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Theo Wiederspahn, o arquiteto que ajudou a desenhar Porto Alegre, ganha exposição no Paço Municipal
Exposição gratuita na Pinacoteca Aldo Locatelli traz desenhos e documentos de arquiteto alemão, que faleceu há 70 anos
Durante a primeira metade do século passado, o trabalho do arquiteto Theo Wiederspahn criou boa parte do que, hoje, consideramos fundamental em termos de paisagem urbana em Porto Alegre. Qualquer um que faça um passeio mais atento pelo Centro Histórico da Capital verá vários exemplos da importância do alemão, tanto em locais icônicos como o Margs, o Edifício Ely e a Casa de Cultura Mario Quintana quanto em edifícios menos cotados, mas igualmente impressionantes. Em celebração aos 250 anos de Porto Alegre, e homenageando o arquiteto no ano em que se completam 70 anos de seu falecimento, a Pinacoteca Aldo Locatelli da prefeitura de Porto Alegre (Praça Montevidéu, 10) recebe, até o dia 20 de janeiro de 2023, a exposição Arquiteto Theo Wiederspahn, trazendo desenhos originais de projetos do artista - muitos deles nunca apresentados em público até então.
A mostra, com curadoria da professora alemã Vera Grieneisen, é fruto de uma parceria entre o Consulado Geral da Alemanha, Instituto Goethe e a Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa. A visitação é gratuita, de segunda a sexta-feira, das 9h às 12h e das 13h30min às 17h. É possível solicitar visitas guiadas, para grupos de até 20 pessoas, pelo e-mail acervo@portoalegre.rs.gov.br ou pelo telefone (51) 3289-3643.
Quem visitar a exposição terá acesso a desenhos originais, um mapa trazendo a localização de projetos e obras, fotografias da época e atuais, além de cartas e documentos pessoais do arquiteto. O material é mantido pelo Delfos, espaço de documentação e memória cultural da Pucrs, e costuma estar disponível apenas para pesquisadores. "Muitos dos itens expostos são verdadeiros primores de desenho, é emocionante ver a capacidade dele e o processo de trabalho que ele seguia", afirma o coordenador do Centro de Artes da prefeitura, Paulo Amaral.
Nascido em 1878, na cidade alemã de Wiesbaden, Wiederspahn chegou a Porto Alegre em 1908, encontrando uma cidade em efervescência e com ambições de se consolidar como metrópole regional. Sua chegada coincidiu com uma mudança nas paisagens da Capital, que abandonava os ares açorianos originais em favor de uma arquitetura mais eclética, em sintonia com os grandes centros europeus. Em associação com o construtor Rudolph Ahrons, com quem trabalhou em seus primeiros anos na cidade, Theo Wiederspahn logo assumiu muitos dos projetos mais importantes daqueles tempos - espaços que hoje encantam como parte indispensável do patrimônio histórico de Porto Alegre.
"Uma coisa que se destaca (a partir do material da exposição) é como Wiederspahn trabalhava sempre a partir de variantes", acentua Vera Grieneisen. "Uma das obras dele é um armazém, entre a Júlio de Castilhos e a Voluntários da Pátria, que ainda existe. Quase ninguém sabe que é do Theo, além de alguns pesquisadores. Para essa fachada, há oito variantes em esboço na exposição, e apenas uma foi de fato construída. A exposição propõe um debate sobre essas imaginações, que muitas vezes levam anos a se concretizarem em um projeto."
O trajeto de Arquiteto Theo Wiederspahn ajuda a ilustrar as mudanças no estilo de projetar do construtor, desde as grandes obras realizadas em parceria com Ahrons até os trabalhos realizados por conta própria, que foram assumindo um estilo mais austero, influenciado pelo expressionismo. Dá para ter ideia também da rígida ética de trabalho do alemão - que, segundo familiares, tinha como hábito levantar às 5h da manhã e trabalhar até o começo da noite, quase sem pausas. Exímio desenhista, Theo elaborava cada detalhe de suas realizações: na Cervejaria Bopp, prédio que hoje abriga o Shopping Total, ele esquematizou pessoalmente os elementos escultóricos da fachada, incluindo o elefante que deixou a estrutura famosa. Um grau de comprometimento muito diferente do que se verifica nas obras da atualidade.
"O trabalho do arquiteto, hoje em dia, é muito mais focado em interiores e acabamentos, com o projeto estrutural ficando mais a cargo do engenheiro. Isso faria o Wiederspahn se revirar no túmulo", afirma a curadora. "Ele fazia todos os cálculos, desenhava cada viga de cada prédio, até a última calha, até a florzinha da decoração ao lado da janela. Tudo pensando e calculado várias vezes até chegar ao melhor resultado."
A carreira de Wiederspahn foi afetada pelas duas Guerras Mundiais, que geraram hostilidade e restrições à sua origem alemã, e o realizador enfrentou dificuldades de registro junto aos órgãos oficiais de arquitetura e urbanismo de então - circunstâncias que reduziram muito sua produção em Porto Alegre e o levaram a realizar obras no interior do Estado. Chegou a se afastar da arquitetura em mais de uma ocasião, dedicando-se a criar abelhas em seu sítio na Ponta Grossa, no Extremo Sul da Capital. Depois de décadas de quase esquecimento, a obra de Wiederspahn (vista por especialistas como de qualidade diferenciada, mesmo em comparação com o que se fazia na Europa de então) vem sendo redescoberta e recebendo valorização crescente - processo que a exposição no Paço Municipal certamente ajuda a consolidar.
"O trabalho do arquiteto, hoje em dia, é muito mais focado em interiores e acabamentos, com o projeto estrutural ficando mais a cargo do engenheiro. Isso faria o Wiederspahn se revirar no túmulo", afirma a curadora. "Ele fazia todos os cálculos, desenhava cada viga de cada prédio, até a última calha, até a florzinha da decoração ao lado da janela. Tudo pensando e calculado várias vezes até chegar ao melhor resultado."
A carreira de Wiederspahn foi afetada pelas duas Guerras Mundiais, que geraram hostilidade e restrições à sua origem alemã, e o realizador enfrentou dificuldades de registro junto aos órgãos oficiais de arquitetura e urbanismo de então - circunstâncias que reduziram muito sua produção em Porto Alegre e o levaram a realizar obras no interior do Estado. Chegou a se afastar da arquitetura em mais de uma ocasião, dedicando-se a criar abelhas em seu sítio na Ponta Grossa, no Extremo Sul da Capital. Depois de décadas de quase esquecimento, a obra de Wiederspahn (vista por especialistas como de qualidade diferenciada, mesmo em comparação com o que se fazia na Europa de então) vem sendo redescoberta e recebendo valorização crescente - processo que a exposição no Paço Municipal certamente ajuda a consolidar.