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Leandro Maia fala de identidade, liberdade e 'vira-latinice' em novo single 'Guaipeca'
Nova canção antecipa 'Guaipeca: uma ilusão autobiográfica', quarto álbum da carreira do compositor
Guaipeca, novo single do cantor e compositor gaúcho Leandro Maia, será lançado nas plataformas digitais nesta sexta-feira. A música dá início a uma série de lançamentos ligados ao novo disco do artista, que deve sair na íntegra no segundo semestre. Com um total de 12 músicas, Guaipeca: uma ilusão autobiográfica, o quarto álbum de Leandro, é um caldeirão de gêneros, que faz ebulir composições repletas de amor, humor e política.
Descrito como "punk-rock-de-galpão", o single foi produzido por Luciano Mello, e traz Leandro entoando uma canção-manifesto com voz, violão, bateria e megafone. O guaipeca, que dá nome ao disco e à música, é celebrado enquanto símbolo da ancestralidade gaúcha e como um alter ego do artista. Cão sem dono, bicho solto, de raça indefinida: guaipeca é uma palavra de origem indígena e nomeia aquele que se recusa à prisão. De valores, de tradições, de origens, de costumes.
"Guaipeca é uma reflexão sobre identidade", conta Leandro. Depois de duas décadas de carreira, o músico sentiu a necessidade de transbordar os limites do corpo e se transformar em som. Juntou tudo o que construiu durante a vida e usou como matéria-prima do álbum. Pegou o amor - pela vida, pela esposa, pela família -, pegou o humor - herança gaúcha de guaipequices - e o grito político, presente em sua vida desde o início e corda vocal essencial para continuar.
"Isso me descreve como pessoa. Eu achei que era o momento de falar sobre mim. Eu nunca havia falado sobre mim nos outros trabalhos, nunca usei a palavra amor em nenhuma música, nunca havia usado um discurso mais político nas canções."
O álbum é uma autobiografia, mas ilusória. Todo o exercício de se contar uma biografia é uma ilusão, pois a vida não se encaixa nos trilhos contínuos da narrativa. "A vida não cabe na linearidade, segundo Bourdieu", explica. Mas se a vida é muito grande para a biografia, ela cabe perfeitamente na arte. Ela encontra na música o espaço pra voar livre nas notas, o caminho pra seguir sua jornada e a concretude pra se tornar eterna.
Além de ser a vida, o álbum é a voz que celebra a "vira-latinice do sul global": o ser latino, brasileiro e gaúcho. Condenando o vira-latismo, Leandro Maia enfrenta, através da arte, a ideia de que tudo que vem de fora é melhor. A obra abre espaço para o vira-latino, que descoloniza e desconstrói estereótipos. "Guaipeca é uma palavra essencialmente gaúcha. Um gaúcho sem patrão, sem cercado, nômade. É o legado ancestral, em vez do imaginário do gaúcho aprisionado dentro da bombacha do CTG", diz. "Infelizmente a tradição tem sido avessa à ancestralidade, que é guaipeca, e, sobretudo, negra e indígena."
Guaipeca: uma ilusão autobiográfica traz xote, calipso, blues, punk rock, milonga, uma mistura de estilos que evidenciam o que é o Brasil e o brasileiro. "Eu lido com cada gênero musical como uma lente que eu possa usar pra contar uma história", conta o artista, "mas no fundo é um cantautor contando a sua história." Para o lançamento do álbum, o cantor conta com uma campanha de financiamento do disco de vinil, recebendo doações através da plataforma Catarse. Sendo um disco tão importante e que carrega tanto de sua existência, Maia não gostaria de sumir nos circuitos digitais pelos quais se escuta música nos dias de hoje. "Eu não caibo nessa imaterialidade", explica. "Eu quero que esse trabalho ocupe espaço."
Nascido em Caxias do Sul, Leandro Maia morou em Bento Gonçalves e Porto Alegre. Caçula da família, aos 43 anos coleciona cinco Prêmios Açorianos de Música, além de outros troféus e premiações. Desde a infância a música foi muito presente e incentivada em sua vida.
"Minha primeira memória é musical, eu aprendi a cantar antes de aprender a falar", comenta. Estudou música na Ufrgs, fez mestrado em Letras pela mesma universidade e é Phd em Música pela Bath Spa University. Lançou seu primeiro álbum, Palavreio, em 2008, seguido de Mandinho (2012) e Suíte Maria Bonita e Outras Veredas (2014). Atualmente é professor do Centro de Artes da Universidade Federal de Pelotas.