O Rap nacional teve seus primeiros registros no País na década de 1980, vindo diretamente da periferia, sem muita visibilidade e constantemente sendo marginalizado. O estilo musical, que carrega consigo fundamentos da cultura Hip-hop vem ocupando pela primeira vez lugares de destaque. Assim, o Rap passou a atingir um grande número de pessoas e diversos lugares que antes não era tão comum ter a sua presença. Além disso, muitas das trajetórias de vários grandes rappers e MCs da atualidade começaram de um mesmo lugar, na rua, mais especificamente nas batalhas de rima.
O Duelo Nacional de MCs, principal batalha de freestyle do País, acontece em Belo Horizonte, no Viaduto Santa Tereza. A competição, que foi criada em 2007, reúne os melhores MCs de rima de cada estado. Para os representantes serem escolhidos, eles passam por um processo de seleção, que conta com um júri e também a preferência do público que está assistindo a batalha. O Duelo está na sua 10° edição, e nesse ano o representante do Rio Grande do Sul é o MC Dubaile, podendo ser o primeiro gaúcho a vencer a disputa. Além do título, o MC vencedor, ganhará um prêmio em dinheiro de R$ 20 mil e o contrato com uma gravadora.
Dubaile tem 20 anos e é o morador de Viamão. O artista começou a sua relação com o Rap aos 14 anos, brincando com o seu irmão Xamuel fazendo rima. “Antes disso eu era revoltado, um ‘caso perdido’, foi o Hip-Hop que me salvou de fato”, relembra o artista. Ele e seu irmão atualmente participam com frequência em batalhas de rima, no entanto em sua primeira vez em uma roda, foi dona Cristiane, mãe dos meninos, que o levou. Seu pai, Ricardo, é também uma de suas grandes inspirações, além de ser seu empresário. “Minha família é incrível, tudo que eu preciso de fato. Eles apoiam e acreditam demais, se eles tiverem que largar tudo para seguirem junto com nós, eles fariam”, destaca Dubaile.
O MC tem como sua principal referência na rima seu irmão e o MC Orochi que foi campeão do Duelo Nacional em 2015, além de grandes nomes do rap como Mano Brown dos Racionais. Dubaile afirma que está recebendo um grande apoio dos outros MC’s, e que se vê confiante e capacitado para representar o RS. “Eu estou sempre viajando e os ‘caras’ tem muito a visão de que não tem preto ou rap no Sul. Antes eu ficava muito incomodado, mas hoje sei lidar com isso” afirma o gaúcho.
Mariana Marmontel é a responsável pelo processo de seleção aqui do Estado para o duelo nacional. Mariana é envolvida no movimento hip-hop desde 2014, frequentando as rodas de batalhas. “Acho que não só o rap e o hip-hop, mas como toda a arte aqui no RS, é desvalorizada. Isso só aumenta quando se fala de culturas que vem de origens pretas e periféricas. E o rap vem dos guetos, então isso se potencializa”, destaca Mariana. “O meu maior sonho é trazer visibilidade para cá, que os nossos artistas não precisem sair do Rio Grande do Sul para receber visibilidade, que nós sejamos vistos como sendo pessoas e artistas do RS”, acrescenta.
O Hip-Hop no Rio Grande do Sul está construindo grandes projetos que fomentam a cultura, como o
Museu de Cultura Hip-Hop que terá atividades artísticas e inaugurará ainda esse ano. Além disso, o Rap in Cena World, que acontecerá em outubro, espera ser o maior evento de rap do Brasil.
Depois de vencer a final contra o Mc Vargas, Dubaile fez o tradicional "freestyle do campeão". "Para eu poder chegar e rimar, tem preto no sul, e vamos representar. Independente esse aqui é o trilho, um abraço pros meus 'coroas' e mil beijos pro meu filho.", rimou o Mc emocionado.