será preciso repensar a acessibilidade do local. "Na década de 1980, tínhamos outras regras para acessibilidade. Acredito que essa será uma das principais modificações", contou Hahn.
Com uma linha arquitetônica modernista brutalista, focada no caráter funcional do espaço, com bastante prevalência de materiais como concreto, vidros e aço de linhas retas, a ideia é preservar a linguagem do final dos anos 1970 e início dos anos 1980. Segundo o técnico, há intenção de manter as cadeiras moldadas em plástico da plateia, assim como as luminárias e os acessórios que separam o átrio da sala de apresentações. Ele ressalta que os equipamentos de palco precisarão ser atualizados. "Hoje, mudaram as estruturas e tecnologias do palco, desde altura até boca de cena", afirmou.
Ainda não há detalhes de como será feita administração dos espetáculos, nem os valores a serem cobrados, mas a secretaria não descarta uma gestão terceirizada, desde que atendidos os requisitos da natureza do teatro do IPE.
Para a atuadora Tânia Freitas, que fez um dos seus primeiros espetáculos no teatro do IPE e se apaixonou pelos palcos, o retorno do espaço será muito celebrado. "O teatro é um exercício de análise da sociedade, se tivermos salas equipadas para a produção local, com um preço acessível para artistas e público, tenho certeza de que será recebido de braços abertos", refletiu.